Prólogo

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Eles andaram em silêncio por algum tempo.

Apenas caminhavam pelo jardim, em meio à arbustos de roseiras bem podados ou flores solitárias.

Ele, com os dedos das mãos entrelaçados atrás das costas e de cabeça baixa. E ela, com o braço direito urdido ao dele, que formava um arco triangular de cada lado do corpo ao unir as mãos; e o braço esquerdo caído, fazendo sua mão descansar sobre as pregas do vestido de seda vermelho e rodado que acabava sobre seus joelhos.

Eles estavam tão perto um do outro que ela podia sentir o calor do seu corpo.

— Você lembra quando nos conhecemos? — ele perguntou, enfim.

— Sim. — Ela parou um instante e mordeu os lábios, se lembrando. — Bons tempos...

— É. Não discutíamos sem motivo.

Mas pense pelo meu lado — disse ela, levantando o tom de sua voz, então deu um longo passo à frente e se virou para ele —, eu te vejo uma vez a cada três meses, e quando nos vemos você não quer aproveitar o tempo comigo! — Ela engoliu em seco, olhando para seus pés. — Não sei que milagre você estar aqui hoje...

— Estou aqui porque...

— Agora quem vai falar sou eu! Ainda não terminei — interrompeu a garota, levantando uma das mãos, então deu mais um passo, ficando a centímetros de distância dele, e levantou o rosto para o encarar. — Ou será que não quer me ver porque já tem outra? — Ela levantou uma sobrancelha e o encarou como um gato encara sua presa durante a morte do pobre animal entre suas garras, desafiando-o a escapar.

Ele apenas a segurou pelos ombros delicadamente.

— Me escute. Estou aqui porque meu pai me enviou para tratar de assuntos de interesse em comum entre ele e seu pai, mas voltarei amanhã de manhã. Certamente quando acordar, já vou estar em um avião de retorno. — Ele engoliu em seco. — Mas antes de ir, preciso conversar com você.

— Sobre...? — interrompeu ela outra vez.

Ele ignorou sua pergunta e caminhou até onde havia uma grande roseira de belas flores, com pétalas tão delicadas e finas como o papel. Então levantou a mão e acariciou as pétalas de uma rosa vermelha, até chegar onde seus dedos macios encontraram um espinho.

O homem gemeu, então virou a mão para olhar o ferimento.

Seu dedo indicador estava sangrando, mas não havia furado muito. De longe, não era possível ver o sangue e nem o pequeno corte que o espinho fizera.

— O que foi? — ela perguntou.

— Nada — respondeu ele, colocando a mão suja atrás das costas para esconder o sangue que ela ainda não havia percebido.

Ao longe, o céu escurecia ainda mais. Ele sabia que a neve logo viria, o que poderia atrapalhar seu voo de volta para casa. Onde tudo seria do mesmo modo. Cumprir ordens do seu pai, ir a reuniões parlamentares e viver uma vida pacata e sem graça, estudando.

Ele levou a mão até a rosa novamente e a arrancou.

A jovem mulher achou que ele entregaria a flor a ela e então, ela faria um discurso ou algo parecido para agradecer o presente.

Mas não.

Ele apenas segurou a rosa vermelha entre o indicador ensanguentado e o polegar, e a observou por um longo momento em silêncio. Ela também olhou a flor por um tempo, mas logo se dispersou com a lua no céu escuro, acompanhada pelas tímidas estrelas que relutavam em surgir completamente, mas não ousou dizer coisa alguma.

Novamente os dois estavam lá. Um, olhando para uma rosa vermelha de pétalas suaves, molhadas por pequenas gotas de orvalho, e o outro, para o céu escuro enquanto uma nuvem espessa cobria parcialmente o brilho da lua, transformando-a em algo sem foco.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora