Capítulo 15

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O comportamento de Anne estava mais leve. Não parecia a mesma garota que havia chegado, revolta por uma névoa soturna que era refletida em seus olhos. Nosso diálogo durante o café da manhã, no dia seguinte à nossa conversa, havia sido tranquilo e então, ela foi para seu colégio e eu me dirigi para a Universidade.

Antes das aulas se iniciarem, quando eu estava sentada em uma mesa do refeitório com Zoe e Jason, a garota com aparência asiática pareceu adivinhar que Anne não saía da minha cabeça.

— Você se acertou com a Anne? — ela perguntou.

Assenti.

— Depois de ontem à noite, as coisas melhoraram bastante.

— Quem é Anne? — Jason perguntou, totalmente alheio a situação na qual eu me encontrava.

— Uma adolescente que está com a Clara — Zoe respondeu, enquanto cutucava a cutícula de uma das unhas.

— Por quê?

— Ela é órfã e precisava de um lugar para ficar enquanto o orfanato está em reformas.

— Você a conhece, Zoe? — ele questionou voltando-se para ela, que apenas assentiu sem desviar a atenção do que fazia. — Então quero conhecê-la também. Que tal irmos à uma pizzaria sábado à tarde?

— Pode ser à noite? — falei. — Fica melhor para mim.

Os dois concordaram e então, sem mais o que dizer, optamos em nos silenciarmos.

— Como está o Philip? — A pergunta repentina de Jason me pegou de surpresa.

Me encolhi um pouco no banco, ao me lembrar de como nossa última conversa havia acabado.

— Eu não sei — respondi. — Nós brigamos quando falei para ele sobre Anne.

— E qual o motivo? — Zoe indagou. — Eu não entendo como isso pode afetá-lo se nem aqui ele está.

Respirei fundo, balançando a cabeça.

— Ele é assim. Às vezes nem eu mesma o entendo direito...

— Nem conheço esse sujeito e já não vou com a cara dele — ela murmurou mais para si mesma do que para que eu ouvisse.

— Finalmente alguém que me entende! — Jason exclamou, agarrando-a pelos ombros e puxando-a para debaixo do seu braço. — Estamos juntos nessa, parceira!

Por mais que o assunto se tratasse de algo que não deveria me agradar, foi inevitável conter o sorriso com a cena.

E o dia passou rápido, mais do que eu esperava. Depois da Universidade, voltei para casa, almocei com Anne e fui trabalhar. Após horas de serviço limpando mesas, servindo clientes, entregando cardápios e buscando louças sujas, eu voltei da lanchonete, mas ela ainda não havia voltado do haras.

Deixei minha mochila em cima da cama e tomei um banho rápido. Estava na cozinha, preparando o jantar, quando a porta da entrada se abriu e eu levei alguns segundos para me lembrar que se tratava de Anne. Ainda não havia me acostumado que ela também tinha uma chave do apartamento.

— Você me assustou — falei.

— Desculpe.

— Vá tomar banho. — A olhei por cima dos ombros. — O jantar está quase pronto.

Sem responder, Anne adentrou o quarto e voltou pouco antes da janta estar finalizada. Jantamos praticamente em silêncio, exceto pelo som da televisão ligada na sala e algum comentário feito por uma de nós.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora