Capítulo 24

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Rapidamente o elevador se abriu e nos encontrávamos no único andar subterrâneo do apartamento residencial. Deixei que me guiasse, pois não sabia qual era seu carro, e caminhamos rapidamente entre alguns veículos estacionados até chegarmos ao seu. Ele destrancou o carro e como não havia bancos traseiros, eu teria de levar Anne em meu colo.

Entrei no veículo e Henri a acomodou sobre minhas pernas, tomando cuidado para apoiá-la em meu ombro, já que eu não era tão grande quanto ele. Enquanto terminava de ajeitá-la, ele deu a volta correndo no carro e rapidamente nos retirou do estacionamento, sem se importar em furar sinais ou ultrapassar alguns limites de velocidade no caminho até o hospital, enquanto eu tentava em vão a acordar novamente.

— O que ela é sua? Prima? Irmã? — ele perguntou, me olhando de relance. — Filha acho pouco provável...

— Nada. Pelo ao menos nada disso que você disse. — Encarei o rosto frágil de Anne em meu colo. O corpo cada vez mais frio e os batimentos quase inexistentes. — Eu quero adotar Anne. Estou lutando por sua guarda.

Henri me encarou outra vez e quando seus olhos encontraram os meus, vi um turbilhão de pensamentos estampados em suas íris verdes, mas assim como chegaram, se foram, rápidos demais para eu conseguir decifrar algum deles. Então ele se virou novamente para a rua a frente, permanecendo em silêncio por algum tempo antes de perguntar:

— Então ela é a Anne que você disse à Jason na lanchonete que estaria te esperando em casa?

Foi a minha vez de levantar os olhos novamente e o encarar. Eu tive vontade de perguntar como ele ainda se lembrava daquilo, mas optei em apenas assentir e permanecer calada até chegarmos no mesmo hospital que havia ido mais cedo, atrás de Anne. Henri desceu do carro e pegou a garota dos meus braços, então corremos pela rampa do hospital em direção a recepção, de onde uma enfermeira assim que nos viu saiu de trás da bancada e veio ao nosso encontro.

Por mais que tenha sido um ato discreto e muito ligeiro, percebi que ao se aproximar ela encarou Henri com um olhar estranho, como se estivesse sem jeito, então só depois dele fazer um gesto com a cabeça apontando para Anne, a mulher teve coragem de a analisar.

— Uma maca para essa garota! — ela gritou, enfiando a cabeça entre as portas vai-e-vem de um corredor ao lado do balcão. — E máscara de oxigênio também! Ela não está respirando. Depressa!

Trinta segundos depois, dois enfermeiros vestidos com os mesmos jalecos brancos que o dela, atravessaram correndo as portas brancas enquanto empurravam uma maca. Henri colocou Anne em cima do fino colchãozinho e enquanto um terminava de ajeitar a máscara em seu rosto, o outro já começava a empurrá-la rapidamente, desaparecendo logo em seguida entre as portas duplas por onde haviam chegado.

— Como a garota se chama? — A enfermeira que havia ficado para trás perguntou, tomando sua prancheta em mãos. — O que vocês são dela? Sabem se ela possui histórico hospitalar aqui? Alguma coisa?

— Ela... ela se chama Anne — gaguejei. — Eu não sei seu sobrenome. Mas sei que tem quatorze anos e creio que esteve nesse hospital ontem mesmo. Fez um hemograma completo, mas foi liberada.

Ela anotou tudo em sua prancheta e me encarou.

— E você como se chama?

— Clara. Clara Hooper.

A mulher anotou meu nome em um canto da ficha em sua prancheta.

— E o que você é dela, senhorita Hooper? Qual seu grau de parentesco?

— Não sou parente de Anne, ela é órfã. Estamos no processo de adoção. Depois eu te respondo tudo o que quiser, senhorita, mas por favor salvem-na primeiro!

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora