Epílogo

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Eles se encararam.

Por segundos, minutos... O tempo havia perdido o sentido para ambos.

As outras duas figuras que estavam com ela, desapareceram pelo corredor. Silenciosas como a brisa suave daquele dia ensolarado que, de repente, se tornara cinzento aos olhos daqueles dois.

Nem por um segundo, seus olhos se desencontraram. Eram fixos uns nos outros sem ameaçarem vacilar. E quando ele avançou um passo, ela lentamente se levantou de onde estava. Sem piscar, sem desviar a atenção dele. Ela sabia, sabia de tudo.

E ele tinha consciência disso.

Tinha, pois via em seus olhos. Via naqueles olhos castanhos o mesmo que vira meses antes, na primeira vez em que se encontraram: ausência. Não havia nada ali.

E aquilo o destruiu.

Ele havia feito aquilo.

Tinha estragado tudo e sabia disso. Desde o dia em que resolvera privá-la ele sabia que aquilo poderia acontecer, então, quando finalmente tomara coragem... Já era tarde demais.

Ela havia descoberto sozinha.

Descoberto aquele pomposo e maldito título que o perseguira desde antes mesmo de nascer. Que o obrigara a ter um único futuro, predestinado desde o nascimento. Sem direitos de escolha.

— Me perdoe — sussurrou, quase inaudível pela garganta cerrada.

Ela não se moveu. Nem sequer um resquício daquela alegria permanecera em seus olhos, o sorriso que o fazia levitar tinha desaparecido completamente. Ela estava inerte, adormecida enquanto permanecia de olhos abertos.

Ele precisava que o brilho voltasse àqueles olhos, precisava acordá-la, fazê-la sentir... precisava desesperadamente porque era mais fácil lidar com sua repulsa e o resultado de tudo o que fizera a ver aquele silêncio. Aquele vazio nos olhos dela era infinitamente pior, então ele precisava, precisava... Mas quando se aproximou mais um passo e ameaçou segurar sua mão, ela recuou.

Tão rapidamente que suas pernas congelaram. Era ele quem havia causado aquilo.

E o gosto amargo do arrependimento tomou sua boca enquanto ela levantava uma mão para impedi-lo.

— Não toque em mim — sussurrou.

As mesmas palavras que ele a vira dizer a outro homem, menos de um dia antes, e que agora eram pronunciadas para si.

Estava assustado demais para fazer alguma coisa enquanto a observava retirar do pescoço o medalhão de prata que continha a estrela entalhada no pingente e o estender a ele.

— Isso pertence a você.

Tudo fechado.

Tudo estava fechado em seus olhos enquanto a joia balançava no ar em círculos, pendida de sua mão fechada em punho. Ele tentou avançar contra aquela fortaleza erguida, mas encontrou apenas uma névoa fria que o obrigou a recuar e aceitar o medalhão ainda estendido.

Sem desviar os olhos dos dela, no entanto. A herança de família era muito pouco perto do que ele estava perdendo naquele exato momento.

— Me perdoe, por favor.

Ela o encarou, fixando seus olhos nas íris verdes dele, que pareciam mais do que nunca com o furacão inquieto e impiedoso que ela vira durante todo aquele tempo, mas mesmo assim nunca teve medo e o deixara se aproximar... o suficiente para ser capaz de machucá-la.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora