Capítulo 8

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Acordei bem melhor que no dia anterior. Aparentemente, meu chá devia ter feito algum efeito. Me arrumei e, após passar na cafeteria, me pus a caminho da Universidade. Passei pela porta da frente e cumprimentei o guarda, que me respondeu com um aceno de cabeça. Caminhei diretamente para a biblioteca e encontrei Zoe sentada em uma poltrona almofadada, passando distraidamente páginas de um livro.

— Bom dia — cumprimentei.

Ela levantou os olhos do livro e me encarou.

— Bom dia. Monique quer falar com você.

— Sabe o motivo?

Ela negou com a cabeça.

Sem dizer mais nada, dei meia volta e me direcionei até o terceiro andar. Bati na porta e o silêncio que recebi como resposta, entendi como um "pode entrar".

— Bom dia, senhora Álvarez — cumprimentei-a enquanto fechava a porta atrás de mim. — Queria falar comigo?

— Bom dia. Quero conversar com você sobre o apagão de ontem à noite — respondeu Monique, levantando os olhos dos papéis que tinha em mão. — Quando houve o apagão, nós vistoriamos o monitor da caixa de comando, e descobrimos que ela estava desligada. Eu conversei com o seu professor daquele turno e ele me disse que no exato momento do apagão, você estava ausente da sala. — Assenti, colocando minhas mãos atrás do corpo. — Então consultei as câmeras de segurança e percebi que você estava no mesmo corredor que a caixa de comando do prédio.

— Você estava no devido corredor, no exato instante que o apagão foi provocado, Clara. — Ela bateu levemente a pilha de papéis sobre a mesa para acertá-las e as colocou em um canto. — Não considera isso muita coincidência?

Eu demorei alguns segundos para entender o que ela havia acabado de insinuar.

— Com todo respeito, Monique, mas a senhora não tem como provar que eu causei o apagão ontem à noite, pelo simples fato de não ter sido eu — afirmei. — Eu nem sabia da existência daquela caixa de comando!

— Sinto muito, senhorita Hooper, mas sem provas, sem acordo. Você era a única pessoa presente no local, no exato momento da queda de energia. As regras dessa instituição foram criadas para serem obedecidas, promovendo ordem e respeito nesse ambiente, e com todas as pistas apontando para você, eu não posso fazer nada para te ajudar, a não ser que tenha algo a seu favor.

Então, mais uma vez a imagem daquele vulto caminhando pelo corredor e desaparecendo nas sombras ganhou espaço em minha mente, me fazendo reviver aquele momento.

— Eu... eu vi. Tinha alguém mais lá. Eu juro! Ele estava lá e então, antes que eu pudesse ir atrás, ele desapareceu na escuridão.

— Você sabe quem era? — ela perguntou.

Neguei com a cabeça.

— Tem alguma prova de que ele realmente estava lá? Porque nós analisamos as câmeras de segurança daquele corredor e posso te garantir que até o exato momento em que o apagão ocorreu, apenas você havia sido flagrada no local. — Monique entrelaçou os dedos da mão sobre a mesa. — Você tem alguma evidência, Clara?

Contraí o maxilar, sem desviar os olhos de Monique.

A pessoa... ela sabia das câmeras e de como trabalhavam. Cada rotação e a velocidade de seu giro de setenta e cinco graus. Ele, sem dúvida alguma, havia calculado cada detalhe da cena ou havia tido muito tempo para conhecer o ambiente.

— Não — murmurei.

— Você está livre para buscar uma explicação e vir apresentá-la a mim, mas enquanto isso não acontece — ela disse, e então abriu uma gaveta, de onde retirou um bloco de papéis que colocou sobre a mesa. Voltou a fechar a gaveta e se concentrou nas folhas a sua frente —, você vai ficar ausente da Universidade. — Monique escreveu algumas coisas na primeira folha, assinou e, após retirá-la do bloco, a entregou a mim. — Se conseguir ter alguma prova para me mostrar o contrário, me procure. Caso contrário, sua suspensão vale por vinte e quatro horas, ou seja, amanhã de manhã você já deve voltar.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora