O celular tocou. Coloquei a xícara de café na mesinha do lado da cama e agarrei o aparelho que continuava a vibrar.
Fazia exatamente quatorze dias que meu pai havia sido enterrado e quinze que ele tinha partido. Na mesma tarde do dia em que fora enterrado nós voltamos para a fazenda da minha família e, depois disso não havia visto nenhum rosto a não ser da minha tia, da minha mãe e de Max.
— Alteza? — falei, após atender a ligação.
— Clara!
— Desculpe-me, Alteza, mas por que está ligando tão cedo? A uma hora dessas a senhorita costuma estar dormindo. Está tudo bem?
— Novidades! As novidades fizeram meu dia começar mais cedo hoje, Clara! E não se preocupe, estou mais do que bem.
Sorri.
— E poderia eu saber qual o motivo de tamanha euforia?
Um instante de silêncio separou minha pergunta da resposta dela.
— Durante o período que me pediu para passar com sua família, após a... após tudo o que aconteceu com vocês, Clara, os resultados da prova da URF chegaram!
Peguei a xícara de café que continuava na mesinha e tomei mais um gole.
— A senhorita não está concorrendo a uma bolsa, está?
Do outro lado da linha, ela riu.
— Não, não estou, Clara. Mas estou com todos os resultados do país em minhas mãos nesse exato momento.
— Mas os resultados não são enviados diretamente da universidade na França para os endereços dos concorrentes?
— Sim. Mas eu sabia que você havia feito a prova e pedi para mandarem as cartas para o Palácio, pois como você não está em casa e já que as aulas começam em breve, poderia perder a oportunidade. Não se preocupe pois, após retirar a sua, já mandei que enviassem as outras cartas para seus devidos destinatários.
— Deixe-me ver se entendi... a Alteza, fez tudo isso para saber se eu havia conseguido uma bolsa?
— Sim!
Caminhei até a porta da sacada do quarto e quando a abri, o vento frio me pegou desprevenida, fazendo meus cabelos voarem para trás com violência.
— Só um minuto — falei, enquanto procurava por um casaco. Encontrei um sobre a velha poltrona de couro que tinha desde os sete anos e o vesti rapidamente, retornando ao telefone. — Pois bem. E...?
— Você sabe que quero fazer a faculdade de artes. — Assenti, embora soubesse que ela não veria. — E que começaria esse ano, então você ficaria desempregada...
— Por favor, Alteza — interrompi. — Desculpe, mas... mas poderia deixar de lado os rodeios e ir direto ao ponto? Eu passei ou não?
O silêncio dela apenas aumentava minha inquietação.
— Sim! — ela exclamou. — Você conseguiu!
— Tem certeza disso? Eu... eu...
— Claro! Você conhece outra pessoa que se chame Clara Rachel Watson Hooper? Com todas as letras e o mesmo endereço?
— Não. Mas...
— Não tem "mas", Clara, você conseguiu! Você sempre quis entrar nessa universidade, essa é sua chance. Não deixe que os meses de estudo que você teve para fazer essa prova sejam em vão!
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Do Outro Lado do Atlântico
ChickLitEm uma realidade futura onde a maior parte do mundo voltou para o Regime Monárquico, e príncipes e princesas estão por toda parte, Clara Rachel, a dama de companhia da princesa canadense, é uma jovem determinada que sonha em terminar sua tão querida...