Capítulo 18

72 22 59
                                    

Quase três semanas haviam se passado e era quinta-feira, dois dias antes do feriado de Páscoa. Nesses dias, algumas coisas tinham mudado: eu fiz as pazes com Philip novamente e tirei mais tempo para ele, minha mãe e meu irmão nos fins de semana e consegui conversar até com Mia em um domingo, mas como ela não demonstrou estar muito interessada em uma possível reaproximação entre nós, não passou de uma ligação. E depois daquela noite de domingo, ao contrário do que eu esperava e temia ao mesmo tempo, eu e Anne não nos distanciamos. Eu a visitava sempre que podia no orfanato e suas visitas para mim se tornaram frequentes, além de sempre a encontrar no haras.

Ainda me lembro bem da sensação que senti naquela noite, quando Anne disse que aceitava a minha proposta. No dia seguinte, no meu horário de almoço eu voltei no orfanato e conversei com a senhora Carly sobre a adoção dela. A mulher inicialmente nem estava acreditando que eu falava sério, mas depois que reafirmei a situação acho que ela entendeu que não estava brincando e me deu a devida atenção.

Com certa dificuldade, eu consegui provar tudo o que eles precisavam saber para liberar a guarda de Anne. Mas para de fato ter sucesso na adoção, eu ainda teria de esperar meu caso ser estudado por um juiz pois para tudo realmente se concretizar era preciso que fosse aprovado por um tribunal. Eu consegui finalizar a parte inicial do processo e estava aguardando sair o resultado final.

Conforme o calendário cristão era Quinta-feira Santa, mas como na França só era feriado na segunda depois da páscoa, então para viajar ao Canadá eu teria que perder as aulas de pelo ao menos um dia, quebrando a promessa que tinha feito à minha mãe. Minha passagem já estava comprada e a viagem garantida, meu voo saía na tarde do dia seguinte.

Eu também não poderia fazer meu turno completo na lanchonete, pois teria que sair as treze horas, então conversei com Tony com antecedência e naquele dia faria hora extra chegando as onze e saindo só as sete.

Mesmo não sendo muito o tempo em que ficaria no Canadá, eu conseguia sentir o coração acelerar cada vez que me imaginava vendo todos eles novamente. A saudade havia se tornado uma companheira diária e saber que me livraria dela em menos de quarenta e oito horas me trazia um alívio inexplicável.

As passagens tanto de ida quanto de volta já tinham sido compradas, mas parceladas no cartão de crédito com prazo a perder de vista.

Meu voo de ida seria as dezessete horas do dia seguinte e a estimativa de chegar em Vancouver era às vinte horas no horário local. No entanto, por mais que parecesse, a viagem não seria de apenas três horas. O trajeto entre essas duas cidades durava em média doze horas, mas como havia uma diferença de nove horas no fuso horário entre aquela região da França e a região do Canadá em que eu morava, era como se a viagem fosse durar apenas isso. Entretanto, para a viagem de volta, as coisas não funcionavam bem assim e minha saída de lá seria no domingo, também as dezessete horas, mas o avião só pousaria na França novamente ao meio-dia da segunda-feira. Tudo isso pelo simples fato de que se na ida seriam subtraídas nove horas do horário de viagem, elas seriam adicionadas na volta.

Esfreguei os olhos, despertando-me de todos aqueles cálculos provenientes da ansiedade e do desejo de que aquele dia passasse logo, atravessei os portões da Universidade e alcancei minha sala a tempo de aproveitar cinco preciosos minutos, antes do meu sono desaparecer completamente quando Jason e Zoe me encontraram.

— Bom dia! — os dois exclamaram, se aproximando.

— Bom dia — murmurei. — Onde vocês vão passar o feriado de páscoa?

— Eu vou para a casa dos meus pais em Bordeaux — Zoe respondeu.

— E eu vou com ela — Jason completou, colocando o braço sobre seus ombros.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora