Capítulo 1

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Abracei minha mãe apertado. Ela chorava descontroladamente e eu não sabia o que dizer para acalmá-la. A responsabilidade de cuidar dela era minha, mas eu não estava conseguindo a exercer devidamente. Meu irmão ainda estava em estado de choque e eu não podia contar com sua ajuda.

Perder meu pai não foi fácil.

Era difícil para mim, mas tenho certeza que era mais ainda para eles. Os dois conviviam com ele todos os dias enquanto eu já tinha três anos que havia saído de casa e morava em uma casa que dividia com Mia, uma amiga. Saí de casa aos dezoito anos para trabalhar e iniciar a faculdade.

— As coisas vão melhorar — sussurrei para ela. Tomara, completei mentalmente.

Mas minha mãe apenas me abraçou mais forte. Soluços escapavam de dentro dela. Até então, estava conseguindo manter o controle e não desabar em lágrimas, mas vendo ela naquela situação e tendo consciência do que tinha acontecido era muito difícil.

Levantei os olhos para ver Max que estava sentado em um banco de cimento frio, num canto do salão. Ele parecia invisível para os outros, que passavam por ele mas fingiam não o ver. Usava um terno preto simples acompanhado de uma camisa branca de algodão, uma gravata vermelha e sapatos sociais, mas o cabelo negro continuava bagunçado. Os olhos tristes e vermelhos. Era a primeira vez que eu o via vestido formalmente, mas se soubesse que seria em tal ocasião preferiria nunca ter desejado vê-lo assim.

Guiei minha mãe até o banco em que ele estava e gesticulei para que ela se sentasse. Os dois me encararam com os olhos cheios de lágrimas.

Me abaixei de frente para eles e sentei-me sobre os calcanhares, deixando uma mão descansar sobre as pernas de minha mãe e a outra sobre os joelhos do meu irmão.

— Ei, onde está o Max que eu conheço? — Tentei animá-lo, olhando diretamente em seus olhos.

Ele forçou um sorriso, me encarando.

— Foi embora junto com meu pai. — O escutei murmurar depois de abaixar a cabeça novamente.

— E a senhora? — disse para minha mãe. — Infelizmente isso acontece com todos. — Alisei seu longo vestido preto de tecido barato. — A todo o tempo e em todo o mundo... e nós sabíamos disso. Sei que não é um dos melhores dias para nós, mas temos que suportar, não podemos parar as nossas vidas porque ele... — Não consegui terminar a frase. Uma lágrima escorreu pela minha bochecha e caiu no jeans da calça, que logo a absorveu, escondendo os sinais do meu sofrimento.

Então uma mão parou sobre meu ombro direito e eu voltei os olhos para atrás de mim.

Princesa Edith.

— Oi — disse ela.

— Oi.

— Fiquei sabendo o que tinha acontecido e vim ver como estão. — Ela abaixou-se e sussurrou em meu ouvido: — Só quero que saiba, que você tem o tempo que precisar. Não precisa voltar a trabalhar amanhã. — Edith olhou minha mãe e meu irmão enquanto respirava fundo. — Cuide deles. Precisam de você mais que eu nesse momento.

Assenti devagar.

No funeral do meu pai não havia muita gente. Apenas os parentes e amigos mais próximos, cerca de cinquenta pessoas; o que permitia que eu usasse apenas uma calça jeans gasta, um suéter preto e um antigo par de tênis.

A princesa se afastou devagar, com a cabeça baixa e os dedos das mãos entrelaçados atrás das costas. Ela usava um vestido de cetim preto, com alguns bordados de flores feitos à mão no dorso e a saia rodada, que acabava pouco acima dos joelhos. Edith então se aproximou do corpo do meu pai, passou a mão direita pelas bordas do caixão de madeira, com o olhar acompanhando cada movimento, então, por fim deixou suas mãos descansarem uma ao lado da outra na frente do seu corpo e murmurou alguma coisa que não consegui entender.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora