Capítulo 3

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Coloquei um suéter preto, duas calças jeans e um sobretudo bege de botões na mala de viagens, para terminar de enchê-la.

Na noite anterior, depois de ligar para a princesa, eu havia conversado com minha mãe durante pelo ao menos uma hora e meia, tentando explicar que se eu voltasse para o Palácio naquele dia, minha ida para a França seria facilitada. Eu também conversei com Philip, ele foi mais compreensível que minha mãe, entretanto, disse que estaria muito ocupado e não poderia se despedir de mim pessoalmente, mas me desejou uma boa viagem.

E então eu estava ali, colocando na mala um retrato com a foto de toda minha família, principalmente para me lembrar do meu pai, e outro com uma foto minha e de Max, tirada mais ou menos um ano antes, depois de um banho de mangueira no quintal da fazenda. Ele mantinha um sorriso radiante no rosto enquanto a água que escorria de nossos corpos molhados formava uma poça aos nossos pés.

Respirei fundo, encarando a mala fechada sobre a cama, então desci as escadas e me juntei a meu irmão e tia Jane para tomar o café da manhã.

— Já arrumou as malas? — perguntou ela.

— Acabei de terminar — respondi, enquanto enchia minha xícara com café. — Onde está mamãe, tia?

— Você sabe que a Sophie está muito abalada com a morte do seu pai — respondeu simplesmente, enquanto passava doce em uma torrada. — E essa história de você ir para a França, tão repentina, a pegou desprevenida. Sua mãe te apoia a ir estudar, mas ela não estava contando com isso. Pelo ao menos não agora.

Permaneci com os olhos em minha tia enquanto absorvia suas palavras e o gosto amargo do arrependimento tomou conta da minha boca.

Ela era minha mãe. Eu deveria ter pensado nela. Pensado que mesmo me apoiando e esperando meu crescimento, ela poderia sofrer com minha partida...

— Onde ela está?

— No vinhedo — Max respondeu, fechando a geladeira com uma mão e segurando uma garrafa de leite com a outra.

Sem dizer mais nada, me levantei da mesa, passei pela porta da frente e desci os três degraus que separavam a varanda da casa do gramado no quintal.

— Mãe? — chamei, enquanto corria até o início da plantação que rodeava toda a nossa casa e se estendia muito além de onde eu conseguia ver.

— Sim? — ela respondeu, saindo de trás de uma videira.

Meu olhar encontrou com o dela e eu me senti uma garotinha que acabara de entrar na escola novamente. Eu poderia ficar olhando minha mãe por horas sem me cansar. Tinha medo de perdê-la como havia acontecido com meu pai, que a menos de um mês antes, trazia felicidade à minha família e, naquele instante, estava a sete palmos a baixo da superfície da terra.

Eu o havia perdido.

Havia o perdido porque a vida é um sopro e, antes de percebermos, ela já passou.

Nunca sabemos quando será o último abraço, o último beijo ou o último aperto de mão... Tudo o que podemos ter certeza é que um dia tudo irá se acabar. Então o que nos resta é dar valor ao que temos agora, nesse instante, porque daqui dois minutos... já se pode ter acabado.

Encarei minha mãe que me analisava preocupada. Minha mãe. Minha...

Então sem lhe explicar nada, corri até ela e a abracei o mais forte que consegui.

— Eu te amo — murmurei.

— Eu também te amo, meu amor. — Ela deu um beijo em meus cabelos enquanto afagava minhas costas.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora