— Então vamos ou não fazer esse piquenique?! — exclamei, me afastando novamente de Anne.
— Primeiro temos que ver se a senhora Carly vai permitir, porque... — Ela olhou para a porta que eu havia passado e simplesmente emudeceu. — Hum... príncipe... príncipe Jason? — ela murmurou e em seguida fez a melhor reverência que sua surpresa lhe permitiu realizar.
Me virei para trás, o encontrando escorado no batente da porta com os braços cruzados sobre o peito.
— Jason? Não sabia que tinha vindo atrás de mim.
— Vim checar se estava tudo bem — respondeu ele, se virando para Anne com sorriso. — E por favor, só Jason e sem reverências. Afinal, estamos em Arcachon, não é mesmo?
— Tentarei me lembrar — disse ela com um sorriso, antes de agarrar minha mão e me puxar cozinha a fora. — Vem, Clara, vamos falar com a senhora Carly.
Subimos as escadas, alcançamos o corredor direito e seguimos entre as paredes beges, manchadas pela idade e decoradas com alguns quadros estranhos e velharias penduradas nas paredes, então finalmente entramos na porta no final do corredor estreito.
— Boa tarde, senhora Carly! — exclamou Anne. — Eu posso sair para fazer o piquenique de Páscoa com a Clara?
Acenei para a senhorinha, sem jeito.
Ela encarou o reloginho antigo no canto da mesa e então levantou os olhos para mim, com a testa franzida.
— Já são duas e quinze da tarde, ainda acha que vale à pena?
— Acredito que sim. — Apertei um pouco mais a mão de Anne, que não havia se soltado. — Não consegui vir buscá-la antes porque meu voo demorou e só cheguei agora. Mas se puder me entender e a liberar, ficarei muito grata.
— Podem ir, o portão da saída está aberto. — Senhora Carly me encarou. — Mas quero ela aqui antes das oito da noite.
— Obrigada — respondi, com um aceno de cabeça em agradecimento. — Ela estará.
Saímos da sala, descemos as escadas e só encontramos Jason no carro, com Zoe já desperta ao seu lado, que tentava arrumar em vão os pequenos fios negros de cabelo que insistiam em arrebitar-se.
— O que acham de um piquenique na praça? — perguntei sem delongas, os fazendo me encarar desconfiados.
— Agora? — Jason retirou a cabeça na janela do carro para me encarar, enquanto eu assentia. — Eu não tenho nada planejado, então com certeza estou nessa!
— Eu também, só preciso passar em casa antes para ajeitar as comidas.
— Tudo bem, eu também estou precisando de um banho urgentemente — respondi com uma risada, dando a volta no carro com Anne ao meu lado.
Jason nos deixou no nosso condomínio — eu ainda não havia me adaptado muito bem a essa nova realidade — e disse que iria até um supermercado comprar algumas coisas também. Subimos até o apartamento, coloquei meu celular para carregar e logo consegui avisar minha mãe que já estava em casa.
Depois de um banho, pegamos uma cesta na despensa e a recheamos com alguns croissants, maçãs, bananas e uvas, além de sanduíches simples que fizemos com o que encontramos na geladeira. Admito que os pães eram de antes de termos ido para Bordeaux e não estavam mais tão macios assim, mas duvidei que algum dos três perceberiam.
O interfone tocou quando Anne terminava de ajeitar a cesta e Zoe pegava uma caixa de suco fechada na geladeira.
— Boa tarde — falei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Do Outro Lado do Atlântico
ChickLitEm uma realidade futura onde a maior parte do mundo voltou para o Regime Monárquico, e príncipes e princesas estão por toda parte, Clara Rachel, a dama de companhia da princesa canadense, é uma jovem determinada que sonha em terminar sua tão querida...