Capítulo 23

53 21 26
                                    

— Então vamos ou não fazer esse piquenique?! — exclamei, me afastando novamente de Anne.

— Primeiro temos que ver se a senhora Carly vai permitir, porque... — Ela olhou para a porta que eu havia passado e simplesmente emudeceu. — Hum... príncipe... príncipe Jason? — ela murmurou e em seguida fez a melhor reverência que sua surpresa lhe permitiu realizar.

Me virei para trás, o encontrando escorado no batente da porta com os braços cruzados sobre o peito.

— Jason? Não sabia que tinha vindo atrás de mim.

— Vim checar se estava tudo bem — respondeu ele, se virando para Anne com sorriso. — E por favor, só Jason e sem reverências. Afinal, estamos em Arcachon, não é mesmo?

— Tentarei me lembrar — disse ela com um sorriso, antes de agarrar minha mão e me puxar cozinha a fora. — Vem, Clara, vamos falar com a senhora Carly.

Subimos as escadas, alcançamos o corredor direito e seguimos entre as paredes beges, manchadas pela idade e decoradas com alguns quadros estranhos e velharias penduradas nas paredes, então finalmente entramos na porta no final do corredor estreito.

— Boa tarde, senhora Carly! — exclamou Anne. — Eu posso sair para fazer o piquenique de Páscoa com a Clara?

Acenei para a senhorinha, sem jeito.

Ela encarou o reloginho antigo no canto da mesa e então levantou os olhos para mim, com a testa franzida.

— Já são duas e quinze da tarde, ainda acha que vale à pena?

— Acredito que sim. — Apertei um pouco mais a mão de Anne, que não havia se soltado. — Não consegui vir buscá-la antes porque meu voo demorou e só cheguei agora. Mas se puder me entender e a liberar, ficarei muito grata.

— Podem ir, o portão da saída está aberto. — Senhora Carly me encarou. — Mas quero ela aqui antes das oito da noite.

— Obrigada — respondi, com um aceno de cabeça em agradecimento. — Ela estará.

Saímos da sala, descemos as escadas e só encontramos Jason no carro, com Zoe já desperta ao seu lado, que tentava arrumar em vão os pequenos fios negros de cabelo que insistiam em arrebitar-se.

— O que acham de um piquenique na praça? — perguntei sem delongas, os fazendo me encarar desconfiados.

— Agora? — Jason retirou a cabeça na janela do carro para me encarar, enquanto eu assentia. — Eu não tenho nada planejado, então com certeza estou nessa!

— Eu também, só preciso passar em casa antes para ajeitar as comidas.

— Tudo bem, eu também estou precisando de um banho urgentemente — respondi com uma risada, dando a volta no carro com Anne ao meu lado.

Jason nos deixou no nosso condomínio — eu ainda não havia me adaptado muito bem a essa nova realidade — e disse que iria até um supermercado comprar algumas coisas também. Subimos até o apartamento, coloquei meu celular para carregar e logo consegui avisar minha mãe que já estava em casa.

Depois de um banho, pegamos uma cesta na despensa e a recheamos com alguns croissants, maçãs, bananas e uvas, além de sanduíches simples que fizemos com o que encontramos na geladeira. Admito que os pães eram de antes de termos ido para Bordeaux e não estavam mais tão macios assim, mas duvidei que algum dos três perceberiam.

O interfone tocou quando Anne terminava de ajeitar a cesta e Zoe pegava uma caixa de suco fechada na geladeira.

— Boa tarde — falei.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora