Capítulo 28

65 19 58
                                    

— Se alguém da universidade perguntar, você apenas me encontrou e me deu uma carona. Apenas uma coincidência, está bem?

Embora estivesse olhando para o movimento na rua, percebi que Henri, por alguns segundos, desviou o olhar e me encarou de relance com um sorriso nos cantos dos lábios.

Eu não criei coragem o suficiente para perguntar onde iríamos e o resultado foi me questionar internamente, durante todo o percurso, onde estava me metendo. Então minutos depois, Henri parou em frente a um restaurante não muito grande, mas de aparência aconchegante e convidativa, desceu do carro, deu a volta e então abriu a porta para mim enquanto eu o encarava em silêncio, desconfiada.

— Eu ainda sei abrir uma porta, não se preocupe — disse, descendo do carro enquanto um sorriso brincava em meu rosto. — Mas obrigada.

Ele riu enquanto trancava o veículo, e me guiou até a entrada do restaurante. Nos sentamos em uma mesa no canto e eu observei a decoração do local com mesas de madeira polida, cadeiras charmosas e uma bela adega com inúmeras garrafas de bebidas em uma parede de tijolinhos vermelhos.

— Imagino que são importados — comentei e Henri acompanhou meu olhar para a adega perfeitamente organizada.

— Importados? — ele repetiu, me encarando com as sobrancelhas franzidas. — Nunca ouviu falar dos vinhedos de Bordeaux?

Antes que eu pudesse responder, um garçom se aproximou da nossa mesa e após encarar Henri por alguns segundos, imóvel, perguntou se já sabíamos o que iríamos querer.

— Dois coq's au vin por favor — Henri respondeu.

— E para beber?

— Hum... vocês por acaso têm importados da Casa Hooper Vinhos? — perguntei.

— Você quis dizer da House Hooper Wines? — o garçom questionou, repetindo o nome no idioma em que estava gravado nas embalagens. — Importados do Canadá? Província Colúmbia Britânica? Temos sim.

Sorri.

— Pois bem, queremos um vinho tinto suave.

— Anotado. — Ele terminou de marcar o pedido no tablet que mantinha nas mãos e levantou os olhos para nós outra vez e antes de se afastar, murmurou: — Um minuto e entregaremos o pedido.

— Por que esse vinho? — Henri perguntou, curioso.

Desviei os olhos do jovem que ainda se afastava e o encarei.

— Você decidiu o que vamos comer, então achei que tinha o direito de escolher uma das especialidades da minha família para acompanhar — respondi com um sorriso, enquanto soltava um estalo com a língua. — E a propósito, eles têm vinhos importados naquela adega.

Henri sorriu, mostrando os dentes perfeitamente alinhados e brancos. As vezes ele conseguia ser sociável, mas sua bipolaridade costumava dificultar as coisas.

— Eu sei que parece uma opção muito mais atraente, mas não viemos aqui para discutir sobre vinhos, Henri — falei, fazendo seu sorriso desaparecer completamente em um segundo. — Você disse que queria saber sobre Anne... ela está com Leucemia Mieloide Aguda. A doença está a um triz de alcançar o estágio avançado e eu... estou com medo — prossegui, as palavras quase me fazendo engasgar enquanto abaixava os olhos para o meu colo. — A quimio não está resolvendo e nossa única esperança é o transplante, mas você já sabia disso então não entendo o porquê de ainda querer conversar.

Levantei os olhos para Henri e aguardei enquanto ele permanecia em silêncio, me analisando.

— Você tem algum exame aí? Talvez eu possa ajudar.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora