Capítulo 12

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— Não, Jason. Não! — exclamei, me virando bruscamente para trás. — Eu não posso. Isso é contra meus preceitos!

Jason piscou, atônito, se distanciando imediatamente. Ele parecia tão desnorteado com aquela situação quanto eu.

— Sinto muito — completei, me ajeitando em minha poltrona.

— A descarga do banheiro estava interdita... — Zoe começou, mas ao perceber minha expressão, ela se calou.

Encarei Jason, que permanecia com os olhos fixos no telão do cinema, alheio a presença de Zoe.

— O que aconteceu no filme enquanto eu estava no banheiro? — perguntou ela, desconfiada, mas eu tinha certeza que sua verdadeira intenção seria usar a palavra "aqui" no lugar de "no filme".

— Os protagonistas foram na festa e encontraram o cara que havia roubado o dinheiro. A policial o prendeu, com a ajuda do "amiguinho" dela — Jason respondeu, sem olhar para Zoe e colocando aspas com os dedos na penúltima palavra.

Eu não sabia se de fato ele falava a verdade ou havia apenas inventado aquilo para disfarçar que não tínhamos assistido nada na ausência de Zoe. |Mas Jason falava com muita naturalidade para ter inventado tudo naquele exato momento, então ele provavelmente havia mentido para mim quando eu perguntara se ele já tinha assistido ao filme.

Assistimos aos quinze minutos finais do filme em tão completo silêncio que eu temi que minha respiração acelerada pudesse ser ouvida por um deles. Eu nunca havia imaginado que isso poderia acontecer, principalmente entre mim e ele, que sempre foi como um irmão para mim.

Então quando o filme acabou, saímos do cinema e caminhamos em direção ao carro de Jason, que ainda parecia perdido dentro de sua bolha. Ele parecia perceber meu desconforto, porém, para minha surpresa, não se direcionou para o meu condomínio, ao invés disso, preferiu deixar Zoe em casa primeiro.

— Me desculpe por aquilo... — ele murmurou, logo depois de termos deixado Zoe em sua residência, apertando o volante do carro o suficiente para deixar os nós de seus dedos brancos.

— Está tudo bem — respondi, encarando as construções brilhantes que passavam rápido pela janela do carro. — Eu que peço desculpas se em algum momento deixei parecer que...

— Não, Clara, você não fez nada. O erro é meu. Mas eu queria pedir que, se pudesse, tentasse esquecer isso, assim como eu vou fazer. Isso não vai se repetir, eu tenho certeza disso. Você tem namorado e eu... eu...

— Ei — sussurrei, colocando a mão em seu ombro e o fazendo me encarar. — Está tudo bem. Nós dois erramos e nós dois sabemos que foi um erro. Não se preocupe.

Jason abriu um sorriso para mim.

— Obrigado — ele disse, antes de voltar a encarar a estrada.

No resto do caminho, o silêncio reinou, mas eu já não estava incomodada com ele. Quando Jason parou o carro em frente ao meu condomínio, me despedi dele enquanto destravava o cinto e desci do carro, acenando uma última vez, antes de atravessar o grande portão da entrada e me ocultar em suas sombras.

Subi até meu apartamento, tomei um banho e já estava terminando de ajeitar o casaco quente sobre o pijama, quando fui tirar os cabelos de dentro da camiseta e senti, ao redor do meu pescoço, a correntinha fina do medalhão que usava desde dias antes, mas eu nem me lembrava.

Desabotoei-o e o tirei.

Seu pingente, também de prata, era pouco maior que um polegar e com uma estrela de oito pontas entalhada na fronte. O virei na minha mão e involuntariamente o abri, revelando uma minúscula fotografia de um casal. A mulher era totalmente desconhecida, mas o homem... meu cérebro parecia já tê-lo visto em algum lugar. Porém, por mais que eu tentasse, não conseguia me lembrar de onde.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora