Capítulo 7

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Assim que atravessei a porta da sala, Zoe se afastou de uma garota que conversava, se aproximando de mim.

— Ei, me desculpe por não ter atendido você ontem. Eu acabei dormindo. O dia tinha sido cansativo.

— Não foi tão ruim assim — respondi. — A caminhada me fez bem.

Na noite anterior, eu havia ficado cerca de uma hora na praia, enquanto aproveitava o único horário que tinha disponível para pensar.

Me sentei na carteira à frente da de Zoe e observei os outros alunos atravessarem a porta de um lado para o outro no vai e vem dos corredores, e em minutos, a professora Cíntia apareceu, dando início a mais uma aula onde estudamos e discutimos sobre a Estrutura Organizacional, nos pedindo ao final dela, um trabalho sobre o tema que havíamos abordado.

— Vai ficar para o almoço? — Zoe perguntou, enquanto saíamos da sala.

— Não sei, por quê?

— Porque o cardápio de hoje é uma maravilha! — Ela sorriu, me puxando em direção ao refeitório. — Sushi!

— Sushi? — repeti, interrompendo meus passos.

— Sim!

Engoli em seco.

— É que... — Mordi o lábio inferior. Zoe parecia tão animada com a ideia de que seu prato favorito seria servido que eu não sabia como dizer a ela que eu nunca havia tido uma relação fácil com aquele cardápio. — Eu não como sushi porque não consigo usar os palitinhos. Então acho que não vai dar pra eu ficar, sinto muito.

Zoe me encarou por algum tempo, sem demonstrar nenhuma emoção. Eu não sabia se ela iria rir de mim ou se revoltar, alegando que eu estava perdendo uma das melhores coisas do mundo.

— Você já tentou alguma vez? — Foi a resposta dela.

— Sim, mas falhei em todas.

— Então conseguirá hoje! — Ela agarrou novamente meu pulso e me puxou em direção ao refeitório, antes que eu pudesse dizer alguma coisa.

Entramos na fila, cada uma de nós pegou uma bandeja e tudo que ela fazia, eu repetia. Por fim, peguei os dois palitinhos que pareciam nunca colaborarem comigo, uma lata de refrigerante e segui Zoe até uma mesa vazia.

— Como isso se chama? — perguntei levantando os dois palitinhos na minha mão, enquanto me sentava de frente para ela.

— Hashi. Você segura assim. — Ela levantou a mão direita, onde seus hashis estavam posicionados tão corretamente que davam a impressão de ser fácil. — E os movimenta assim. — Zoe movimentou os objetos em sua mão de forma simples e graciosa. Tentei imitá-la, mas, como já esperado, falhei.

— Vamos lá, não é tão difícil. Você consegue, Clara! — incentivou ela, ao ver meu descontentamento.

— O que fazem? — Jason perguntou, virando uma cadeira e se sentando com o abdômen escorado em seu encosto. Eu não havia o visto desde o dia anterior, quando tínhamos ido ajudar Zoe na biblioteca.

— Estou querendo ensinar Clara a comer sushi, mas está bem complicado.

Jason riu e pegou os hashis da minha mão, os posicionando perfeitamente entre meus dedos. Ele se levantou, ficando atrás de mim, colocou sua mão sobre a minha e passou a me ajudar com os mínimos e mais simples movimentos, mas que ainda assim eu não conseguia realizar.

— Se continuar com a mão desse jeito, nunca conseguirá — ele disse baixo. — Deixe seus dedos firmes, mas permita que eu os conduza. Se adapte aos meus movimentos para que os hashis não percam suas posições. Isso não é tão difícil quanto parece, Clara, são só os garfos dos chineses.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora