Capítulo 4

103 35 29
                                    

— Clara! — a princesa me chamou, parada nos degraus da pequena escada que dava acesso ao interior do Palácio.

Guardei o medalhão por dentro da camiseta branca, puxei o casaco para mais perto e caminhei até ela.

— Alteza — cumprimentei-a, com uma leve reverência.

— Quantas vezes precisarei dizer que você não precisa fazer reverências todas as vezes que me cumprimenta?

— Os holofotes costumam estar sempre virados para a senhorita e, se a imprensa descobre o menor dos deslizes, fariam o povo enxergar a Alteza como alguém que não se importa com essas normas milenares.

Ela sorriu.

— O que eu seria sem você, minha dama de companhia? — brincou, entrelaçando seu braço ao meu.

— É para isso que estou aqui — respondi sorrindo.

— Vamos ao que interessa: nosso voo sai em trinta minutos.

— Fico feliz que não irá demorar. Mas, Alteza, realmente não sei se seria bom para sua imagem eu ir no mesmo avião que a senhorita.

— Não cogite a ideia de recusar! Seria uma tremenda falta de consideração e muita ousadia. Afinal, a princesa do Canadá não sai por aí convidando qualquer um para viajar com ela... — Ela me deu um sorriso brincalhão. — Clara, mesmo que falem eu não me importo, pois além de você ser minha dama de companhia a quase três anos, lembrando que ninguém jamais havia conseguido me aguentar por esse tempo todo, você também é uma amiga.

Permaneci em silêncio, até ela prosseguir:

— Infelizmente, acho que quando chegarmos na França teremos que nos distanciar porque você não será mais a minha dama de companhia e eu irei morar em uma área distante da Universidade, já você, acredito que fixará em um dos apartamentos mais próximos dela, não é mesmo?

Antes que eu pudesse responder que ainda não havia pensado nisso, uma limusine estacionou a nossa frente e, instantaneamente, criados surgiram na entrada do Palácio com malas gigantescas de viagens, que eram colocadas no bagageiro do luxuoso carro.

Um jovem, vestido com o uniforme branco de detalhes vermelhos da Coroa Canadense, se aproximou de mim e perguntou:

— Senhorita, com licença, mas onde estão suas malas?

Me virei para ele e apontei com a mão para as três malas ao lado do banco.

— Só essas? — perguntou, parecendo espantado. — Com todo o respeito, mas pela quantidade de malas de Sua Alteza Real, não acha que é pouco?

Abri a boca para respondê-lo, mas fui interrompida pela princesa:

— George, vá fazer o seu trabalho e deixe Clara em paz! — ordenou ao rapaz.

— No mínimo, ela vai levar o closet inteiro — ele sussurrou baixinho, tapando a boca com a mão para que só eu o escutasse.

Sorri disfarçadamente.

— Não tenho dúvidas.

George sorriu, então levou minhas malas até a limusine.

— Alteza, quantas malas a senhorita irá levar? — perguntei, me virando para ela.

— Doze. Eu acho. Nunca sabemos o que nos espera em outro continente — ela respondeu casualmente, conferindo sua aparência no espelho de um estojo de pó compacto. — Além disso, uma princesa sempre deve estar preparada para tudo que diz respeito à beleza e maquiagem. — Ela abriu a boca e usou o dedo mindinho para limpar das laterais do lábio inferior o excesso do batom escuro que havia acabado de passar, então me encarou e me lançou uma piscadela enquanto sorria.

Do Outro Lado do AtlânticoOnde histórias criam vida. Descubra agora