— Clara! — a princesa me chamou, parada nos degraus da pequena escada que dava acesso ao interior do Palácio.
Guardei o medalhão por dentro da camiseta branca, puxei o casaco para mais perto e caminhei até ela.
— Alteza — cumprimentei-a, com uma leve reverência.
— Quantas vezes precisarei dizer que você não precisa fazer reverências todas as vezes que me cumprimenta?
— Os holofotes costumam estar sempre virados para a senhorita e, se a imprensa descobre o menor dos deslizes, fariam o povo enxergar a Alteza como alguém que não se importa com essas normas milenares.
Ela sorriu.
— O que eu seria sem você, minha dama de companhia? — brincou, entrelaçando seu braço ao meu.
— É para isso que estou aqui — respondi sorrindo.
— Vamos ao que interessa: nosso voo sai em trinta minutos.
— Fico feliz que não irá demorar. Mas, Alteza, realmente não sei se seria bom para sua imagem eu ir no mesmo avião que a senhorita.
— Não cogite a ideia de recusar! Seria uma tremenda falta de consideração e muita ousadia. Afinal, a princesa do Canadá não sai por aí convidando qualquer um para viajar com ela... — Ela me deu um sorriso brincalhão. — Clara, mesmo que falem eu não me importo, pois além de você ser minha dama de companhia a quase três anos, lembrando que ninguém jamais havia conseguido me aguentar por esse tempo todo, você também é uma amiga.
Permaneci em silêncio, até ela prosseguir:
— Infelizmente, acho que quando chegarmos na França teremos que nos distanciar porque você não será mais a minha dama de companhia e eu irei morar em uma área distante da Universidade, já você, acredito que fixará em um dos apartamentos mais próximos dela, não é mesmo?
Antes que eu pudesse responder que ainda não havia pensado nisso, uma limusine estacionou a nossa frente e, instantaneamente, criados surgiram na entrada do Palácio com malas gigantescas de viagens, que eram colocadas no bagageiro do luxuoso carro.
Um jovem, vestido com o uniforme branco de detalhes vermelhos da Coroa Canadense, se aproximou de mim e perguntou:
— Senhorita, com licença, mas onde estão suas malas?
Me virei para ele e apontei com a mão para as três malas ao lado do banco.
— Só essas? — perguntou, parecendo espantado. — Com todo o respeito, mas pela quantidade de malas de Sua Alteza Real, não acha que é pouco?
Abri a boca para respondê-lo, mas fui interrompida pela princesa:
— George, vá fazer o seu trabalho e deixe Clara em paz! — ordenou ao rapaz.
— No mínimo, ela vai levar o closet inteiro — ele sussurrou baixinho, tapando a boca com a mão para que só eu o escutasse.
Sorri disfarçadamente.
— Não tenho dúvidas.
George sorriu, então levou minhas malas até a limusine.
— Alteza, quantas malas a senhorita irá levar? — perguntei, me virando para ela.
— Doze. Eu acho. Nunca sabemos o que nos espera em outro continente — ela respondeu casualmente, conferindo sua aparência no espelho de um estojo de pó compacto. — Além disso, uma princesa sempre deve estar preparada para tudo que diz respeito à beleza e maquiagem. — Ela abriu a boca e usou o dedo mindinho para limpar das laterais do lábio inferior o excesso do batom escuro que havia acabado de passar, então me encarou e me lançou uma piscadela enquanto sorria.
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Do Outro Lado do Atlântico
ChickLitEm uma realidade futura onde a maior parte do mundo voltou para o Regime Monárquico, e príncipes e princesas estão por toda parte, Clara Rachel, a dama de companhia da princesa canadense, é uma jovem determinada que sonha em terminar sua tão querida...