capítulo 2

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Só consigo escutar as batidas do meu coração, uma atrás da outra, que em poucos minutos transporta o oxigênio para todas as partes do meu corpo, conduzindo movimentos perfeitos que faz meu peito subir e descer a cada respiração. Mantenho-me parada sem fazer movimentos brusco em um silêncio absoluto.

Foco, espero pacientemente e aperto o gatilho. Alvo acertado com perfeição. Levanto-me do chão de onde me escondia. Olho para ver se o veado continuava caído.

— Você precisa ter paciência com sua mãe, com certeza ela vai ter uma boa desculpa para isso. — Oliver fala encostado na árvore comendo uma maçã tão silencioso que até tinha esquecido que estava ali sentado atrás de mim.

— Paciência? Já se passaram dois dias e ela não falou comigo! — Respondo sem olhar para trás, ando em direção ao animal caído no chão.

Um macho que vai dar um bom ensopado de cervo!

Me ajoelho para comprovar se realmente está morto. O tiro foi certeiro, bem na cabeça. Escuto passos e Oliver se abaixa ao meu lado.

— Você está muito boa nisso! — Oliver elogia dando outra mordida em sua maçã.
— Esta Maria vai aparecer, em alguns dias. — Olho para ele que se levanta e fica de pé. — Eu não vou sem saber o porquê, e isso me deixa louca. O que deve ser tão horrível assim? — Pergunto me levantado e Oliver dá de ombro, viro o encarando, não sei, mas olhar Oliver tão lindo assim me acalma. Balanço à cabeça saindo do meu devaneio. — Eu matei, então você carrega. — Mando fazendo biquinho, Oliver revira os olhos.

Ele joga o resto da maçã ao seu lado, olhando dentro dos meus olhos, e me abraça tão rapidamente que fico sem reação. Fechos os olhos quando às lágrimas ameaçam cair.
Oliver me solta e pega o veado sem falar nada. O sigo em silêncio pois não quero conversar também, acho que ele sabe disso. Prefiro ficar no meu mundinho de questionamento, algo que tenho feito muito nestes dois dias. Culpa da minha mãe, ela não tem o direito de fazer isso comigo, eu tenho que entender que não deve ser fácil para ela, seja o que for ou até posso suspeitar de qual assusto a deixou assim, porém vou esperar ouvir de sua boca.

Depois de todos comerem o ensopado de cervo que está uma delícia preparado pela dona Victória, levo um prato de ensopado para minha mãe, desdá visita daquela mulher — "Maria" — ela se manteve trancada naquele quarto, não fala com ninguém e se nega a comer. Bato na porta e encosto meu ouvido esquerdo para ver se escuto alguma coisa do outro lado, e nada.

— Mãe? — chamo de novo. — Mãe? — Faço outra vez, coloco o ouvido esquerdo e escuto um barulho atrás da porta. — Mãe eu trouxe o pouco do ensopado, a senhora não pode ficar sem comer. — Ela não responde. — Mãe, a senhora sabe que uma hora ou outra vai ter que sair do quarto para falar comigo, né? Só faltam dois dias para esta "Maria" vim nos buscar para sei lá onde, e eu não vou sem saber o que está acontecendo, pior ainda com a senhora desse jeito! — Escuto um barulho na porta, acho que ela se encostou. — Mãe? Mãe? — E nada, nem uma resposta. — Por favor apenas come alguma coisa, hoje pela manhã fui caçar e eu acertei precisamente um veado, dona Victória fez aquele ensopado. — Espero alguns minutos. — Por favor mãe, vou deixar aqui na porta o seu prato, está certo?

Uma lágrima solitária caí no meu rosto. Limpo com minha blusa de manga longa de cor azul escuro e caminho para o meu quarto.

(...)

Observo à janela do meu quarto que dá de frente a rua de terra sem pavimento algum. Vejo as pessoas passando, crianças correndo nesse dia brilhoso onde o sol quis dar o seu dia mais lindo, será que está me dando um Adeus? Fazendo eu querer sentir saudades daqui. Abraço meus joelhos olhando esse vilarejo tão pequeno que dá para contar com os dedos das mãos e dos pés, sorrio da minha própria besteira, ao pensar no vilarejo onde todos se conhecem. Meu peito sente o vazio e dói tanto, que estou com medo, um medo que nunca sentir antes. Oliver me chamou para treinar alto defesa, eu sei que é para me distrair desta situação com minha mãe, mas estou sem ânimo para tudo. Amanhã essa mulher vem e minha mãe não saiu do quarto em nenhum momento. Estou com tanta pena de minha mãe nunca a vir desse jeito, deve ser por isso que sinto esse medo, medo do que possa acontecer com ela.

Fora De Controle.(Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora