Dia 73 - Suicídio (?)

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Aqui estou eu outra vez, muito pior do que nos dias anteriores desse diário.

Aquela sensação de que estou perdendo tudo ainda não passou, parece estar mais forte a cada dia que passa. Porque, sim, estou perdendo tudo.


As coisas no estágio vão de mal a pior, não estou crescendo lá dentro, e parece que tudo lá diminui meu potencial, me põe pra baixo, me faz querer desistir ou me arrepender de ter escolhido estar trabalhando lá.

Tenho repensado até minha carreira, se é isso mesmo que quero pra vida, se ainda quero fazer faculdade. Acordar cedo todos os dias tem sido uma tarefa difícil, sem motivação ou objetivos claros pro dia me faz querer nem abrir os olhos.


Minha relação com minha família piora cada vez mais. Decidi que não vou mais dizer a palavra mãe, vou chamar esse ser que me colocou neste infeliz mundo pelo nome. 


Tudo parece horrível, e está. E ainda por cima, o meu porto seguro se foi. Meu namorado e o amigo dele decidiram que nós deveríamos dar um tempo. Ele teve a oportunidade de falar sobre isso comigo antes de tomar essa decisão, mas desse jeito parece que estamos em um triângulo amoroso, uma relação com três pessoas. O jeito que ele me deu a notícia de que queria um tempo foi ridículo, foi covarde. O pior é que esse amigo dele parece não ter coração ou alma, pra ele tudo é muito fácil e simples, tudo é uma questão de esforço. Os dois são completamente inocentes de tudo nessa vida, não sabem de nada.

Os dois não queriam que eu reagisse de uma forma ruim, mas É IMPOSSÍVEL NÃO FICAR TRISTE E INCONFORMADA. Não tem como o cara dizer que tá triste no nosso relacionamento e eu ficar de boa, sorrindo, tranquila. Cara, às vezes as pessoas me fazem pensar que eu devia ser uma boneca: linda, fofinha, manipulável e vazia. Me perdoem por ter sentimentos e por eles funcionarem quase de acordo com a situação, seus esquisitos desalmados.

Sinceramente, ele não deve me amar mais e está vivendo muito bem sem mim.


Ontem tive uma crise após um dia horrendo e uma "mãe" gritando comigo e apontando meus erros, dizendo que não me colocou no mundo pra errar. Corri pro quarto e chorei e gritei até me faltar ar. Doeu demais, me deu uma vontade enorme de morrer. Eu estava usando um cachecol quentinho nesse episódio, minhas mãos se enrolaram nele e eu só sabia puxar as duas pontas, eu só queria apagar, desaparecer, que tudo acabasse ali. Se eu ainda estivesse fazendo academia, talvez eu tivesse sucesso nisso, mas como estou aqui escrevendo, a vida quis que eu ficasse.

Eu consegui encaminhamento pra psicóloga outra vez, segunda-feira eu vou tentar agendar e vou no cinema sozinha se eu achar algum filme interessante, ou jantar algo gostoso. Preciso me agarrar a algo bom, já que eu não tenho mais alguém do meu lado pra me ajudar e me apoiar nessa caminhada.


Acho que ele nem me ama mais e isso tudo é só porque ele não tem coragem nem pra me falar isso e acabar com tudo de vez. Ou tem medo de dizer isso com todas as letras e eu me matar. Eu cansei de tentar adivinhar as coisas, o que ele sente, isso me desgasta muito. Acho triste ele fazer mau uso da linda boquinha que tem só a mantendo fechada.


Sinto algo que beira a ódio, raiva e rancor, talvez arrependimento. Tanto que estou pensando no intercâmbio outra vez, em ir embora. Em só largar tudo e todos e recomeçar minha vida em outro lugar.

Posso estar me fazendo de vítima, mas todos são assim comigo, me subestimam, me passam a perna, me largam quando não sou mais útil. Eu fui o brinquedo de todo mundo, ainda sou. Só queria que o mundo fosse mais empático, mais justo, mais caloroso e cheio de amor. Porém, o ser humano é um ser desprezível, uma espécie amaldiçoada, fadada a machucar tudo, a manchar a pureza de tudo movido por um egoísmo inabalável.


Eu só queria que esse buraco no meu peito se fechasse, que nunca mais doesse, que eu nunca mais sofresse, muito menos por amor.


Música do dia: Starlight - Muse

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