Dia 100 - Seleção

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Chegamos ao 100º dia desse diário!


Bem, o dia foi legal até. Trabalhei bastante, montei e ensaiei a dança pra apresentação de sexta-feira, joguei vôlei com os meus alunos e fui ver o jogo da minha irmã. Mas só foi no final do dia que eu me senti bem.


O almoço de hoje foi torturante. Resolvi comer lanche no burger king porque tive preguiça de fazer marmita pra mim. Pedi o lanche de cheddar de sempre, tomei o refrigerante de sempre, mas dessa vez coloquei gelo, o calor tava insano. Sentei numa mesinha pra duas pessoas que achei perto do banheiro. Pior escolha possível. Comi encarando a cadeira vazia na minha frente, imaginando como aquilo seria muito mais feliz se ele estivesse comigo. Mas ele teria escolhido uma mesa em que pudéssemos sentar um ao lado do outro, pois ele sempre fazia assim e eu gostava mais. Acho que só uma vez ele se sentou na minha frente, até na última vez que nos vimos ele se sentou ao meu lado. Era assim que nós éramos: nunca atrás, nunca na frente, sempre ao lado...


Conversei com uma amiga sobre o quão merda minha vida está, fiquei feliz por saber que não estou sozinha nisso, fiquei triste por saber que não estou sozinha nisso. Ela também está nessa vibe negativa da vida, não vê sentido nas coisas. Esse vai ser o primeiro Natal em 4 anos que ela não passa com a família do ex-namorado dela, que é meu amigo agora. É triste ver tudo desmoronando assim.


Quase surtei vendo a árvore de Natal sendo montada no pátio da escola, luzes nos shoppings, decorações e mais decorações. Tic tac, tic tac, meu tempo se esgotou há meses e não posso mais mudar nada. Eu tinha escolhido um bom presente pra ele, mas agora isso não importa mais, ele não vai ganhar isso, ele não quer ganhar isso...


Joguei vôlei com os meus alunos depois do treino de mesa, eles fizeram eu me machucar um pouco, mas ganhei um abraço de um deles. Mesmo assim, eu não me senti bem. Não é a primeira vez que o voleibol falha em me deixar pra cima.


O auge do dia foi ver os jogos de vôlei da minha irmã e dos meus amigos que são uns anos mais novos que eu, pessoas que vi começando a vida no voleibol e agora vi o encerramento dessa fase na escola.

Fiquei orgulhosa da minha irmã ter assumido a responsabilidade de entrar no jogo, mesmo que fosse no finalzinho. Ela foi corajosa e senti que ela estava tranquila. Nosso técnico, meu mestre, meu outro pai, teria ficado orgulhoso dela.

Eu não sabia que era dia da final do vôlei masculino. Vi todos aqueles rostinhos que vejo desde sempre, uns rostinhos novos também. Eles triunfaram. O jogo no início estava meio acirrado, ponto de um lado e do outro, até que os garotos da minha escola mostraram quem manda lá. O final foi tranquilo, a torcida estava maravilhosa, poder cantar o hino da escola outra vez me fez sentir tanta coisa boa, uma nostalgia gigantesca, senti que voltei uns dois anos no tempo, torcendo pelos meus amigos e ouvindo eles torcendo por mim também. Que saudade desse tempo, que saudade do meu time, do meu técnico, da quadra, de tudo. 

Mandei vídeos do jogo do masculino pro meu técnico. Ele agradeceu, disse que se sentia mais calmo e falou que serei, que já sou, uma professora encantadora. Acho que isso salvou minha vida hoje. Esse professor significa muito pra mim, se sou o que sou hoje, é porque ele teve um papel extremamente importante nisso. Me orientou sobre a faculdade, cursos que eu posso fazer, me deu muita bronca, confiou muito em mim, acreditou em mim. É alguém que se importava com todas nós, que também cuidou da minha irmã e infelizmente teve que abrir mão disso tudo, desses filhos todos que ele tem, pra cuidar da saúde dele. Ele fez muito por essa escola, pelo esporte e pela educação física de lá. Há quem critique, há quem não goste, quem fale mal, mas há quem venere tudo o que ele fez e eu estou com esse último grupo. Tinha quem visse meus jogos, ouvisse ele berrando comigo e depois me dissesse "meu Deus, como você aguenta ele falando assim com você? Como você deixa ele fazer isso?", amigo, só eu e ele sabemos o que tá acontecendo. Ele fez aquilo pro meu bem, pra me fazer mais forte, pra me fazer acreditar que consigo, que sou capaz e que vai dar tudo certo.

A verdade é que preciso ouvir uns berros dele outra vez...


Música do dia: Marilyn Manson - Slo-mo-tion

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