Dois

1.5K 168 195
                                    

Naruto sentia-se sortudo, apesar de tudo. Ele tinha amigos incríveis, um irmão que fazia tudo por ele, pais presentes e um namorado que era sua alma gêmea. Não trocaria sua vida pela de ninguém.


Do lado de fora de casa ele já sentia o cheiro do lámen da mãe, e assim que tocou a campainha, caninos afiados e um cabelo cacheado ruivo lhe receberam com um abraço sufocante.

Kurama, seu irmão mais velho e pessoa que mais amava no mundo. Vinte e oito anos, um metro e noventa, olhos castanhos, cabelos ruivos enormes e cada espaço visível do corpo preenchido por tatuagens. As bochechas tinham as mesmas marcas que Naruto, e o sorriso dos dois era igual.

- Seu moleque do caralho. Por que não me avisou que 'tava chegando? Eu ia te buscar na rodoviária.

O ruivo pegou as malas do mais novo, que entrou em casa sendo recebido com o abraço de Kushina, apertado, os dedos finos fincados em suas costas. Já Minato, que o abraçou em seguida, continha toda a suavidade que faltava no restante dos membros daquela família.

- E aí, filho? Como foi?

Naruto ainda não entendia por que Minato não tinha largado tudo para se despedir do pai, para vê-lo uma última vez, mas se tinha aprendido algo na vida curta que tivera, era que as pessoas tinham motivos e sentimentos que as outras talvez nunca entendessem, o que não significava que fossem menos válidos.

- Foi tranquilo. O senhor sabe, aquele clima. Mas não foi ruim. Nagato, Konan e Yahiko ficaram revezando no hospital até o final, e ele não estava chateado nem nada. Conformado, satisfeito com a vida que levou.

Minato assentiu, apertando o filho mais uma vez antes de conduzi-lo à cozinha para almoçarem. O coração de Naruto se acalmou. Mesmo com todos os problemas que, dada a sua personalidade, ele faria questão de tentar resolver, mesmo com as coisas que talvez fossem insolúveis, ele estava em casa.

Em casa para matar a saudade do cheiro da sua família, para aninhar nos braços sua gata Matatabi, uma gata persa branca obesa, para comer a comida de Kushina, para cochilar durante três horas seguidas em sua cama enorme de casal, contrastando com a cama de solteiro que tinha dormido durante as férias.

Racionalmente ele sabia que conseguiria, eventualmente, se acostumar a estar longe dessas coisas, e até dessas pessoas, por mais incondicionalmente que as amasse. Despedir-se de todos, conversar por telefone todos os dias, visita-los nas férias, ver suas fotos. Só tinha uma pessoa que ele não podia ficar longe para sempre. Que sua alegria dependia daquele sorriso tímido e olhos pretos.

[...]

- Sakura, temos que contar aos meus pais o que houve. Não dá pra agir como se eu tivesse oito anos e você fosse um cachorro de rua que eu trouxe escondido.

- Mas e se o seu pai reagir mal à minha bissexualidade? - Sasuke ergueu uma sobrancelha.

- Sakura, meu pai não tem um filho hétero, por que porra ele ia querer reagir ou deixar de reagir à sexualidade do filho dos outros?

- Eu não tô pronta ainda - ele revirou os olhos e suspirou.

- Vou chamar Itachi.

- Não!

- Não o caralho, Sakura. Até agora nada dos pais de Ino te responderem, não vamos esperar a polícia chegar aqui em casa pra contar pra algum adulto o que houve. Você sabe que Itachi não vai tomar nenhuma decisão precipitada.

Os Uchiha, conhecidos pela elegância, frieza e dinheiro, eram pouco acessíveis para assuntos delicados, mas Itachi destoava da família, sendo o intermédio entre os jovens e seus pais. Conseguia expor as mais diversas situações na linguagem perfeita para que Fugaku entendesse, o que talvez o caracterizasse como manipulador, mas ele era bom. E não tinha nada que não fizesse por Sasuke.

O Sol Vai Voltar | SNSOnde histórias criam vida. Descubra agora