Os dias naquele final de ano passavam cada vez mais rápido e desesperavam os terceiranistas que tinham menos de dois meses para prestarem vestibular para as principais universidades da região, de acordo com os cursos ofertados em cada uma.
Naruto queria estudar em Kiri igual seu pai, Kumo sendo sua segunda opção, por ser uma universidade tradicional, antiga, cheia de professores que Minato admirava. O curso também era ofertado em Oto, mas ele dificilmente considerava.
Já Sasuke ainda não sabia se iria largar tudo para focar no seu livro, se começaria um curso de Letras ou se faria Artes Plásticas. Ele só sabia que se mudaria para Oto, onde teria o apoio do seu tio favorito.
Depois de muita terapia e de tentar decidir sozinho, decidiu pedir conselhos a Kakashi. Ele era a pessoa mais próxima do que Sasuke queria fazer da vida, e era família também.
- Eu sempre achei curiosa essa relação sua com Madara - ele disse.
- Acho que é porque meu pai faltou em várias partes da minha vida, não sei direito o porquê. Madara conseguiu fazer o papel de pai muitas das vezes que eu precisei. Não só pra mim, mas pra Itachi também. Ele não se ofendeu porque eu tinha medo de homens mais velhos logo depois do sequestro, e também ofereceu a casa dele várias vezes sempre que as coisas ficavam feias com Fugaku. Eu sei que, no fim das contas, ele e Itachi são quem eu realmente admiro e enxergo como uma autoridade na minha vida, uma figura paternal, entende?
- Itachi era jovem pra assumir tantas responsabilidades sozinho.
- E ele sempre fez isso. As pessoas acham que crianças prodígio são mini adultos, mas não é bem assim. Quer dizer, eu imagino que...
- Sasuke. Você não imagina nada. Você sabe exatamente como é, não importa o que Fugaku diga.
- Eu não tenho isso em mim. Só sou disciplinado.
- Você está longe de ser disciplinado em qualquer coisa que não seja do seu interesse. Escuta, ser prodígio não faz de você melhor do que ninguém, não quer dizer que sua vida vá ser melhor que a de outras pessoas e não coloca você em um pedestal. É só uma condição diferente. Mas alguns de nós se destacam, como Itachi, e alguns se tornam professores de literatura em uma escola de ensino médio.
Sasuke olhou para Kakashi surpreso e o homem sorriu.
- Você acha seus amigos inferiores a você em alguma coisa?
- Bem, a maioria deles... - Kakashi revirou os olhos.
- E Naruto? O que você acha? - Sasuke suspirou.
- Ele é brilhante, esforçado, inteligente, criativo. Ele é...
- Ele é especial, não é?
- Quer dizer...
- Pelo menos pra você, ele é. Você não tem que ser prodígio. E mesmo que seja... não tem que pular várias séries e se formar em medicina dois anos adiantado. Não tem que ser cirurgião com vinte e seis. Não tem que dar orgulho pro seu pai.
- Eu...
- Você consegue imaginar o que Naruto pensa de você? Se eu fizesse as mesmas perguntas, tivesse a mesma conversa, consegue saber que adjetivos ele usaria?
Sasuke sabia que estava vermelho como um pimentão.
- E o seu irmão? E Madara? O que diriam de você? Se são eles que você vê como figuras paternas, por que importa o que Fugaku diz? Por quê? Você ainda não curou sua criança interior, Sasuke. Está na hora de dar atenção pra ela.
[...]
Shisui e Itachi estavam na sala vendo um filme ruim e Sasuke não pensou muito quando caminhou até seu irmão, o abraçou e chorou copiosamente. Itachi não questionou quando correspondeu o abraço.
- Eles não tinham o direito de ter feito você resolver todos os meus problemas - Sasuke disse e Itachi suspirou.
- Ninguém fez nada. Eu fiz isso porque te amo.
- Não tá certo. Você cresceu antes do tempo.
- Você também.
- Não foi culpa de ninguém.
- No meu caso, também não foi. Eu não me importo, Sasuke. Eu não estou arrependido.
- Você merecia ter tido uma infância e uma adolescência normais.
Itachi segurou o rosto de Sasuke entre as mãos e o olhou sério.
- Eu sei que eu merecia. Eu sei que eu deveria ter tido. Eu sei que se pudesse prever o futuro, talvez não tivesse feito as coisas como fiz. Mas aconteceu, e está tudo bem. Eu sou feliz hoje. E você nunca influenciou em nada disso. Você nunca foi um fardo. Eu sempre amei cuidar de você. Eu sabia que ia cuidar de você desde que Mikoto estava grávida e eu ia fazer isso de um jeito ou de outro. Sasuke, se eu pudesse mudar qualquer coisa na vida, qualquer coisa no passado, eu só mudaria coisas que tirassem sua dor. Você não tem que sentir culpa por isso. É assim que eu me sinto, queira você ou não.
- Você realmente é feliz?
- Muito feliz, Sasuke. Prometo.
Itachi não soltou o abraço. Continuou até Sasuke parar de tremer, e o fez assistir o filme ruim com eles. Sasuke conhecia mais ou menos o conceito de ser pai, que é fazer sacrifício pelos filhos, amá-los incondicionalmente, abrir mão de coisas por eles, não culpa-los por ficar noites em claro por eles, cuidar deles quando estão doentes, leva-los em todos os lugares que eles precisam ir, ouvir seus desabafos.
Sasuke passou anos sonhando em ter isso, pensando sobre como era quando Ino chegava em casa e tinha um problema, sobre como os pais dela davam o apoio e as ferramentas necessárias para eles resolverem o problema juntos, sobre todas as vezes em que ele teve festas de pais e mães na escola e seus pais, apesar de vivos, nunca compareceram.
Como ele pôde ser tão cego? Como ele pôde esquecer que tinha alguém tão disposto a fazer tudo por ele, bem do seu lado? Sustentando o peso que era ser ele, sustentando o peso de si próprio, sustentando tudo sozinho, calado, sem reclamar, sem deixar de sorrir.
- Escuta, Itachi. Eu já cresci.
- Eu sei.
- Você não precisa mais fingir tanto. Se precisar de ajuda... você pode contar comigo.
Itachi não respondeu, mas Sasuke conseguia ver pelo canto do olho a lágrima que escorreu.
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O Sol Vai Voltar | SNS
FanfictionOnde o último ano do ensino médio coincide com diversos dilemas pessoais e tudo o que eles sentem é elevado à décima potência. Avisos: depressão; ansiedade; referência a abusos físicos, sexuais e psicológicos; homofobia; bifobia; álcool; drogas; lin...