O Sol Vai Voltar | SNS

Três

Naruto sorriu quando acordou e sentiu os braços de Sasuke em volta da sua cintura. Ouvia o Uchiha respirar daquele jeito tranquilo e quase transcendente que ele possuía enquanto dormia. Conseguia sentir os fios revoltos dele em suas costas e tudo sobre ele soava como poesia. Sentia tanto amor naquele momento, tanta paz, tanta sensação de casa. Ninguém conseguia fazê-lo se sentir assim. Ele sabia que eram almas gêmeas, e se sentia sortudo por tê-lo encontrado tão cedo.

- Bom dia, Naruto - Naruto sorriu. Sasuke conhecia até sua respiração, se ele estava acordado ou não.

- Bom dia, amor - respondeu sem se virar, sabendo que Sasuke xingaria até sua décima geração se falasse com ele diretamente antes de escovar os dentes.

Naruto recebeu um aperto mais forte em volta de si e um beijo demorado na nuca. Os dois se levantaram e revezaram escovar os dentes e urinar antes de entrarem juntos no box do chuveiro, aproveitando todos os segundos que tinham juntos, talvez em uma tentativa de ofertar um carinho que o mundo não era capaz de lhes dar, e nunca tinha sido. O banho, portanto, foi mais longo que o normal, e enquanto eles se secavam e se vestiam, Naruto percebeu que, droga, amava muito aquele garoto. E a constatação era assustadora.

- Às vezes eu tenho medo do que eu sinto por você - disse meio sem pensar.

- Eu também - suspirou encarando a janela e sentindo o coração apertar - Mas a gente pode conversar sobre isso se sentir que tem alguma coisa errada, tá?

Naruto assentiu e sorriu, puxando-o para um beijo rápido. E pronto. A segurança voltou como se nunca tivesse ido embora. Porque era exatamente assim que ele havia construído sua relação com Sasuke: em cima da comunicação. Sem segredos, sem guardar os problemas para si, e sobretudo, sem perder a individualidade que tinham. Era clichê, mas eles precisavam permanecer bons ímpares para serem um bom par.

Tomaram café da manhã e ficaram na sacada do quarto do Uchiha contemplando o dia quente, a brisa fraca.

- Como foi lá com seu avô? - Sasuke perguntou.

- Não muito diferente do que eu esperava. Ele ficou vários dias muito mal, e aí, um belo dia, acordou se sentindo radiante. Acho que é aquela melhora da morte, só pra se despedir.

- Vocês conversaram?

- Muito. Ele disse que tinha orgulho de mim e que todas as minhas decisões seriam apoiadas por ele, independente de onde estivesse. Falou sobre o meu pai, também.

- Você já contou pra Minato?

- Contei sim. O velho disse que meu pai não devia desperdiçar a própria vida. Que ele precisava se dedicar a curar a família, e não a fingir que as coisas iam bem. Disse que tinha orgulho dele também - Naruto acabou sorrindo antes de começar a chorar - Desculpa.

- Não se preocupa, coloca pra fora. Me fala como você tá se sentindo.

O loiro começou a soluçar e Sasuke sentou atrás dele, colocando o loiro entre suas pernas, deitado em seu peito.

- Ele estava bem conformado, sabe? E feliz, até. Disse que viveu tudo o que tinha que viver e até mais. Que tinha orgulho das escolhas que fez, e que tinha certeza de que aprendeu com todos os erros que cometeu. Disse que eu sou o maior orgulho da vida dele - sentiu a voz falhar e chorou mais - Ele estava ótimo no dia, sorrindo, não tossia tanto pra falar, até fez umas refeições boas, tomou cerveja e tudo. E quando era hora de ir, ele segurou na minha mão e disse que eu preciso viver e lutar pra ser feliz. O máximo que me for possível. Pra quando eu morrer, estar satisfeito, como ele estava. Aí ele fechou os olhos e ficou esperando ela vir... e veio. Demorou uns dois minutos. Ele apertou minha mão pela última vez e se foi, e quando eu lembro disso, dói tanto.