Treze

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Mais que honestamente, Sasuke só lembrava de ter bebido igual um louco, ouvido Suigetsu falar qualquer coisa e ele ter concordado sem sequer entender, e de repente ele o estava beijando. Sasuke não lembrava o que tinha pensado quando correspondeu, nem quanto tempo demorou para conseguir reagir, mas conseguiu afastar o amigo.

- Sasu, vamos pra outro lugar... - e ele poderia ter facilmente dito sim, se não fosse o fato de que não estava nem um pouco afim.

E foi só lembrar que Naruto estava ali, em algum lugar daquele bar, provavelmente tendo visto aquilo, que sentiu o coração encher de culpa. Ele não queria que o loiro achasse que ele havia terminado para poder viver sua vida de solteiro, porque não era nada disso. Sasuke nunca sentiu falta de experimentar novas bocas ou relembrar bocas antigas, nunca sentiu falta daquelas noites únicas sem um pingo de carinho que fosse, nunca sentiu falta de transar com um monte de gente como se fosse uma competição e viver a vida dia após dia nessa mesma ida e vinda.

Com Naruto, cada sensação era diferente. Eles eram incontroláveis, eles não conseguiam tirar as mãos ou os olhos um do outro. Mas tinha uma coisa, uma coisa intocável que escorregava de um para o outro, que se fazia presente como fios invisíveis, que tinha uma força magnética. Essa coisa invisível fazia Sasuke sentir como casa. Como se as mãos de Naruto, fosse em volta da sua cintura, fosse arranhando suas costas, estivessem lhe deixando seguro. Sasuke provavelmente ainda o adoraria com as mãos em volta do seu pescoço.

Não era Suigetsu que ia suprir qualquer coisa. Não era Suigetsu que ia fazê-lo esquecer do loiro encostado na cadeira com um copo de tequila na mão, encarando o teto com lágrimas caindo agressivas pelos olhos, cantando a letra daquela música triste que tocava no bar.

Naruto e a sua beleza poesia. Naruto e todo o furacão de sentimentos, a honestidade e a espontaneidade. O quanto ele sentia e transparecia, o quanto ele era fotografia, arte, dor, ansiedade e prazer. E Sasuke podia desenhá-lo, mas foi ele que causou aquela dor e agora não havia nada que pudesse fazer.

Por um momento Sasuke desejou que Naruto fosse até eles, gritasse e batesse em Suigetsu, o acusasse de não ter consideração, assim ele podia ficar com raiva, dizer que ele não tinha mais direito de cobrar nada. Mas não. Naruto era perfeito assim. E aquilo só fazia doer mais.

- Sasuke - o amigo disse ofegante ao seu lado, tonto como jamais esteve - Me desculpa, cara. Eu não pensei direito.

- Relaxa. Tá tudo bem.

Só que não estava. O Uchiha pagou a conta com as mãos trêmulas e avisou a Juugo que ia para casa. Ouviu mais um milhão de pedidos de desculpa do ruivo antes de explicar pela décima vez que ele não tinha cometido crime algum, e que estava tudo bem. Que ele não fez nada de errado. Que era solteiro.

[...]

- Precisamos ir pra casa? - Sakura perguntou o encarando culpada, mesmo que não tivesse feito de propósito.

- Eu... eu acho que preciso de um tempo, Sakura. Ele deve saber o que tá fazendo. Eu quero ficar sozinho.

Pagou a conta das duas e foi embora, avisando que se elas não quisessem chamar um Uber, podiam pedir que Kurama as buscasse depois. Chegou em casa, trancou a porta do quarto e chorou. A dor que ele sentiu ao ver Sasuke e Suigetsu juntos ele nunca saberia descrever. A forma como ele lembrava dos ciúmes que tinha dos dois, de como ele se sentia idiota. Lembrava de como Sasuke ficou aliviado quando conversaram sobre isso.

E Naruto não tinha direito. Ele não podia pedir satisfações, não podia ir atrás de respostas, cobrar consideração. Mas aquilo doía. E a saudade doía mais ainda.

[...]

Sakura ouviu Ino repetir no telefone sobre como ela e Gaara tiveram uma longa conversa seus sentimentos, como eles tinham fodido a noite inteira e ela estava exausta, mas agora sentia um peso esquisito no coração e não sabia de onde vinha. Desde a situação no bar com Sasuke e Naruto, se sentia esquisita. Parecia que todo mundo estava triste, ou deixando os outros tristes.

Sakura.

Uma mensagem de Sasuke a fez sair dos seus devaneios, na pressa para entender imediatamente que porra ele tinha na cabeça pra beijar Suigetsu na frente de Naruto.

Pode falar e seja breve.

Eu não fiz de propósito e não tava pensando direito. Eu não queria ter feito e não passou daquilo. Eu não tomei a iniciativa, não que isso importe, e afastei ele. Eu estava bêbado.

Você é solteiro, faz o que quiser.

Sakura, eu não sou "solteiro". Eu terminei com o amor da minha vida. Não é a mesma coisa. Você tem que conversar com ele, não quero que ele fique triste.

Ele já está triste, Sasuke.

Vou te ligar.

Ela atendeu num revirar de olhos. Não sabia se conseguiria perdoar Sasuke por aquilo.

- Você partiu duas vezes em um mês o coração da pessoa que mais te ama no mundo depois do Itachi.

- Eu sou um babaca. Eu não mereço que ninguém me entenda. Mas eu preciso que ele saiba que não fiz por querer e que acabou ali, porque eu não terminei com ele pra ser livre. Por outro lado... Ele precisa saber que ele pode, se ele quiser...

- O que você quer dizer com isso? - Sasuke suspirou.

- Eu não pedi pra ele me esperar. Eu não posso prever o futuro. Ele está livre, Sakura. E eu não sei se ele sabe disso. Ele está livre pra se envolver com outras pessoas.

- Eu não acho que ele queira.

- Ele não pode ficar preso a mim pra sempre. Eu quero que ele seja feliz - a voz dele tremia e ela sabia que era questão de tempo até ele começar a chorar.

- Eu sei, mas vai levar um tempo. Vocês são melhores amigos desde a infância, Sasu. Ele sempre te amou, de um jeito ou de outro. Você é o amor da vida dele.

- Porra, eu sei. Eu sei - o coração dele já nem estava mais em pedaços, estava completamente em pó - Mas ele tem que tentar, pro bem dele. Sakura, tudo o que eu quero é que ele seja feliz, ok?

- Ok, Sasu. Eu vou conversar com ele. Se cuida, tá?

- Desculpa.

- Não precisa pedir desculpas pra mim.

- Tá, só... Cuida dele. Eu o amo.

- Eu sei.

Os dois suspiraram antes de desligar. Para Sasuke, partir o coração de Naruto doía muito mais do que ter o próprio partido. Ele faria qualquer coisa para que a dor do loiro fosse toda para ele. Ele não merecia seu sol, e cada dia tinha mais certeza disso.

sempre que der
mande um sinal de vida de onde estiver, dessa vez
qualquer coisa que faça eu pensar que você está bem
ou deitado nos braços de outro qualquer
que é melhor do que sofrer
com saudade de mim como eu tô de você
pode crer que essa dor eu não quero pra ninguém no mundo
imagina só pra você?

O Sol Vai Voltar | SNSOnde histórias criam vida. Descubra agora