O Sol Vai Voltar | SNS

Dezessete

Sakura estava na casa de Sasuke quando o barulho de notificação de mensagem do seu celular tocou insistentemente de modo que uma notificação interrompia a outra. Ela levantou, pegou o celular e sua expressão mudou imediatamente.

- O quê, Sakura? - Sasuke perguntou preocupado.

- É Tsunade. Ela disse que minha mãe me procurou na escola porque eu mudei de número. Pediu pra eu ligar - ela disse exasperada e ele a encarou.

- Essa mulher...

- É sobre o meu pai. Ele está no hospital.

- Não precisa ligar pra ela. Eu levo você lá.

[...]

O doutor Yamato esperou a família ficar completa antes de dar a notícia. Ver Mebuki pela primeira vez depois de meses quase fez Sakura fraquejar e implorar por um abraço. Um aperto de Sasuke em sua mão a fez respirar fundo e aguentar.

- A situação do senhor Haruno é grave. O diagnóstico é câncer pancreático, e como ele não apresentou sintomas iniciais, infelizmente, o estágio é avançado. Nós vamos apresentar para vocês as opções de tratamento.

Mebuki e Sakura encararam uma à outra com os corações em mãos. Tantos sentimentos e pensamentos diferentes atravessavam a cabeça das duas e Sasuke nunca se sentiu tão deslocado na vida. Sem saber como reagir, deixou a amiga ir até a mãe. As duas mulheres se abraçaram. E desabaram juntas.

[...]

Grupo sem a Sakura

Membros: Ino, Naru, Sasuke

Sasuke: Atualização: Sakura e Mebuki foram pra capela do hospital, depois voltaram e ficaram no jardim. Estão conversando há uma hora inteira.

Naru: Mebuki parece agressiva?

Sasuke: Não, de jeito nenhum. Ela parece... arrependida. Acho.

Ino: Eu ainda tenho ódio do Kizashi e da Mebuki porque eles fizeram aquelas atrocidades com a Sakura, mas porra, é um câncer, eu nem sei o que dizer agora. Você acha que os três vão se reaproximar?

Sasuke: Isso só o tempo pode dizer.

Sasuke: meus pais tão vindo

Naru: os meus também.

[...]

- Em resumo, ela me pediu desculpas, disse que o casamento dos dois é falido e eles só notaram isso depois que eu fui embora e disse que, se der, eu espere o meu pai... melhorar ou... morrer - ela soluçou - pra que depois ela vá na delegacia confessar o crime e tal.

O desconforto era palpável. Ninguém era perfeito, pais erravam, pais podiam fazer coisas horríveis com os filhos, mas não deveriam. Kushina expulsou Kurama de casa um dia e lhe disse coisas imperdoáveis. Fugaku já desejou nunca ter tido Sasuke simplesmente por ele ser gay. Nunca os tinham agredido fisicamente, mas Fugaku era advogado, ele sabia que a agressão física, até certo ponto, era a responsável pelo menor dos traumas, se tratando de pais. As palavras podiam ecoar na cabeça deles para sempre.

[...]

Eventualmente Kurama levou os mais novos para o hospital para que pudessem oferecer algum apoio. Pouco se sabia sobre a real situação de Kizashi, apenas que era grave, mas a maioria deles estava mais preocupada com as interações da amiga com os pais depois que foi expulsa de casa.

- Houve um tempo em que nossa maior preocupação era conseguir namorar - Hinata disse.

- Ainda é minha maior preocupação - Kiba disse recebendo um tapa de Hinata na cabeça. Naruto soltou um riso baixo.

- Nem sei como ajudar - Naruto disse. Kurama suspirou.

- Chegou o momento de entender como funcionam alguns problemas. Ninguém consegue ajudar ninguém.

[...]

Sakura marcou uma "reunião familiar" com seus amigos e os pais deles, que estavam até então cuidando dela tanto psicológica quanto financeiramente. Ela tinha um apartamento mobiliado, contas pagas, geladeira e armário cheios e companhia sempre que precisava.

- Tomei minha decisão - avisou - Eu e minha mãe vamos voltar a nos comunicar superficialmente e eu não vou denunciá-la nem vou voltar a morar com ela. E Kizashi provavelmente vai morrer mesmo. Eu vou arrumar um emprego em breve e ninguém mais vai me sustentar. Por favor, não discutam isso. E eu agradeço o apoio de todo mundo. É importante pra mim.

Ainda é cedo, amor
Mal começastes a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

A pedido dela, ninguém discutiu. Afinal de contas, independentemente de qualquer coisa, Sakura ainda era dona da própria vida. Agora, mais do que nunca.

[...]

Ino's chat, Sakura's phone:

já passaram dois meses tá tudo uma porcaria

já tentei trabalhar em três lugares diferentes mas nenhum lugar de meio período tem vaga

eu acho que vou trabalhar naquele bar que te falei

já sou maior de idade mesmo...

Vc é teimosa demais. Não tinha necessidade alguma de se preocupar em se sustentar agora. Oq não falta pro Fugaku é dinheiro.

[...]

Mebuki me ligou. É hoje que vão... vc sabe. Desistir dele.

e o seu emprego?

Ele disse que se eu saísse mais uma vez, ia precisar repor a madrugada toda ou ele me demite.

E eu não posso ser demitida.

[...]

Sakura's chat, Naruto's phone:

To aqui pro que vc precisar, sakura

Sakura's chat, Sasuke's phone:

Desculpa n ter conseguido ir. Mas oq vc precisar conta comigo.

Sakura's chat, Ino's phone:

Vem pra casa, saky ☹

Eu to bem 😊

[...]

- Eu não quero saber se você estuda, se seu pai morreu. Você assinou um contrato. E você vai ter que cumprir seus horários do jeito que eu quiser - ele disse enquanto segurava-a pelos braços.

Ele continuava a repetir o quanto ela era uma funcionária patética e o quanto merecia ser despedida, que ele não tinha nada a ver com a morte do pai dela e que se ele tivesse uma filha "sapatão" também colocaria para fora.

Ela sabia que as mãos dele estavam deixando marcas em seus braços. As lágrimas que corriam pelo rosto dela deixavam isso bem claro. Mas era simplesmente insuportável aguentar aquele trabalho por um salário mínimo. Aguentar as mãos no seu corpo enquanto ela limpava as mesas; aguentar os comentários nojentos; aguentar os puxões de cabelo; aguentar o jeito como o chefe dela a tratava.

Mas eu preciso desse emprego, ela se consolava. E sem ele, ela precisaria desistir. Depender de alguém. Ela seria fraca e isso ela não podia aturar de novo. Precisava crescer.

Ouça-me bem, amor
Preste atenção: o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó
[...]
Quando notares, estás à beira do abismo
Abismo que cavastes com teus pés.