Dezoito

204 20 0
                                    

Acordou com o sol entrando pela janela sem entender por que deixou as cortinas abertas. Ia levantar e fechar, ainda eram cinco e meia da manhã, mas aquele céu estava tão bonito. Abriu a janela e sentiu o sol esquentar sua pele. Fechou os olhos para aproveitar mais tempo.

Olhou em volta. Olhou o pano que cobria o espelho, os livros desorganizados. Era sábado. Tinha uma mensagem de Naruto no celular perguntando se ele queria ir à academia às oito. Olhou as próprias mãos, tocou o próprio cabelo, viu os cachorros dormindo todos enroscados, mesmo que tivessem cada um uma cama. Estava sozinho em casa. Suspirou.

Naruto só ia acordar realmente quando fosse necessário, mas mesmo assim ele respondeu que queria ir. A genética era generosa com sua aparência, mas ele precisava cuidar da saúde. Precisava beber menos café. Precisava comer direito. Precisava usar algum do tempo que ficava sozinho fazendo coisas que gostava.

Começou tomando um banho gelado. Depois ele tirou as cortinas e os lençóis e colocou na máquina de lavar. Ele guardou um monte de sapatos e tirou das paredes todos os desenhos, que naquele momento eram tristes e sombrios, e guardou em uma pasta. Organizou os livros que estavam espalhados, jogou fora todos os papéis amassados, as embalagens de comida, esvaziou o lixo, aspirou o quarto inteiro, passou pano em tudo, colocou roupas novas de cama, colocou cortinas mais claras, colocou o difusor aromático com a essência que Naruto gostava, enfeitou o mural que tinha na parede com as fotos que tirou no seu aniversário, onde ele reuniu todas as pessoas que amava.

Abriu o armário e pela primeira vez em meses realmente olhou para tudo. A gaveta de Naruto ainda estava lá, e decidiu que continuaria. Aproveitou e colocou dentro da gaveta uma camisa sua que o loiro gostava de usar. Ele não precisava mais dela. Organizou todas as suas roupas, colocou em sacos o que queria doar, jogou no lixo embalagens vazias, arrancou os adesivos velhos colados por dentro.

Depois ele foi até o banheiro e fez o mesmo: lavou tudo e jogou fora embalagens velhas, organizou como queria organizar a própria vida, abriu a janelinha para deixar a luz e o vento entrar, colocou um difusor lá dentro também, substituiu as toalhas e os tapetes, e desceu para comer às sete e meia. E comeu do jeito que seu corpo merecia. Comeu do jeito que sua alma merecia. Sem autopunição, sem se forçar, só deixou seu coração lhe lembrar que ele também merecia ser cuidado. Ele vestiu a roupa e o tênis que usaria na academia, juntou as próprias roupas sujas para lavar e aceitou a carona de Naruto. Seu cabelo estava tão grande que ele prendeu em um pequeno rabo de cavalo.

O loiro chegou de moto e abriu um sorriso grande ao vê-lo.

- Seu cabelo tá tão bonito - ele disse. E Sasuke, que não sabia receber elogios, respondeu:

- Tá sujo - fazendo Naruto revirar os olhos.

- Eu sei que é mentira - Sasuke sorriu - Que bom que aceitou ir comigo.

- Que fique claro que eu não tenho ideia do que fazer numa academia - Naruto revirou os olhos.

- Ninguém sabe o que fazer no começo, Teme. Você não tem que ser naturalmente bom em tudo, sabia? - Sasuke riu enquanto subia na moto e colocava o capacete. Naruto cheirava a sabonete. Ele abraçou a cintura do loiro e o deixou guiar o veículo até o destino deles.

Aquele era o seu novo começo. O começo de uma jornada que ele sabia que teria altos e baixos. Teria desistências. Teria dor. Mas ele se conhecia bem agora e, não importava o que acontecesse, ele saberia se levantar. Ele sempre conseguiria no final.

[...]

Naquela segunda-feira Sakura acordou esgotada depois de trabalhar a madrugada inteira e só ter conseguido dormir duas horas. Se encarou no espelho decepcionada consigo mesma. Não porque aquele foi o melhor trabalho que ela conseguiu, e sim porque ela percebeu o quanto era fraca por se desgastar tanto tentando provar que era forte. Ela não era forte. Ela não tinha condições de trabalhar durante a noite. Ela precisava dormir. Precisava descansar aquele pescoço tenso. Tinha direito de se sentir horrível em um lugar onde a tratavam como lixo e tinha direito de querer sair de lá.

Seu celular estava lotado de mensagens que ela não respondia há dias. Ino, Naruto, Sasuke, uma garota bonita, e Tsunade, o que a fez ter um estalo. Tsunade conhecia muita gente. Tsunade com certeza poderia ajuda-la.

Depois de tomar um banho frio e vestir a única calça limpa que tinha, ela prendeu o cabelo e percebeu que estava se abandonando. Ela costumava ter prazer naquele ritual. Sempre foi uma pessoa matinal e agora estava exausta. Sempre sobrevivendo com as pílulas de cafeína e remédios para ansiedade, tendo plena ciência de que seu organismo não ia suportar aquele choque de substâncias pouco compatíveis por muito tempo.

Pegou o primeiro ônibus do dia e chegou na sala de Tsunade enquanto a mulher ainda estava organizando a mesa, tendo acabado de chegar.

- Licença, professora - ela disse - Desculpa vir aqui tão cedo.

- Bom dia, Sakura. Não tem problema.

- Preciso conversar com a senhora - disse e Tsunade assentiu indicando a cadeira à sua frente, na qual Haruno sentou imediatamente - Eu preciso de um emprego. Eu tenho trabalhado à noite, mas... O lugar é perigoso e tem esse... chefe. Ele é um babaca e eu passei esse mês inteiro exausta e não queria desistir, eu não quero que ninguém me sustente, eu quero fazer isso sozinha, mas Tsunade... eu não aguento mais. Eu não aguento mais passar por isso. Eu preciso de ajuda e preciso de um emprego. Um que seja durante a tarde ou os fins de semana, ou os dois, e que eu não seja tratada como um lixo. Por favor, me ajuda. E não me diz que eu posso contar com os pais dos meus amigos. Eu sei que eu posso, mas eu não quero. Eu não sou filha deles.

Tsunade suspirou aliviada.

- Finalmente você pediu ajuda, Sakura. E eu sei exatamente o que fazer.

O Sol Vai Voltar | SNSOnde histórias criam vida. Descubra agora