Dizem que o ano só começa depois do Carnaval, então a festa marcou o final do sossego dos jovens terceiranistas. A Escola de Ensino Médio de Konoha era conhecida por ser humanizada, mas no fim das contas, não era tão diferente das escolas das outras cidades e estados. Todas as aulas eram apressadas, com listas de exercícios gigantes e os mesmos discursos sobre dar valor ao esforço dos pais, porque eles davam duro para darem o melhor para os filhos, e eles precisavam retribuir. Para Sakura, cada palavra era um soco no estômago.
Naruto tentou diferentes estratégias para focar no seu objetivo, entre faltar as aulas de exatas ou comparecer em todo e qualquer horário que aparecesse, mas focar era uma missão impossível e ele estava acabando com o estoque de ritalina mais rápido do que deveria. Ele tinha que tomar um comprimido por dia, em um horário definido por ele previamente, por razão de seu TDAH. Mas achava que as horas que um comprimido lhe mantinham focado não eram suficiente. Voltava a se sentir mal, porque ser neurodivergente o colocava atrás de todo mundo. O deixava atrasado. Seus amigos precisavam, no máximo, de café. Shikamaru e Sasuke não precisavam nem estudar tanto tempo, já eram gênios naturalmente. E as horas estudando em casa eram terríveis.
Sempre Kushina e Minato em pé de guerra, com os comentários sarcásticos de Kushina sobre como o marido via mais os réus presos do que ela, e todas as ofensas que Minato proferia para a sogra, apesar de ser naturalmente gentil, o quanto eles faziam questão de aparecer em casa em horários diferentes.
Já eram quase duas da manhã quando ele percebeu a perna tremendo de tanto balançá-la. Estava sentado há horas olhando para o mesmo parágrafo e sua mente já dera tantas voltas sem ele perceber que saiu da física e chegou no casamento fracassado de Minato e Kushina. Ele tentou de tudo. Desligou o celular, pediu para Kurama ficar com o aparelho, ficou no escritório do pai, estudou na escola, fez mapas mentais, fez questões, mas era impossível. Ele simplesmente não conseguia.
Havia um motivo bom pelo qual Naruto queria fazer Direito: ele era excelente nas matérias de Humanas, além de ter um senso crítico-argumentativo sem igual. Conseguia estudar as matérias por horas, embora sequer precisasse, porque entendia rápido, interpretava bem e sabia aplicar ainda melhor. Mas quando se tratava de Ciências da Natureza, toda essa genialidade era inversa e ele não conseguia aprender. Quando conseguia, não tinha o suficiente para entender as questões, cujos enunciados eram sempre cheios de enigmas. Por mais que ele treinasse e fizesse questões, simplesmente não sabia o que fazer.
Encarou o relógio e sentiu as lágrimas escorrendo em desespero. Pensou em não dormir e estudar até ter que se arrumar de manhã, mas conhecia a si mesmo e sabia que só ia piorar tudo. Era frustrante, no entanto. Insuportável. Dava vontade de bater com a cabeça na parede só de pensar em quantas horas havia ficado sentado ali, tentando. Todo aquele tempo perdido. A perna mexia cada vez mais rápido e as lágrimas desciam mais e mais. Sua respiração começou a desregular de maneira agressiva e quanto mais ele tentava a normalizar, mais difícil se tornava respirar. O ar simplesmente não entrava e nem saía mais. Ele tentava inspirar e expirar e era incapaz de o fazer, de forma que se sentia sufocado. Sentia as mãos tremendo e o choro vinha mais e mais forte, agressivo, doloroso, e queria gritar. Queria gritar por Kurama no quarto ao lado, mas não conseguia. Nenhum som saía da sua garganta. Ele teve certeza de que ia morrer naquele momento.
Batia na mesa, tentava gritar de novo, e começou a pensar em Sasuke e em como queria poder se despedir dele antes de realmente morrer. A dor no peito começou forte, apertando, o coração acelerado. Kurama escutou as batidas na mesa e abriu a porta de uma vez. Puxou o loiro para si e o abraçou com força, tanta força que doía.
- Respira junto comigo. Junto comigo, Naru.
Naruto, tendo a segurança dos braços do irmão, sentiu seu peito subir e descer no mesmo ritmo que Kurama respirava. Aos poucos sentia o ar voltando para seus pulmões e as lágrimas saíam de forma silenciosa, sem aquela agonia desesperadora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Sol Vai Voltar | SNS
أدب الهواةOnde o último ano do ensino médio coincide com diversos dilemas pessoais e tudo o que eles sentem é elevado à décima potência. Avisos: depressão; ansiedade; referência a abusos físicos, sexuais e psicológicos; homofobia; bifobia; álcool; drogas; lin...