Quatro

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Eles estavam na casa dos Uzumaki quando Sasuke contou para o namorado o que aconteceu com Sakura. Como o Uchiha já previra, o loiro chorou. Sentiu-se impotente por saber que não havia nada que podia fazer para ajudar. Depois dele, Fugaku e Mikoto também ficaram sabendo. A mulher ficou chocada e Fugaku ficou tão puto que Itachi e Shisui tiveram que segurá-lo para explicar que Sakura não queria denunciar a mãe e que já foi um sacrifício ela permitir que qualquer adulto ficasse sabendo.

Ino realmente moraria em definitivo com os Yamanaka, e tanto os Uzumaki quanto os Uchiha se comprometeram em ajudar financeiramente. A preocupação era terapia e segurança, o resto não importava.

[...]

A relação entre Kurama e Kushina nunca foi as mil maravilhas, e mesmo com todas as coisas horríveis que ele viveu, ela não conseguia ir lá e dar a ele seu apoio. Era como se existisse uma barreira invisível que a impedia de chegar até lá.

Kurama tocava bateria desde os dez anos e no geral ninguém se incomodava muito. Todos na família eram realmente barulhentos, com exceção de Minato, mas ele tinha se acostumado e dizia que a bateria era a forma de Kurama se expressar, já que ele não falava muito. No entanto, conforme foi crescendo, o ruivo foi se distanciando cada vez mais dos padrões que seus pais esperavam. Ao invés de fazer faculdade, ele serviu ao exército alguns anos e ao invés da experiência lhe transformar em um conservador disciplinado, o transformou em alguém revoltado e lhe deu o hábito de usar coturnos e uma jaqueta verde militar com as mangas rasgadas.

Ele queria viver de música. A Kyuubi tinha potencial, eles conseguiam um dinheiro razoável nos shows locais que faziam e o trabalho dele na loja de instrumentos era suficiente para viver em paz. Kushina não aceitou muito bem. Na verdade, ela surtou.

Chamou-o de fracassado, de vergonha da família e de drogado sem futuro, disse que o odiava e que não queria nunca mais vê-lo, e Minato acabou não tendo argumentos para impedi-lo de sair pela porta de mala e cuia naquela noite. Sabe-se lá para onde ele foi. Naruto tinha ouvido toda a discussão do topo da escada e as palavras da sua mãe machucaram como se tivessem sido com ele. Não era justo que seu irmão, seu herói, fosse chamado de fracassado, de vergonha da família, de sem futuro. E sobretudo, era cruel jogar na cara de Kurama sua relação abusiva com as drogas, como se ela não soubesse do que ele tentava fugir quando se entorpecia.

Kushina tomou remédios antidepressivos por quatro anos. Cada dia sem ver Kurama era como uma facada no seu peito. Naruto oscilava entre sair de casa para esquecer o inferno que era aquele ambiente, e ficar para tentar dar suporte à sua mãe. Parte dele dizia que ela era a culpada por sua família estar fragmentada daquela forma. A outra parte dizia que Kushina estava com medo de Kurama se machucar ainda mais e reagiu da pior forma possível. Naruto sabia que algumas coisas se explicam, mas não se justificam. Minato se atolou no trabalho porque não suportava aquela situação. Olhar para Kushina era lembrar daquela noite, a saudade do filho e a preocupação eram insuportáveis e era constante o arrependimento que ele sentia por ter casado tão jovem, por pressão da mãe de Kushina por causa da gravidez.

Kurama não se importava em provar nada para ninguém. Por isso ele nunca mudou de emprego, nunca ostentou dinheiro e nunca tentou provar que não era mais um drogado. Não fazia diferença para ele a opinião de Kushina naquele momento. Se ela não acreditava nele e não se importava em o ferir, tudo bem, ele ia embora. Começou a dividir as contas e o apartamento com Yugito, a guitarrista da banda e melhor amiga dele.

O dono da loja que Kurama trabalhava gostava de fazê-lo tocar os instrumentos como forma de propaganda e o ruivo recebia a mais para isso. E estava tudo bem. Ok, ele estava afundado na heroína e não tinha nenhuma vontade de parar, porque achava que não ia aguentar viver um minuto sequer no mundo real, mas tecnicamente, estava sobrevivendo de música. A depressão não o assolava tanto quando estava sob efeito da droga e Yugito não era de cobrar muito dele. Ela só estava lá, lhe fazendo companhia.

Aos poucos Minato conseguiu contato com ele e tentou lhe oferecer dinheiro, mas ele não aceitou. Informou que não precisava. Só pediu para poder ver Naruto de vez em quando. A primeira vez que eles se encontraram depois de tudo, ele decidiu que ia completamente sóbrio. Não podia encontrar Naruto entorpecido. Com o tempo passaram a se ver toda semana e sempre que chegava o dia marcado, Kurama dava um tempo da heroína. O problema é que seu corpo nunca passava tanto tempo sem, e foi em um desses encontros que ele teve sua primeira crise de abstinência. Naruto, Kushina e Minato o viram, pela primeira vez em quatro anos, deitado em um quarto de hospital com diversos fios ligados a ele.

A forma como Kushina chorava afetada se perguntando onde tinha errado e Minato o olhava com óbvia decepção fizeram o ruivo automaticamente sentir pavor daquela família. Revirou os olhos e foi afiado em sua réplica: ele não tinha nada a provar para ninguém, e não sabia por que estavam tão surpresos, já que a própria Kushina o havia chamado de drogado.

As coisas só começaram a melhorar quando Minato os convenceu a frequentar terapeutas. Aos poucos eles conseguiram conviver cordialmente, embora Kushina agisse, muitas vezes, como se nunca tivesse feito nada de errado. Já Kurama usava Naruto como motivação para aguentar Kushina e o tratamento contra a heroína.

Ela eventualmente implorou que ele voltasse para casa, e eles fizeram um acordo: até Naruto começar a faculdade.

Kushina comprou uma bateria nova para de desculpar, mas Kurama a vendeu e depositou o dinheiro de volta para a mãe. Eventualmente a relação entre os dois se tornou amigável, embora ele jamais fosse voltar a chamá-la de mãe. A mulher se contentou com aquilo e em alguns meses já não tomava mais tantos antidepressivos. Minato passou a trabalhar um pouco menos e Naruto fazia sua parte, tentando lembrar seu irmão do quanto ele era incrível.

[...]

Quando Kurama acordou, tinha um post-it laranja colado na testa. Nele tinha escrito: Grande dia, rockstar. Você é o meu maior orgulho. Amo você. Kurama sentiu os olhos lacrimejarem. Esses bilhetes o lembravam sobre a sensação de ser verdadeiramente amado. Por causa deles, Kurama conseguia levantar, encarar a mãe e até sorrir.

Quando ele viu que os pais de Sasuke haviam chegado, achou que era uma reunião amigável e desceu as escadas para participar também, até perceber que o assunto não era nada alegre. Quando ouviu sobre o que os pais de Sakura haviam feito, inconscientemente encarou Kushina e reconheceu aquele olhar. Era culpa. A culpa de quem, de fora, reconhecia que isso era uma atrocidade, mas ao mesmo tempo já tinha estado dentro da situação. A mulher quebrou a xícara que segurava e começou a tremer. E quem a amparou não foi Naruto nem Minato. Foi Kurama. Kurama e seu coração cheio de de empatia, por mais que também estivesse completamente em pedaços. Segurou-a pelos ombros e a olhou nos olhos.

- Calma, Kushina - disse com a voz firme - nós vamos cuidar dela.

E a ruiva assentiu com lágrimas de gratidão nos olhos, reconhecendo o esforço que o filho fazia naquele momento. Naruto, vendo a interação, sentiu um peso a menos no peito e se colocou entre os dois os puxando para um abraço. Ele era a liga inquebrável daquela família.

O Sol Vai Voltar | SNSOnde histórias criam vida. Descubra agora