O resultado do vestibular veio em uma quinta-feira chuvosa e triste. Não era possível ouvir os miados de Matatabi, nem os latidos dos cães dos Uchiha, sequer os passarinhos do hospital veterinário dos Inuzuka. Só a chuva. Do lado de fora das casas e dentro dos corações dos jovens.
Naruto e Sasuke estavam no chão do quarto do loiro. Kurama e Yugito tinham ido até lá e estavam sentados no parapeito da janela encarando os recém-adultos que tinham cada um o celular na mão.
Quando a nota saiu, Naruto sabia que jamais conseguiria passar em Kumo, então ele ponderou. Não adiantava colocar com a certeza de que não entraria nem na lista de espera. Mas se passasse na segunda opção, não ficaria na lista de espera em sua primeira opção, então tinha medo de colocar Oto, que era possível, e perder a lista de espera de Kiri. Isso foi o que ele pensou no começo.
Naruto nem lembrava quando tinha começado a se importar com isso. Com o lugar onde faria faculdade. Sabia que, no começo, quando decidiu fazer Direito, estava disposto a estudar em qualquer lugar. Mas ele achava que, depois de tanto ouvir Kushina e Minato falando sobre o programa de estágio e os professores escritores de Kiri e Kumo, e que era um orgulho estudar nessas universidades, e que Minato se formou em Kumo, e como Naruto deveria desejar isso, ele começou a achar que deveria desejar só isso também.
Foram noites em claro com Kurama no telefone perguntando se Naruto tinha ponderado outras coisas. Em Kiri e Kumo, com quem ele iria morar? Ele conhecia as cidades? Saberia se virar? Por que Oto é tão ruim assim?
Kurama o lembrou que Oto era a cidade mais bonita do País do Fogo, da música e da comida de rua, das bibliotecas, das lojas de instrumentos, dos teatros onde ele poderia tocar com a banda. De Hashirama e as oportunidades que o homem conseguiria para ele. E de Sasuke.
Por que não levar Sasuke em consideração? Por que não unir o útil ao agradável? Por que não considerar Oto, se ele pudesse ficar perto de quem amava, de quem era sua família?
Então Naruto escolheu colocar Oto na primeira opção. Nem se importava mais com o que seus pais iam pensar quando soubessem que ele nem tentou outra coisa. Oto tinha o curso que ele queria, e Oto era onde seu coração estava.
- Você não foi meio radical demais? - Kurama perguntou uma vez - Podia colocar Kiri na primeira opção.
- Eu sempre quis ficar perto dele. Eu só precisava que alguém me dissesse que estava tudo bem em querer isso. Eu tinha medo que...
- Kushina e Minato te achassem fraco. Você é a pessoa mais forte que eu conheço, Naruto.
- Não. Eu sou um pouco mais forte porque tenho você.
É por isso que, naquela quinta-feira, quando o resultado saiu e ele viu que tinha sido aprovado, não conseguiu conter as lágrimas. Era como uma libertação. Um caminho. E ele nem tinha contado a Sasuke a decisão que tinha tomado.
- O que foi, Naru? - o Uchiha disse se aproximando.
- Eu consegui, Sasu - e mostrou o celular para ele.
- Oto? Mas eu achei que você... - Naruto tinha colocado Kumo na segunda opção só para ter certeza de que não iria ficar pensando no resultado, já que nunca passaria com aquela nota.
Sasuke olhou aqueles olhos grandes azuis cheios de lágrimas e achou que não poderia amá-lo mais do que isso (no futuro ele aprenderia que poderia sim). Abraçou o namorado com força, o embalando numa aura de amor e orgulho infinita. Kurama e Yugito não se contiveram quando foram até Naruto para abraça-lo também.
- Parabéns, Gaki. Tenho muito orgulho de você.
- Olha o seu também, Sasu - Yugito pediu.
Sasuke, que tinha escolhido Literatura na primeira opção e Artes Plásticas na segunda, em Oto, nem precisava olhar para saber que tinha passado, com a nota alta que tirou. Mas era bom ver o orgulho estampado nos olhos de Naruto e, depois, ganhar os abraços apertados de Kurama e Yugito.
Depois eles ligaram para os amigos para descobrirem, entre choros e gritos, que Ino e Sakura fariam Enfermagem em Suna, Shikamaru iria para Suna também fazer Engenharia Mecânica - e ficar perto de Temari - e Gaara não tinha passado em nada, mas iria para casa. Sai também não tinha conseguido.
Hinata não tinha conseguido, mas ia fazer cursinho em Kiri, qualquer coisa para sair de casa. Kiba não tinha condições de ir com ela ainda, e também não tinha passado. Tenten, pela segunda vez, não entrou em nada. Neji sim.
Então eles decidiram se encontrar porque, no fim das contas, eram girassóis. Precisavam da luz uns dos outros se faltasse a luz do sol.
[...]
A casa de Naruto estava cheia de jovens, com Kurama e Yugito os supervisionando. A cerveja, a vodka e os petiscos estavam liberados, com a condição de limparem tudo depois e de não usarem drogas. Kurama estava com deitado com a cabeça em uma perna de Yugito, Matatabi na outra perna. A gata fazia um carinho esquisito no cabelo do ruivo e recebia carinho da loira.
Os jovens estavam sentados em círculos, abraçados. Kurama já tinha passado por aquilo e sabia que o vestibular não é o fim, nem o único caminho. Mas entendia toda a pressão que vinham sofrendo há três anos, além das cobranças e motivos pessoais que tinham, situações em suas casas. Sabia que eles eram só adolescentes.
Sabia que Hinata faria qualquer curso apenas para se mudar da casa dos pais e não precisar mais ouvir que era um fracasso, que Tenten era filha única de uma família com poucas condições financeiras, e aquela faculdade seria mudar a vida dela e de sua mãe. Enfim, ele conhecia os motivos. Compreendia todas aquelas lágrimas, aqueles apertos nos peitos dos jovens, aquelas mãos trêmulas. Eles ainda não sabiam o quanto eram jovens.
- Toca pra eles, Kura - Yugito disse. Naquele momento ele só dedilhava baixinho no violão de Naruto.
Ele era talentoso. Ele era bom baterista, mas não tinha nada, musicalmente falando, que ele não soubesse fazer bem. A voz dele era como um grande presente, uma dádiva.
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vemNaruto suspirou em profunda gratidão enquanto a voz do irmão mais velho se fazia ouvir em toda a sala. Todos eles deitaram no chão, ainda abraçados com os seus, cada um mais próximo daqueles com quem tinham maior afinidade, com quem sabiam poder despejar todas as suas dores e temores, com quem poderiam despejar seus corações inteiros sem medo de julgamento.
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmoQuem acredita sempre alcança
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vemNunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguémTem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmoE se algum deles ainda tinha alguma dúvida de que eles eram os girassóis, que na falta do sol, cediam sua luz uns para os outros, naquele momento não tinham mais. Afinal de contas, o sol estava ausente, e lá estavam eles esquentando os corações uns dos outros, sendo a luz que precisavam, pegando a luz que emanava de Kurama, de Yugito, de Naruto, enfim, daqueles que faziam o melhor para se doarem para os outros. E eles seguiam, seguiam na maior certeza que poderiam ter: a de que o sol vai voltar amanhã. Mais uma vez. Ele sempre volta.
Quem acredita sempre alcança
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O Sol Vai Voltar | SNS
FanfictionOnde o último ano do ensino médio coincide com diversos dilemas pessoais e tudo o que eles sentem é elevado à décima potência. Avisos: depressão; ansiedade; referência a abusos físicos, sexuais e psicológicos; homofobia; bifobia; álcool; drogas; lin...