Capítulo 14:

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Daven

Enquanto Abby e Alisson brincam com um jogo da memória. Eu deito em minha cama, e pego meu notebook. Começo a passar algumas fotos de vários momentos das minhas filhas que Alda e eu sempre fazíamos questão de registrar.

Eu olho para elas e me sinto com muita sorte. Sinto-me com o dever cumprindo. Você já teve algo que faz você se sentir bem? Não é fácil sentir tanta paz e segurança. Eu consegui. E espero que isso dure o máximo de tempo possível.

Sorrio quando vejo uma foto onde Abby era apenas um bebezinho. E estava toda enrolada em um lençol rosa. Passo para outra, e paro um pouco. Esta foto foi uma grande surpresa para Alda, eu consegui capturar um dos momentos em que ela deixou suas emoções rolarem sem freio.

Foi quando o primeiro dente de Alisson estava fora. Ela correu para sua mãe com o dente na palma da mão, e eu rapidamente peguei a câmera para registrar o momento. Meu peito aperta com a lembrança. Parece que foi ontem.

Chego em outra foto, e balanço minha cabeça quando o acontecimento daquele dia volta para minha mente. Dessa vez foi Alda que tinha capturado. Lembro como se fosse hoje. Nós tínhamos voltado do parque e eu estava verificando os bolsos do casaco de Abby antes de lavá-los.

Eu não estava fazendo uma cara boa porque mesmo a gente não indo em algum lugar com pedras, Abby sempre achava um jeito de encontrá-las. E graças a sua obsessão por coisas inusitadas, a nossa máquina de lavar foi para o conserto muitas vezes. Tivemos sorte que essa fase passou depois que ela fez quatro anos.

Dou dois cliques no teclado, e uma foto que eu não esperava aparece na minha tela. É de Alda, e provavelmente fui eu quem capturou ela. Nesse dia ela estava usando um vestido vermelho, e seus cabelos loiros estavam bagunçados por causa do vento. Alda era sexy, e sabia como me deixar enciumado.

Lembro que nesse dia eu precisei colocar uma carranca no meu rosto para espantar os olhares dos outros caras. Nós tínhamos deixado as meninas com os avós maternos, e nós saímos para curtir a noite. Alda sempre conseguia me surpreender pela forma como dançava.

Eu aproveitei aquele momento para pegar a câmera e registrar o quanto que ela não tinha medo de arriscar, e ensaiava muitos passos movendo seu quadril sem esconder seu atrevimento nas mangas. Eu aproveitei que ela não estava olhando para capturá-la em um ângulo perfeito.

Alda era tão feliz do jeito que ela era. Às vezes é difícil de acreditar que eu não irei mais vê-la. E eu pensei que perdê-la fosse a coisa mais difícil de suportar. Mas saber que minhas filhas irão crescer sem ela, é o que me mata um pouco mais.

Esfrego meus olhos, e decido que a próxima foto será a última que eu vou olhar. Sentir saudade significa que nos importamos com o que aconteceu, mas eu não posso deixar minha vida passar e ficar remoendo o que ficou para trás.

Clico na próxima foto, e meu coração queima quando vejo o retrato da nossa família. Apenas nós quatro. Nesse dia tivemos um clima muito selvagem. Foi uma mistura entre um dia de verão ensolarado e uma chuva completa. Abby e Alisson eram mais pequenas do que são agora, e ambas estavam brincando na rua com os pés cheios de pedaços de grama.

Alda e eu estávamos apenas assistindo-as brincarem pelo nosso pátio, até escutarmos o som estrondoso de um trovão, e corrermos para nós banhar na chuva com nossas meninas. Não me lembro como... mas nós conseguimos registrar esse momento. Olhando para foto agora, parece que tudo continua como era. Mas não é verdade. Nada mais é o mesmo.

Fecho a tampa do notebook, e o empurro para lado vazio do meu colchão. Coloco minhas pernas para fora da cama, e levanto sentindo todo cansaço pesar sobre meus ombros.

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