Capítulo 65:

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Valley

Meu corpo pula quando escuto uma batida no vidro. Viro lentamente para o lado e vejo o cara que eu costumava amar e acima dele um céu começando a ficar feio.
Engulo em seco.
Eu não estou preparada para isso. Acho que nunca vou conseguir. É tão difícil.
Dói tudo dentro e fora de mim.

Ele bate mais uma vez, e eu me obrigo a abrir a porta. No meio do caminho eu me xingo por não ter apenas aberto o vidro.
Seria mais fácil assim.
Cubro minha barriga com meu casaco na tentativa de não fazê-lo perceber no primeiro momento. Não quero que ele pense que só voltei porque estou carregando um filho seu.
É muito mais do que isso.

— Oi. - cumprimenta ele, assim que desliza para o banco do motorista ao meu lado.

Meu corpo congela, e eu tento fazê-lo relaxar mas com o seu cheiro paradisíaco tomando conta do carro está sendo mais difícil do que eu imaginava que seria.
— Oi. - digo de volta.
Mas a boca que costumava me beijar, agora não me dá nada, nem mesmo um sorriso. Meu coração dói por isso.

— Desculpe o lugar para conversar. Mas Ness não me deixou acompanhá-lo.

— Ele fez bem. - declara Daven, e suas palavras me atingem duramente. — Abby está em casa, e eu não quero que ela te veja.

Oh.
Olho para cima na tentativa de não fazer as lágrimas voltarem, mas é quase impossível. Minha visão nubla.
— Eu entendo, e sinto muito.

— Não é nada contra você, Valley. É só que Abby se apega muito rápido as pessoas. E foi bem difícil para ela superar o desvinculo. Não quero que ela sofra novamente.

Uso minhas mãos para secar meus olhos. Porque isso dói? Porque não é fácil?
— Não se preocupe, eu entendo. Você só está fazendo seu papel de pai. E você sabe melhor do que qualquer um de nós, o que é bom ou ruim para ela.

Ele passa o polegar por cima das sobrancelhas, e eu me pego observando-o como seu eu tivesse assistindo o meu filme favorito. O tempo passou mas ele continua lindo, do jeitinho que eu me apaixonei. Pena que agora ele está tão bravo comigo e eu não vou poder matar a saudade que sinto dele.

— O que foi que trouxe você para cá?

Sua repentina mudança de assunto me pega desprevenida. Sem mais risco de lágrimas, eu viro para encará-lo novamente. Eu senti tanta falta do seu rosto, do seu sorriso, dos seus olhos, do seus beijos.
Será que ele sentiu o mesmo?

— Eu queria te pedir desculpas. - confesso baixinho, ele mantém seus olhos em mim, mas seu olhar não é mais tão gentil como era antes. Sinto-me febril. — Eu não devia ter acusado você da boca para fora. Eu não deveria ter vasculhado seu celular, e ter acreditado naquelas bobagens. - cubro meu rosto e tento segurar um grito de frustração. — Eu me odeio por ter deixado minha curiosidade me cegar. Eu sinto tanto por ter magoado você, Daven. - deixo minhas mãos caírem, e olho para ele sem esconder meus olhos chorosos e vermelhos. — Você consegue acreditar em mim? Estou tão arrependida por ter passado por cima dos nossos sentimentos. Eu só queria ter a chance de voltar atrás para refazer aquele dia de uma forma diferente, de uma forma que deveria ter sido.

Ele não diz nada, apenas fica me olhando como se quisesse descobrir alguma coisa. Eu tremo sob seu olhar. Não é duro. Mas também não é gentil. É sério. E sem emoção. Eu estou fazendo de tudo. Estou tentando e tentando. Mas se ele me empurrar para longe... Se ele me mandar ir embora... eu não sei se vou ser capaz de levantar da escuridão.

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