Capítulo 67:

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Valley

— Você tem café? - pergunto, algumas horas mais tarde, quando encontro Daven sozinho na cozinha.

— Olha para mim. - pede ele. — Eu sou um pai solteiro. Café não pode faltar nessa casa. É a única droga que me mantém em pé.

Sorrio olhando para sua expressão cômica. Me aproximo mais, e paro quando lembro que não sei onde é que as louças ficam nesses armários. Há muitos deles entorno de toda a cozinha. Eu acho até que foi planejada para ocupar todas as três paredes desse quadrado. A única parede que sobra é onde tem uma janela, e embaixo dela está o balcão com a pia, e uma estante escada com alguns cestos coloridos.

Percebendo a confusão em meu olhar, Daven vai para o armário suspenso no ar, e abre duas portas de madeira branca.
— Não esquece de me lembrar amanhã de pedir para Alisson desenhar um mapa para você.

Levanto uma sobrancelha, e o encaro. Mas o que vejo é só suas costas definidas e transpirando sob sua camiseta branca.
— Um mapa? - pergunto ainda mais confusa.

— Sim. Para você conseguir se achar nesta casa.

Reviro meus olhos diante do seu comentário. Ainda sim meu coração bate animado. Eu tinha me esquecido do quão bom é estar envolta dele. E do quão divertido é quando nós zoamos um com a cara do outro. 
— Você só pode estar brincando.

— É sério. - insiste ele, me entregando uma xícara de porcelana rosa. — Eu não estou em casa todo o tempo, e as meninas ficam na escola.

— Eu posso ser capaz de encontrar tudo por minha conta. Só me de alguns dias.

Vou até a cafeteira ao lado do microondas, e me sirvo de café quase até a borda. O cheiro da bebida preenche toda a cozinha. É a primeira vez que eu estou em sua casa. Mas ao mesmo tempo parece que eu já estive aqui antes. Não sei. Não me sinto como uma intrusa. Ou perdida. Sinto-me como se eu já fizesse parte disso. Parte deles.

— Alguns dias... - ele repete, e de repente fica me encarando em silêncio. Meu coração parece que desperta. E eu começo a sentir borboletas voarem em meu estômago.

— Você tem noção de quantos dias pretende ficar?

Oh.
Eu não tinha me preparado para essa pergunta. Embora eu não tenha trazido muitas roupas. Não era minha intenção ficar por pouco tempo.

— Sinceramente? Eu não sei. Eu só trouxe roupas pra no máximo cinco dias.

Ele se serve de mais café, e assente olhando para a bebida escura em sua xícara.
— Certo.

Sua resposta me deixa nervosa. Não sei. Eu não gosto quando ele é contido. Preciso destruir esse muro. 
— Nós precisamos conversar, Daven. - peço, e não consigo esconder o tom desesperado em minha voz.

Mas é o que é.
Eu me sinto assim desde que coloquei meus pés dentro dessa casa. Não ajudou quando eu li uma história para Abby dormir, e quando ajudei Alisson com o tema da escola. Eu só fiquei pior depois disso. Eu amo tanto elas. Eu gosto de compartilhar esses momentos com eles. Me sinto viva. Me sinto parte da família.

— Eu sei... - ele faz uma careta parecendo cansado. — A gente pode fazer isso amanhã? Eu já tive muito hoje.

— Oh sim... – engulo em seco. — Claro. Amanhã.

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