Capítulo 74:

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Daven

Já passou mais de um mês desde que voltamos do hospital. Tem sido uma aventura e tanto ter Archer em casa. Mas ele tem sido bonzinho com nós desde que saímos do hospital. É claro que ele chora quando está com fome, chora quando precisa ser trocado, e chora quando quer um pouco de colo. Mas isso não está nem perto de toda loucura que foi quando Abby era bebê.

Ela foi muito exigente comigo e com Alda, e posso julgar que o culpado foi nós por ela ter crescido uma menina teimosa. Nós fazíamos todas as suas vontades. Com Archer eu quero que seja diferente, embora eu tenha receio de que vamos conseguir fazer isso. Ele não tem só eu ou Valley, ele tem duas irmãs para mimá-lo também. Pode ser o bastante para torná-lo um menino selvagem como suas irmãs mais velhas.

— Papai eu posso segurá-lo? - pergunta Abby enquanto eu embalo Archer de um lado para o outro.

— Ele está dormindo agora. Depois você pode.

Ela não fica contente, mas acaba cedendo.
— Porque ele dorme tanto?

Sorrio, e olho para o bebê em meus braços. Ele parece em paz. Tranquilo. E feliz. E ele nem sabe a família que ele tem agora. Nem sabe o quanto que é amado por todos nós.
— O começo é assim, eles ficam muito tempo dormindo, e mamando. Você também era dorminhoca como ele.

Suas bochechas coram, e ela começa a ficar eufórica.
— É verdade? Eu era como ele?

— Sim, e sabe o que mais? Você não gostava que o papai te embalasse no carrinho. Você só queria ficar nos meus braços.

Ela arregala os olhos com diversão.
— Oh então Archer está fazendo igual eu.

— Você vê. - sorrio mesmo que tenha medo de imaginar que ele pode puxar sua irmã em outras coisas. Como na bagunça. Na barulheira. Na teimosia. Não quero nem ver.

Abby levanta seus olhos quando um barulho na porta ecoa pela casa. Ela pula do sofá, e vai até a porta. Mas antes que possa abri-la, Valley e Alisson já estão entrando na sala.

— Oi gente. - murmura Valley caminhando na minha direção. Eu já sabia que ela faria isso. Tem sido assim nos últimos dias. Ela não consegue ficar algumas horas longe do nosso filho.

— Como ele passou? - pergunta ela esticando os braços para mim. inclino-me pra frente, e coloco Archer em seus braços.

— Dormindo na maior parte do tempo.

— Porque você não o colocou no berço?

Semicerro meus olhos.
— Até parece que você não sabe o porquê.

Ela sorri, e começa a beijar a testa do nosso filho.
— Céus o que vai ser de nós hein?

É o que eu me pergunto todos os dias. Archer é tão pequeno mas já é exigente com a gente. Eu não sei o que tem em sua cama que ele sempre chora quando vamos colocá-lo lá.

Alisson tira sua mochila das costas, e solta ela no chão.
— Oi pai. - cumprimenta ela antes de desabar no sofá.

— Como foi a escola? - pergunto sentando-me do lado dela.

Seus ombros se agitam.
— Foi normal.

Levanto uma sobrancelha. Tem sido um tempo desde que ela só responde isso quando pergunto como foi na escola. No começo Valley achou que fosse por causa de Archer, mas acabamos nos dando conta que não. Porque em casa ela tem sido mais falante, e tem interagido com o irmão.

Também pensamos que fosse porque Abby está sem escola nesses três dias, e só ela está tendo um tempo longe da gente. Mas eu não sei se realmente é por isso que ela está agindo assim, ou se alguma coisa está acontecendo na escola.

— Amanhã vai ser eu quem vai levá-la pra escola. - aviso, já que hoje Valley a levou. — Será que vou conseguir um tempo pra falar com sua professora?

Ela se vira pra mim rapidamente.
— Mas porque você que falar com ela?

— Quero saber como andam as coisas por lá.

Ela cruza os braços.
— Você sabe que eu me comporto. Eu não sou a Abby, lembra?

Sorrio um pouco, mas continuo olhando-a com seriedade.
— Eu sei disso. Mas... - minhas palavras se interrompem quando ela coloca uma mão para cima. Eu me calo para ouvi-la.

— Pai eu entrego todos meus temas. Você não precisa ir lá.

Valley me olha na mesma hora que eu olho para ela. Não sei porque mas eu acho que ela deve ter pensado o mesmo que eu. Alisson não quer que eu fale com sua professora porque de fato há alguma coisa acontecendo.
Mas é agora que eu vou. Independente se isso vai chateá-la ou não.

— Se você não quer que eu vou, é porque tem um motivo certo?

Suas mãos voam para sua cabeça, e ela começa a sacudi-la. Todo mundo olha pra ela.
Inclusive Abby.
— O que a mana está fazendo? - pergunta ela surpresa.

Balanço minha cabeça, e pouso minhas mãos em cima das pernas de Alisson.
— Filha. - chamo, e ela para. Quando me olha seus olhos parecem zangados. — Eu só quero te ajudar. Você pode me falar. Eu não vou brigar com você.

— Ei... Abby. - interrompe Valley. — Porque você não me ajuda com o banho de Archer?

Abby rapidamente corre para Valley, e as duas começam a subir para o andar de cima. Eu agradeço soprando um beijo para ela. Porra. Ela não sabe o quanto que eu a amo.
Viro para Alisson, e tento de novo:
— Será que tem alguma coisa acontecendo na escola que está te deixando chateada?

Ela balança a cabeça negando.

— Você está encontrando dificuldades com os deveres?

Ela nega balançando a cabeça novamente.
Estou ficando frustrado.
— Você não vai me dizer mesmo? Eu vou ter que ir até a escola para saber?

Ela pressiona os lábios, e fica encarando suas mãos. Eu sei que neste momento ela está travando algum tipo de batalha dentro de si mesma.
— É só que... - começa ela, mas suas palavras param quando as lágrimas escapam. Meu coração se quebra quando eu a vejo em pedaços. Ela nunca demonstrou sua fraqueza antes. Ela sempre foi a mais forte de todos nós.

— Filha. - estico meus braços, e a puxo para meu colo. Ela me abraça enquanto seu corpo treme. Seguro-a com força.
Porra.
Toda sua dor está doendo mais em mim.

— Algumas meninas na minha escola estão me incomodando. - revela ela entre soluços.

Baixo minha cabeça, e planto um beijo em sua testa vermelha e suada.
— Sobre o quê exatamente?

— Dizem que eu não posso ser amiga delas porque eu não tenho mãe.

Oh.
Merda.
Fecho meus olhos quando sinto uma onda de raiva, e dor se espalhar pelo meu corpo. Eu não acredito que existe crianças ruins por aí.
— Sua professora sabe disso?

Ela agita a cabeça negando. E continua chorando em meu peito. Porra.
Eu estou indo para sua escola amanhã.

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