Daven
— No jardim de infância eu brinco só com as meninas. Os meninos não devem estar lá. - diz Abby depois de me contar sobre como foi seu dia na escola.
Eu pensei que sua volta para creche seria difícil, mas ela me surpreendeu quando pegou a mão da sua professora e desejou-me "bom trabalho papai" antes de entrar para sala de aula sorrindo como uma pequena estrela saltitante.
Eu sempre rezo para que seus dias sejam perfeitos, e para que ela se distraia dos últimos acontecimentos. Ainda bem que tudo está indo bem na escola, sabe como eu sei disso? porque sempre quando vou buscá-la, ela nunca quer vir embora.— Posso saber o que você tem contra os garotos? - pergunto fingindo que estou ofendido. Afinal. Eu sou um.
Ela solta seus brinquedos em cima da mesinha, e pula no sofá se aconchegando ao meu lado.
— Eles são chatos, e briguentos.Sorrio quando ela cruza os braços, e faz um beiço.
— Todos eles? - instigo. — Tem certeza de que não têm algum que se salva?Ela coloca o dedo indicador na testa parecendo pensar em uma resposta.
— Acho que não. Mas eu prefiro as garotas.Olho para sua expressão confusamente adorável, e sorrio quando lembro de uma história que ela me contou na outra noite.
— Então isso significa que acabou aquela ideia de você encontrar um príncipe certo?Suas bochechas ficam um pouco vermelha.
— Papai, - ela fica de joelhos no sofá, e coloca suas mãos em meu rosto. Abby sempre faz isso quando quer ter certeza de que toda minha atenção é sua. — Eu posso encontrar um príncipe algum dia, mas você será sempre o meu rei.Porra.
Eu invejo esse dom. Essa capacidade que ela tem de fazer meu coração pular até a lua.
— Você não sabe o quanto eu te amo Abby, - declaro sentindo-me totalmente irradiado. — Tudo em você. Seus olhos verdes. Sua cabeça loira. Sua personalidade forte, sua inteligência e até essa sua teimosia.Ela ri com minhas declarações, mas antes que pudéssemos fazer qualquer outra coisa, a campainha toca. Meus olhos apertam, e ela solta do meu colo e corre na direção da porta. Esfrego meu rosto, e levanto do sofá também. Não consigo imaginar quem pode estar lá fora. Alisson ainda está na escola, e nós dificilmente recebemos visitas desde que Alda não mora mais aqui.
Meu cenho franze no caminho para porta, e minha pergunta ganha resposta quando vejo Abby pendurada no colo do meu melhor amigo, e colega de trabalho.
— Ness? - pergunto um pouco surpreso pela sua visita. Ele não deveria estar em Lewiston?
Abby brinca com seu cabelos, e ele sorri para ela antes de virar para mim. Sua expressão feliz rapidamente muda.
— E aí cara, eu... Bem, eu tenho que falar com você.Não gosto do seu tom. Não parece que virá algo bom. Seja o que for que ele queira falar, eu vou escutar... Mas se for alguma coisa que ele trouxe da sua viagem, isso, eu não quero saber.
Olho para minha filha.
— Abby por que você não volta a montar seu castelo de lego? Papai precisa conversar com Ness.Ela continua brincando com os cachos dele, e apenas dá uma olhada rápida para mim.
— Mas eu quero ficar com vocês. Eu juro que não vou atrapalhar.Fecho meus olhos, e penso por um momento sobre como vou fazê-la mudar de ideia.
— Abby. - chamo, mas Ness me interrompe quando levanta a mão para mim, e dirige sua atenção para minha filha.— Vamos fazer assim. Eu falo com seu pai, e depois eu ajudo você a montar um castelo gigante. O que acha?
Os olhos de Abby crescem mais. E ela levanta os braços para comemorar.
— Podemos montar agora?Ness balança a cabeça negando, eu deixo escapar um sorriso.
— Primeiro eu vou conversar com seu pai.Ela deixa seus ombros caírem. E faz uma careta triste. Eu no lugar de Ness já tinha cedido. Mas ele continua firme na sua combinação e Abby acaba desistindo. Ela desce do seu colo, e volta para sua brincadeira na sala.
Eu olho para trás apenas para verificar se realmente estamos sozinhos, e desde que percebo que sim, eu volto a olhar para frente e fito um par de olhos aflitos.
— Aconteceu alguma coisa? - é a primeira coisa que pergunto. Sua presença em minha casa é tão inesperada quando a ideia de que ele esteja escondendo alguma coisa de mim. Ness nunca foi assim. Nós nunca escondemos coisas um do outro.
Ele faz um sinal me chamando para mais perto, e nós dois acabamos saindo para varanda. Eu encosto a porta atrás de mim, e levanto minhas sobrancelhas.
— Vamos lá. Desembuche. Diga alguma coisa.Ness dá um pequeno giro pela varanda, e apoia suas mãos na cintura.
— Eu vou direto ao assunto. É Valley.Eu sabia.
Porra.
Lá no fundo eu sabia.
Meu coração pesa em meu peito.
— Merda Ness, eu já disse que não quero saber sobre ela.Ele joga os braços pra cima.
— Como você pode dizer isso? Você cansou de me dizer que estava apaixonado.— Sim, eu fiz isso. Mas foi antes, antes dela me deixar decepcionado. Não quero saber se ela está feliz, ou infeliz. Não quero escutar nada do que você tenha para me falar.
— Deixe de ser criança Daven. Aja como um homem e enfrente seus problemas! - grita Ness, e é a primeira vez que ele se altera comigo.
Fico de queixo caído.
— Hã... - tento buscar palavras em minha cabeça, mas não encontro nada, nada além de confusão e surpresa. Eu nunca vi meu amigo tão irritado assim. O que foi que eu fiz?Olho para ele seriamente.
— Existe alguma coisa acontecendo com você? Porque está tão bravo? Valley não é seu assunto. Essa coisa mau resolvida entre ela e eu, não é sobre você.— E eu não sei? Só estou querendo ajudar.
Estou farto de palavras vazias, palavras sem sentidos.
— Porque? - indago, eu preciso de diálogo, de conversa com significado.— Eu acho que isso você tem que perguntar para ela.
Agito minha cabeça, e lhe dou um sorriso cheio de desdém.
— Eu não vou voltar para Lewiston.Ness bufa, e olha para trás. Meus olhos instintivamente segue seu olhar.
Porra.
Porra.
Porra.Eu não estou acreditando no que estou vendo através do vidro do seu carro.
Viro para ele, e minhas palavras escapam furiosas: — Você trouxe a Valley, porra?Ele dá um passo para frente, e pousa sua mão em meu ombro. Não sei porque mas seu toque consegue me abalar.
— Eu já lhe disse isso uma vez, Daven. A escolha é sempre sua: ou você volta pra trás e se rende, ou você empurra pra cima e supera tudo isso.Sem mais palavras, ele se afasta e entra na minha casa. Quando escuto o barulho da porta fechando, eu já sei exatamente o que significa. Levanto meu rosto, e olho na direção do fiat prateado parado na frente do meu portão. Meus olhos rapidamente encontram um par de olhos apreensivos, e saudosos. Não posso deixar de sentir meu peito rachando.
Tomando um pouco de coragem, eu desço os degraus da varanda, e sigo andando pelo gramado torcendo para que o tempo se arraste até eu chegar no carro. É cedo demais para reencontrar Valley. Eu ainda estou lutando para deixar de amá-la.
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TARDE DEMAIS
RomansaDesde que Daven O'Neill se hospedou em minha pousada. Eu estive incrivelmente interessada em descobrir o que levou, um cara bonito e inteligente como ele, a reservar um quarto em minha propriedade por tempo indeterminado. Quem faria isso, certo? Da...