Capítulo 58:

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Daven

— Finalmente de volta em casa. - anuncio assim que abro a porta, e uma lufada de ar cheio de lembranças sai para fora. Faço uma careta, e mantenho a madeira aberta até que minhas filhas se arrastem para dentro.

Abby é a primeira a entrar.
— Finalmente comendo sorvete com Tio Ness no escritório. - diz ela, fazendo mais esforço do que deveria para carregar sua mala até a nossa pequena sala.

Mesmo com pouca vontade de sorrir, eu acabo sorrindo. Abby tem isso. Ela consegue me tirar dos piores momentos.
— Ness está tão cheio de saudade de você. Que é muito provável ele aparecer aqui mais tarde.

Ela solta um risinho, e se atira no sofá.
— Que saudade do meu trampolim favorito.

Fecho a porta, e lanço um olhar sobre Alisson. Ela esteve quieta durante toda a nossa viagem de volta. E eu não consigo imaginar o que é que está incomodando-a. Deveria ser Abby criando problemas, não ela.

— Filha? - chamo, quando a vejo se dirigir, em silêncio, para o quarto.

Ela para no meio do corredor, e vira seu rosto por cima dos ombros. Seus olhos brilham como relâmpagos no céu.
— Sim pai?

— Se você sentir que precisa conversar, eu estarei por perto ok?

Ela me dá um sorriso curto, e meu coração aquece com esse pequeno flash de luz.
— Pode deixar, pai.

Enfio minhas mãos no bolso, e continuo olhando para ela. O que é que está em sua cabeça, hein?
Não pode ser a Valley. Elas até que ensaiaram uma amizade nas últimas semanas, mas Alisson nunca pareceu muito apegada. Ao contrário de Abby. E desde que nós saímos de lá, ela ainda não expressou nenhuma queixa sobre nossa volta para casa.
É estranho que Alisson esteja diferente hoje.

Viro para lado, e descubro que minha aventureira favorita cochilou no sofá. Era de se notar desde que a casa ficou em silêncio muito rápido. Sorrio olhando para a posição engraçada que seu pequeno corpo está. Isso é algo que eu gostaria de entender. Como é que eles conseguem dormir de qualquer jeito? Assim como a Abby, os braços jogados pra cima da cabeça, e as pernas tortas?

Agito minha cabeça.
É bom estar em casa, mas é melhor quando seu coração também quer estar onde você está.

Pego minhas malas, e sigo para meu quarto. Nossa casa não é muito grande, mas é muito convencional para nós. Possui todos os cômodos que uma casa deve ter, e ainda somos privilegiados com uma casa de banho nos fundos que eu costumo chamar de Deck, e um sótão onde Alda preparou a brinquedoteca das crianças.

Alda.
Ainda dói quando lembro seu nome, lembro de tudo que nós vivemos e tudo que perdemos de viver. Eu só queria entender. Queria que ela estivesse aqui e me dissesse aonde foi que eu errei. Eu fiz tudo por ela, fiz tudo pelas nossas filhas. Será que a nossa família não foi suficiente para ela? Será que nós fomos um erro?

Eu nunca terei essas respostas. Nunca. Mas naquela noite eu tive uma ideia delas. Eu não sei como vou contar isso para minhas filhas, nem sei se farei isso um dia. Mas não vou poder mentir quando elas me perguntarei, ou quando forem maiores o suficiente para descobrir por conta própria. Eu só espero que elas possam me perdoar pelo que aconteceu... Se eu não tivesse ido atrás da mãe delas, se eu não tivesse deixado o ciúmes me cegar...

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