Capítulo 70:

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Daven

Mais tarde, depois que as meninas já estão dormindo em suas camas, eu dou uma espiada em meu quarto e encontro Valley ainda acordada.

— Ei. - sussurra ela quando nossos olhares se encontram. Eu sorrio, e enfio meu corpo entre o vão da porta.

— Você deveria estar descansando. - aviso olhando-a  com bastante atenção.

Ela faz uma careta, e olha para suas mãos.
— Eu tentei, mas perdi o sono.

Meu peito aperta.
Eu já imagino o motivo.
— Posso? - pergunto empurrando a porta.

Eu sei que nós já passamos dessa fase. Sei que já dormimos juntos nessa cama desde que ela chegou em Austin. Mas ainda assim parece invasor que eu entre em meu próprio quarto quando ele está sendo ocupado por ela. Aliás, nós tínhamos combinamos de que continuaríamos dormindo separado até que tudo estivesse resolvido entre a gente.

Também temos outro grande detalhe. Que são minhas filhas. Elas não fizeram nenhuma pergunta ainda, mas eu sei que há muito acontecendo em suas cabeças. Precisamos ir lento com essas mudanças.

— É claro. - diz ela, e seus olhos voltam a me encarar. Eles não parecem tristes, ou distantes. É um olhar terno, mas contido.

Fecho a porta atrás de mim, e sigo lentamente para cima da cama. Ela afasta o coberto para o lado, e eu aproveito e me escondo embaixo dele antes dela me cobrir de volta. Nós ficamos sentado lado a lado em silêncio por um tempo que eu nem mesmo sei se pode ser contado.

Eu não faço questão de falar de qualquer forma. Eu sei que já disse muito para ela mais cedo. Aliás. Eu acho que é isso que está em sua mente. Expiro fundo, e olho para frente. E as lembranças da nossa conversa no sofá começam a voltar para minha cabeça.

                          *
— Apenas me conte como tudo aconteceu. - pede Valley depois que nós ensaiamos uma brincadeira de provocação no sofá da minha sala.

Eu já imaginava que ela faria essa pergunta. Eu via os pontos de interrogações dançando pelos seus olhos. Acho que eu não tenho para onde fugir agora. Se eu a quero comigo, eu vou precisar mantê-la dentro da minha história.

Endireito-me no sofá, e estico minha mão até a dela. Rapidamente ela aperta minhas mãos, e eu levo isso como um incentivo para desabafar sobre tudo que aconteceu alguns longos meses atrás.

— Era quinta-feira, e estava quase escurecendo. Alda chegou muito aflita da escola, e disse que precisava voltar para resolver alguns problemas. Eu me prontifiquei para levá-la. Mas ela não quis. Ela bateu o pé dizendo que iria sozinha e que era pra eu ficar com as meninas. Bem. Eu não discuti. Passou meia hora, depois uma... E quando eu já não estava mais aguentando de preocupação, eu liguei para escola e descobri que não tinha reunião nenhuma com minha esposa lá.

— Oh, merda. - murmura Valley, fazendo uma careta.

— Você pode imaginar como é que eu me senti, não é? Mas eu não levei minha mente pra miséria. Eu acreditei que ela estava falando verdade. Ou que pelo excesso de energia que ela estava naquela noite pudesse ter confundido-a sobre o local. Mas passou mais horas, e eu já estava ficando mais puto do que eu gostaria. Então eu coloquei minhas filhas na cama, e peguei as chaves do carro e tentei fazer uma busca rápida pelo centro. Sei lá. Eu pensei que pudesse encontrá-la em qualquer esquina.

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