Capítulo 11:

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Valley

A primavera chegou de uma forma muito rápida. De ontem para hoje as árvores estão cobertas de folhas maravilhosas. O ar está fresco, e o sol timidamente vindo de trás das nuvens. Este é o meu clima favorito. E eu vou aproveitá-lo ao máximo com as janelas abertas do meu quarto.

Depois de receber um caloroso sorriso laranja do sol, eu me afasto da varanda e volto para meu quarto. Acordei com uma energia diferente hoje. Como se eu tivesse prestes à conquistar o mundo. Meu coração está pulsando mais do que deveria, e eu não sei porque tenho estado tão "eufórica" assim nos últimos dias. 

Dou uma organizada na minha cama, e guarda roupa. Aproveito e coloco uma bermuda de jeans simples, e uma blusa de manga curta verde-clara. Prendo meus cabelos em um rabo de cavalo, e calço meu par de chinelos.
Bem.
Não é uma roupa que minha mãe me aconselharia a usar para trabalhar.

Mas eu sempre alego que a gente deve se vestir para se sentir bem e não para agradar aos olhos dos outros. Minha mãe nunca aceita minhas justificativas quando elas contradizem o que ela acredita. Mas o que eu posso fazer se aqui também é minha casa?

Não gosto de usar uniforme, gosto de me sentir livre. Aliás nós nunca tivemos problemas com minhas roupas antes. Não é possível que algum hóspede vá se importar agora. Qual é. Não vejo nada demais em usar short e uma blusa. Afinal de contas eu vou ter um grande balcão para cobrir minhas pernas de fora.

Saio para o corredor, e sinto um pouco de frio nas partes expostas. Mas ignoro. Eu paro na frente do elevador, mas penso um pouco. Talvez seja melhor ir pelas escadas vai que... Jesus. Eu realmente estou pensando nisso? Balanço minha cabeça. Não acredito que eu estava sugerindo descer pelas escadas só para esbarrar com Daven por lá.

Sentindo minhas bochechas corarem com minha ideia pateticamente absurda, eu aperto o botão do elevador, e sigo em frente. Se for para eu vê-lo de novo vai acontecer, independente de eu facilitar esse encontro ou não. Certo?
Bem.
É isso que eu preciso lembrar. Mas sempre acabo esquecendo.

Assim que as portas do elevador se abrem, eu saio. Meu nariz derrete quando sinto cheiro de grama cortada. Meu pai provavelmente está dando algum retoque em nosso gramado. Sigo para o corredor que leva até a sala do café da manhã, e assim que chego na porta de vidro encontro com Olympia saindo.

— Olha! Quem é vivo sempre aparece. - zombo, abrindo meus braços para ela.

Olympia trabalha com a gente faz pouco mais de seis anos. Ela costumava a vir passar o fim de semana na pousada, e acabou gostando demais para conseguir sair dela. Então quando seu marido faleceu, ela venho até nós para pedir ajuda. Minha mãe ofereceu esta vaga para ela, e desde então é Oly quem faz a limpeza da nossa propriedade. 

— Da última vez que verifiquei, você não estava tão radiante assim. - comenta ela, me olhando dos pés à cabeça.

Deixo escapar um sorriso encabulado.
— Isso foi há o que? - brinco tentando me lembrar do dia que ela foi embora. Mas eu sei exatamente quando ela saiu para suas pequenas férias de inverno. Duas semanas atrás.

Olympia me abraça, e nos ficamos uns bons segundos matando saudade uma da outra. Por mais que ela tenha idade para ser minha mãe, nós duas temos um tipo de amizade que a gente só vê no colegial.
Nós fazemos fofoca sobre os hóspedes mais charmosos que passam por aqui. Eu desabafo minhas frustrações com ela. Nós trocamos confidências. Ela compartilha suas experiências. Eu acho que eu poderia dizer que nós duas somos como duas melhores amigas. Ela com seus quarenta e sete anos, e eu com meus vinte e cinco.

— Não finja que você esqueceu garota. Quero que me atualize sobre todas as novidades que está rolando por aqui.

Oh.
Abro e fecho minha boca sem dizer nada, ela imita meu gesto e completa:
— Quero saber de tudo. Sem deixar nada pra trás.

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