Capítulo 8:

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Daven

O dia amanhece com o sussurro do vento batendo na janela. Eu agradeço por me acordar melhor depois de tudo que aconteceu ontem. Verifico meu celular e não encontro nenhuma ligação ou mensagem de Ness. Já é um grande alívio. Porque eu não estou preparado para mais problemas.  Coloco o aparelho de volta em cima da cabeceira, e puxo o lençol para fora das minhas pernas.

Sento-me na cama, e alongo meus braços e costas. Meus olhos fitam Alisson dormindo agarrada em seu tablet. Balanço minha cabeça diante da cena. Eu estava tão cansado ontem à noite que acabei perdendo as rédeas com essa menina. Ela queria tanto ficar assistindo sua série favorita, e no mínimo acabou cochilando no meio do filme.

Viro-me para trás e vejo Abby respirando lentamente. Eu sei que ela vai acordar a qualquer momento, mas ainda assim eu levanto da cama com bastante cuidado. Sigo para porta de vidro, e a abro sem qualquer barulho. Passo para varanda, e logo sou agraciado com um sol bastante animado.

De repente eu começo a pensar nas palavras que Ness me disse ontem, "Eu vejo que você tem apenas duas escolhas aqui: voltar pra trás e se render, ou empurrar pra cima e superar tudo isso." Neste momento, enquanto eu olho para as árvores balançando ao vento, eu fico em dúvida... Sem saber para qual caminho eu devo seguir.

Seria mais fácil se eu não tivesse as meninas. Eu só pensaria em mim, e não me importaria com nada do que estivesse acontecendo. Mas a realidade é outra, e minhas filhas sempre serão a minha única prioridade. Desvio meus olhos para baixo, e vejo o pequeno jardim florido. Um sorriso acaba saindo, e eu sei exatamente o motivo.

Estou me lembrando do rosto de Valley quando ela se assustou quando me viu aqui em cima. Foi engraçado. E eu pagaria para repetir isso.
Sinto uma pressão na minha perna, e de repente um leve puxão. Meu corpo salta quando levo um susto.

— Olá pequena dorminhoca. - digo quando meus olhos se certificam de que o que me assustou não era nenhum bicho.
Era apenas Abby.

Um sorriso sonolento se arrasta pelo seu rosto.
— Bom dia papai. - cumprimenta ela, esfregando os olhos.

Estico meus braços para frente, e a pego em meu colo. Abby encaixa suas pernas em minha cintura. E sua cabeça descansa em meus ombros.
Eu amo o seu cheiro doce, e amo também a forma como seu cabelo bagunçado é o atributo perfeito para seu espírito selvagem e teimoso.
— Como você dormiu? - pergunto enquanto assistimos o nascer do sol.

— Melhor do que ontem. - diz ela, e eu sorrio com a menção da frase que sua mãe lhe ensinou. Abby é tão pequena, mas sua inteligência é muito maior do que ela.

Alda gostava que todos nós acreditássemos que o dia seguinte seria sempre melhor do que o anterior. Ela era um ótimo exemplo de positividade e otimismo. Não posso negar que nossas filhas são muito sortudas. Ainda é duro acreditar em como minha falecida esposa chegou ao seu fim. Logo ela... tão aventureira, cheia de garra e com um amor absurdo pela vida. Acho que ninguém entenderia.

Eu não sei como vai ser quando Alisson e Abby estiverem maiores e  prontas para saber o que verdadeiramente aconteceu com sua mãe. Eu fico pensando que seria muito melhor se ficasse como está. Mas eu sei que suas perguntas chegarão mais cedo ou mais tarde. E eu não irei conseguir escapar.

Olho para Abby, e sorrio quando vejo seu rosto se iluminar através de um raio de luz.
— Precisamos descer para o café daqui a pouco. Então vamos para o banho.

Ela rapidamente se contorce em meu colo.
— Mas eu nem me sujei, papai.

Cheiro seu pescoço, e faço uma careta.
— Você costuma suar bastante quando dorme, e ninguém vai querer sentir cheiro salgado lá embaixo.

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