Capítulo 42:

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Daven

Dois dias depois, eu estou sentado com Valley ao meu lado, e minhas filhas em nossa frente. Nós tínhamos combinado de contar à elas o que está acontecendo entre a gente, e mesmo Valley ter pedido que fôssemos com mais calma, ou que esperássemos mais tempo. Eu a fiz mudar de ideia. Qual é. Porque ficar escondendo como se nós estivéssemos fazendo alguma coisa errada?

O único medo que eu tenho é das minhas filhas acharem que eu vou deixar de amá-las para amar Valley. Elas são muito ciumentas uma com a outra, e eu até cheguei a pensar em não contar pra elas para poupá-las de qualquer emoção. Mas eu não posso fazer isso. Não quero mentir pra elas. Valley aperta minha mão por baixo da mesa, e eu olho para ela.

Eu acho que ela consegue ler nos meus olhos o que estou tentando dizer em silêncio para ela. "Tudo vai dar certo" porque de repente ela parece relaxada, e seus dedos entrelaçados aos meus começam a tremer com menos velocidade. Viro para minhas filhas, e respiro fundo antes de abalar seus mundos.

Abby está olhando entre Valley e eu com um sorriso curioso em seus lábios. Já Alisson está batucando na mesa como se tivesse cansada de esperar. Meus ombros ficam tensos. Não faz muito tempo que descemos para o café. Eu tinha dito para elas que antes de comermos teríamos uma conversa com Valley.

Abby já achou que nós fôssemos convidar Valley para algum passeio. Alisson por outro lado achou que iria assistir Valley preparando os bolos. Mas acho que as duas se deram conta de que não era nenhuma dessas coisas quando nós nos sentamos entorno da mesa, e dissemos que teríamos uma conversa um pouco séria.

— Bem... - começo, e Valley aperta minha mão como se quisesse me dar apoio. Eu pisco para ela, e volto a encarar minhas filhas rezando para que eles entendam, e aceitam essa garota maravilhosa que está entrando em nossa vida agora.

— Vá direto ao ponto pai. - pede Alisson visivelmente cansada da minha enrolação. Ela bufa, e joga as mãos pra cima. Abby olha para ela, e encolhe os ombros em resposta.

Valley pressiona os lábios, e eu sinto sua pele começar a suar com a minha.
— Vocês acham que o papai é feliz? - pergunto. — Completamente feliz. Tipo cem por cento?

Abby não parece entender o que eu disse.
Alisson dá de ombros.
— Você parece feliz para mim, mas não tanto como você era quando a mamãe estava com nós.

Valley entreabre os lábios mas não diz nada. Eu aperto sua mão ainda mais.
— Às vezes a gente precisa de uma companhia para ser feliz de novo. Do jeito que era antes, sabe?

— Mas você já tem eu e a mana. - diz Abby entrando na conversa. Valley dá um pequeno sorriso para ela, e eu quase perco meu raciocínio com suas palavras.
Tento de novo.
— Exatamente. Eu tenho vocês duas, e sou muito grato por isso. Mas o que eu estou querendo dizer é que... - minhas palavras param quando Alisson coloca as mãos nos ouvidos de Abby, e sussurra para mim como se o que ela estivesse pensando fosse um absurdo. Alguma coisa sem sentido.
— Você quer uma namorada?

Meu rosto esquenta na mesma hora. E Abby começa a se desvencilhar das mãos da sua irmã.
— Me solta. Eu quero escutar. - diz ela, tentando se afastar para o lado.

Valley solta minha mão, e começa a esfregar seu rosto. Eu sei que tenho que falar alguma coisa. Mas o que? Porque de repente parece que meu cérebro deixou de processar meus conflitos?

— Alisson. - chamo, e ela me dá um olhar duro.

— Você não devia falar essas coisas na frente da Abby. Ela vai imaginar coisas.

Balanço minha cabeça.
— Vocês são minhas filhas. Vocês precisam saber sobre o que está acontecendo.

— O que está acontecendo? - pergunta minha filha mais nova. Ela olha de mim para Valley, e vice-versa.

— Eu e seu pai estamos juntos. - revela Valley me deixando surpreso. Olho para ela com minhas sobrancelhas levantadas, e pelo canto dos meus olhos percebo que minhas filhas também estão encarando-a assim.

— Sei lá eu só achei que ir direto para ponto seria mais fácil. - ela explica, mas parece que está fazendo isso para si mesma. — Como arrancar o band-aid sabe?

Apoio meus cotovelos sobre a mesa, e afundo meu rosto entre minhas mãos. Não estou chateado. Nem arrependido dela ter falado. Só foi inesperado. Nós tínhamos combinado que eu iria revelar para elas.
Valley foi mais esperta.

— Vocês estão juntos tipo... Namorados? - questiona Alisson, com uma expressão de choque.

Abby pisca rápido.
— Oh... eu vou poder te chamar de mamãe?  - pergunta ela, olhando para Valley com todo o encantamento que existe na face da terra.

Afasto minhas mãos do rosto, e olho para as duas. Aparentemente elas não parecem emburradas com o que Valley disse. O que é um alivio para mim. Mas Abby precisa ir com mais calma. Qual é. Chamar Valley de mãe quando nós a recém começamos a nos entrosar? É demais.
— Escutem. - peço, mas as duas começam a se agitar nas cadeiras, e eu me calo, e espero.

Eu sei que essa notícia é uma surpresa para elas, e sei também que suas cabeças devem estar girando com tanto pensamentos e perguntas. Então eu decido levar isso com mais calma. Deixá-las absorverem a novidade, e aguardar até que uma caia em uma crise de choro e birra, e a outra me culpe por substituir sua mãe. Mesmo que Alda não esteja mais viva.

De repente Valley levanta da cadeira, e aponta para cozinha.
— Que tal se a gente fizer assim, eu converso com Ally, e você conversa com seu pai. O que acha Abby?

Minha filha mais nova não parece gostar da ideia, mais acaba aceitando quando ela vê o olhar no meu rosto.
— Vocês vão demorar muito? - quer saber ela já começando a fazer aquela sua expressão favorita de quando quer que todos façam suas vontades.

Valley olha para mim, pisca. E depois vira para ela.
— Vai ser rápido. Eu prometo. 

Alisson se levanta da cadeira, e acena um tchau para mim, e para Abby. Valley para ao lado da nossa mesa.
— Alisson vá para cozinha. Eu estou indo atrás de você.

Minha filha assente, e se afasta. Abby olha pra trás, e eu sei que ela deve estar pensando o porquê que ela não pode estar lá. Eu até entendo o que Valley está querendo fazer, mas tudo fica mais claro quando ela se inclina e sussurra em meu ouvido.
— Achei que fosse melhor explicarmos para elas separado. Alisson entende melhor que Abby, e desde que eu não tenho muita facilidade com crianças menores, eu pensei que você pudesse contar para ela melhor do que eu.

Meu peito incha.
— Como que você consegue pensar em tudo?

Ela me dá o sorriso mais lindo, e sopra um beijo para Abby quando se dirige para cozinha. É quando eu percebo que Valley provavelmente vai conversar com Alisson enquanto lhe mostra como se faz o bolo.
Porra.
Ela consegue ser um gênio mesmo sem nem querer. É claro que isso vai amolecer minha filha. Estamos salvos.
Abby por outro lado é fácil. Mas eu penso em algo que vai fazê-la amar ter ficado para ter essa conversa com seu pai.
— Sabe o que eu estou pensando?

— O que? - ela pergunta sem muita emoção.

Inclino-me sobre a mesa, e sussurro mesmo que eu não me importe que alguém escute.
— O que você acha de nós escaparmos para rua e obtermos um pouco de sorvete?

Seus olhos brilham, e seu rosto se ilumina como se fosse uma árvore de natal.
— Eu acho que nós temos que ir agora. - sorri ela, pulando da cadeira, e pegando minha mão.
A mesma que esteve entrelaçada com a de Valley. Eu ainda posso sentir a maciez da sua pele impregnada na minha.
Da minha filha a sensação é quase parecida.

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