TARDE DEMAIS

Capítulo 37:

Valley

A porta bate quando escapa das minhas mãos. Meu corpo sacode com o barulho. Respiro fundo e viro para trás. Eu nunca poderia estar preparada para isso.
É tão difícil.
Levanto meus olhos e vejo Parker completamente distante mesmo que ele esteja bem aqui na minha frente sentado em minha cama.

Seus olhos ainda estão fixos na tela do seu notebook quando eu me arrasto para cima da cama. Eu nunca pensei que passaria por isso. Parece que eu nunca fiz isso antes.
Puxo o lençol para cima, e me afundo embaixo dele. Mas eu não deito. Apenas me sento e espero... Está tudo tão calmo agora. Meus ouvidos podem até escutar os tiques do relógio.

— Está tudo bem? - pergunta ele ainda sem tirar seus olhos da tela.

Agito minha cabeça negando mesmo que ele não esteja me vendo. Minha garganta aperta, e eu cubro minha boca quando sinto as lágrimas se aproximando. Não ajuda quando ele finalmente me olha.

— Porra, ei, o que está acontecendo com você?

Eu me contorço, e choro. Mas não é só sobre esse momento. É também pelo Daven, e pelo tanto que ele estava sofrendo em silêncio hoje. Queria tanto que ele se abrisse comigo. Que colocasse ponto final nas minhas interrogações.

Parker fecha a tampa do notebook imediatamente, e o afasta para seus pés. Em um pulo ele está virado para mim com suas mãos em meu rosto.
— Por que você está chorando? O que aconteceu... me conte.

Fecho meus olhos, e penso. Como vou dizer para ele? Como vou quebrar seu coração?
Eu não tive tempo para falar com Daven depois do café da manhã, ele estava tão estranho, e quieto. Eu queria que Parker não tivesse voltado hoje, porque agora eu estaria confortando Daven, e dizendo-lhe que tudo ficará bem mesmo eu não sabendo pelo que ele está passando.

Mas a realidade é outra, e eu preciso fazer o que havia decidido assim que acordei hoje. E percebi o quanto que estou perdendo. Não posso mais viver com medo de arriscar. A vida é só uma não é? Eu preciso escrever isso em um post-it e grudar na minha testa.

— Valley...

Lágrimas descem dos meus olhos agora, e eu não consigo mantê-los mais fechados.
— Eu sinto muito Parker.

— O que você sente? Explique-me por favor.

Respiro fundo, e limpo minhas lágrimas.
— Eu não posso mais.

Ele parece confuso agora, e perdido.
— Não pode... o que?

Oh.
Porque vê-lo assim machuca?
— Isso. - agito meu dedo entre a gente.

Parker afasta suas mãos do meu rosto, e puxa seus cabelos. Eu me odeio por estar fazendo isso com ele.
— Merda Valley! Eu não estou entendendo nada. Por favor seja mais clara.

Escondi meu rosto entre minhas mãos, e conto até dez, depois até cem.
— Eu quero que a gente termine. - minha voz é firme apesar da minha fraqueza. De repente me sinto quente. Afasto o lençol para meus pés, e acrescento: — Eu sinto muito.

Eu não estou olhando para ele agora, mas posso sentir sua energia mudando. Ele salta da cama e começa a andar de um lado para o outro. De repente parece que um terremoto está se chegando.
— Puta merda, isso não está acontecendo.