o2 | OLHOS ABISSAIS DE UM OCEANO

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"Não é justo, você realmente sabe como me fazer chorar quando você me dá esses olhos de oceano."  Billie Eilish (Ocean Eyes)


Connor Greenwood é um universitário agora

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Connor Greenwood é um universitário agora. 

Ao menos três ou quatro vezes na semana, ele viaja para Barry, onde assiste algumas aulas de literatura inglesa na Universidade de Barry's Lake. Pelo que pude perceber, aprendeu muitas coisas enquanto esteve na guerra e com os livros que pegou pelo caminho. Em seu quarto, ele guarda uma velha baioneta enferrujada e duas armas de médio porte.

Quando Gina se tranca em seu gabinete de leitura e John se enfurna na maldita floresta, eu serpenteio entre os cômodos, observando os passos do veterano de guerra forasteiro. Sua mente está sempre tão distante que ele nem sequer me nota o observando nas esquinas dos corredores e pelas janelas, quando sai para ficar sozinho, sentado no balanço da árvore em frente ao casarão.

Connor fica horas a fio sentado naquele balanço, apenas segurando as cordas e fitando o vazio, deixando que o vento o embale em movimentos suaves. Folks Village vive em um eterno outono, então as folhas secas em tons avermelhados e mostarda caem aos montes ao seu redor. 

Algumas se entranham em seus cabelos, mas é como se o mundo pudesse explodir ao seu redor, e ele não notaria. Volta e meia o vejo com a porta do quarto aberta, sentado na cama e polindo as armas como se fossem um troféu memorável. Quantas pessoas deve ter matado? Quantas pessoas devem ter implorado por misericórdia diante das suas armas?

O que Connor fez durante seus quase sete anos longe de casa? Eu não saberia dizer. Apesar de saber escrever, meu irmão nunca enviou uma carta sequer.

Fiquei sozinha durante seus longos e frutíferos anos longe de casa. Não que eu dependesse de sua total atenção, porém aguentar tudo sozinha não foi fácil. Não sei nada sobre ele, sobre o Connor que voltou para casa.

É um estranho.

Os anos que passou longe de mim o fizeram um pária. Eu me acostumei com sua ausência e guardei profundamente a imagem do menino que ele costumava ser, imaginando que ele ficaria assim para sempre. Não me culpo por ter ficado assustada e decepcionada quando um homem bateu em nossa porta afirmando ser Connor.

Já se passaram meses desde sua chegada, e todos os dias se parecem com o primeiro. Há certo estranhamento e ausência de qualquer tipo de laço fraternal entre nós, como se os bons momentos que tivemos um dia tivessem se fragmentado durante o período em que estivemos distantes, todos perdidos em meio à dor.

Seus passos em nossa casa são fantasmagóricos, e meu coração bate aliviado quando a universidade exige que ele fique dias consecutivos em Barry.

Embora conserve traços maduros e juvenis em suas feições, Connor já não é mais o meu irmãozinho. Prefiro evitá-lo enquanto posso, indo para a escola sem a sua supervisão, como fiz durante todo seu tempo longe, mesmo com a sua insistência em me acompanhar, e isso quando lembra de que está vivo.

SUA TERRA É MINHAOnde histórias criam vida. Descubra agora