21| A BESTA QUE CARREGA UM MACHADO

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"Nesta cidade problema, problemas são encontrados. Nesta cidade problema, palavras ficam à toa." Jake Bugg (Trouble Town)


Não consigo me demorar no banho por causa da maldita água fria e cortante, então saio depressa e tento dar um jeito nas madeixas desgrenhadas

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Não consigo me demorar no banho por causa da maldita água fria e cortante, então saio depressa e tento dar um jeito nas madeixas desgrenhadas. Não obtenho sucesso e me conformo em apenas penteá-las.

Antes de sair, me olho no espelho redondo e concluo que, apesar do tratamento de choque, minhas feições ficaram menos apáticas. A água parece ter levado os resquícios de sonolência estampados em meu rosto e agora estou disposta e com fome.

Neo já está me aguardando no sofá mostarda, lendo o livro que peguei alguns minutos antes. Moby Dick está encaixado em suas mãos, e seus olhos atentos pulam de uma linha para outra com rapidez. Durante alguns instantes, fico apenas ali, o observando absorto na história do livro.

— Está pronta? — pergunta, com os olhos ainda fixos no livro.

Sou pega de surpresa e abro a boca para responder, mas nada sai. Fico irritada comigo mesma por mais um deslize e por soar tão estúpida de novo.

Neo deve pensar que sou algum tipo de lunática por ficar o observando daquela maneira.

Quando não respondo, ele me olha por cima do livro, novamente parecendo não olhar para mim, e sim para as roupas que estou vestida.

— Claro — digo, indo em sua direção. — Aonde vamos?

— Tem uma cafeteria que não fica muito distante daqui. — Ele se levanta e guarda o exemplar, como se entre as páginas daquele livro não houvesse um segredo. — Depois vou levá-la de volta para casa. Seus pais devem estar preocupados.

— Não — falo rápido demais, e Neo me olha daquele seu jeito inquisidor, tentando descobrir se há algo por trás do que eu digo. — Tenho medo de ficar lá sozinha.

— E onde estão seus pais? — Sua testa enrugada demonstra o quão esquisito ele está achando. — Quando a encontrei, estava muito longe de casa.

— Eu não sei onde eles estão, tá bem? Eles disseram que estariam na casa da minha avó, mas nem pisaram lá — desabafo, sentindo um peso enorme sair dos meus ombros. — E eu também não sei que droga estava fazendo ali, mas você quer saber, não é? Você me perguntou se eu acredito no sobrenatural e vou responder. — Ele assente. — Então é melhor se alimentar primeiro.

O carro de Neo é pequeno, mas aconchegante. Alguns minutos depois, estou sentada dentro dele, aguardando-o depois que ele me pediu para esperar enquanto se agasalha de modo mais eficiente.

Um pássaro preto pousa no capô e parece me observar. Ele grasna algumas vezes e fica parado. Começo a me sentir desconfortável com o olhar fixo da ave, então abro o porta-luvas bem rápido e procuro algo que possa me interessar. Uma corrente fina e dourada reluz no fundo.

SUA TERRA É MINHAOnde histórias criam vida. Descubra agora