12| OS COELHOS NÃO COSTUMAM FUGIR DA TOCA DURANTE A NOITE

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"Venha me encontrar na toca do coelho, eu acho que fiz tudo. Como posso me convencer, está tudo na minha cabeça?" Jake Bugg (Rabbit Hole)


Connor permanece taciturno durante o restante da viagem e seu semblante amargo não denuncia nada

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Connor permanece taciturno durante o restante da viagem e seu semblante amargo não denuncia nada. Logo atrás, o Estranho Joe, como ele preferiu chamar o cachorro, nos observa quietinho e abana o rabo toda vez que lhe estendo a mão para fazer um carinho.

Percebo que o trajeto para o casarão não é aquele, e em questão de poucos minutos descubro o motivo. Dobrando a caminhonete em uma trilha rochosa que corta um pequeno descampado ladeado por bétulas e abetos, onde uma antiga casa da árvore se estende ainda intacta no salgueiro gigante, meus olhos recaem nos limites do jardim onde nossa avó Wendy costuma plantar seus pinheiros, agora vigorosos e robustos como nunca foram antes.

Olho animada para Connor, que esboça um sorriso discreto apesar de seu humor nada agradável.

Ele parece cansado e abatido e prefere se manter quieto.

Adiante, uma figura franzina e meio pálida ganha a forma da velha Elsie Clay von Schröder. Durante muitos anos, quando ainda era jovem, ela se refugiou na Inglaterra para tentar salvar a criança em seu ventre, já que sua família alemã era abastada e não queria que a honra da filha fosse manchada. Elsie era nova demais quando engravidou e estava apenas com quatro meses quando conheceu minha avó, no Centro de Apoio de Folks Village. As duas conversavam bastante e logo tornaram-se muito amigas, então as visitas da vovó Wendy se tornaram cada vez mais frequentes ao centro e ela levou Elsie para morar consigo, e a jovem refugiada conseguiu ter uma gestação tranquila, dando à luz cinco meses mais tarde à pequena Amber Tocqueville-Moore.

Certamente ela não queria ligação com os seus parentes biológicos e, com o consentimento do meu avô, adotou o nome da nossa família. Embora seja um membro da família, Miss Clay nunca deixou, de fato, de ser uma estrangeira para mim. Quando éramos crianças, Connor e eu aprontávamos poucas e boas com a pobrezinha, e talvez sua antipatia conosco tenha lá seus fundamentos.

Certa vez, quando Miss Clay teve que se ausentar para pegar dois cordeiros fujões e os colocar de volta no cercamento, pedi para meu irmão colocar uma dose exagerada de molho de pimenta no preparo de uma massa de bolo que ela estava fazendo. Sem saber de minhas reais intenções, ele alcançou o vidrinho no armário e fez direitinho o que pedi, sem antes perguntar o que era.

Sempre fui muito boa em sair de enrascadas e logo falei que aquilo era apenas baunilha, e que a própria Elsie havia me pedido para colocar. Quando nos reunimos para jantar, todos sentiram o sabor fumegante da minha travessura.

Foi difícil não rir daquelas caretas enquanto provavam o bolo e corriam em busca de água.

Como Connor sempre foi muito imbecil, logo tratou de dizer a verdade. Miss Clay demonstrou profunda desaprovação, e a partir desse episódio passou a ter mais cuidado ao cozinhar quando os netos de Wendy vinham para passar alguns dias.

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