2o| O TOQUE RECONFORTANTE DO FORASTEIRO

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"Ei, irmão, há uma estrada sem fim para redescobrir. Ei, irmã, saiba que há muitas amizades, mas o laço da família é mais forte. Oh, se o céu estiver desmoronando, por você não há nada neste mundo que eu não faria." Avicii (Hey Brother)


O vento faz a madeira ranger, um trovão ribomba distante lá fora

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O vento faz a madeira ranger, um trovão ribomba distante lá fora. Estou sentada no parapeito da janela, percorrendo meu olhar pela pradaria que antecede a densa floresta. Ainda com os pensamentos distantes, tento pensar em como conseguirei convencer meus pais a me deixarem ir à casa de Cláudia após o anoitecer. O aniversário de Eveline está próximo e a pequena exigiu minha presença.

Quando volto a atenção para o livro em meu colo, meus olhos caem de relance em uma figura que surge entre as árvores. Um homem maltrapilho e estranho anda de forma meio mecânica e oscilante, enquanto carrega uma espécie de mochila velha nas costas e, abaixo dos braços, um pano enrolado que se assemelha a um saco de dormir. Acompanho-o com o olhar, percebendo seu semblante assustado, como se estivesse vendo coisas horríveis à sua frente.

Observar aquele homem se torna mais interessante do que a leitura. Quando percebo, estou debruçada sobre a janela, absorta no jeito peculiar que o forasteiro se movimenta. Ele para de repente, parecendo ouvir alguma coisa chamá-lo, então vira o corpo em direção à floresta. Suas costas parecem tensas e agora tenho certeza de que suas roupas estão sujas. Talvez as nuances acinzentadas em seus braços e bochechas sejam fuligem, ou então um bocado de poeira.

O homem passa a mão nos cabelos castanhos e desgrenhados e volta a olhar ao redor, atordoado. Pulo do parapeito para o chão quando seu olhar encontra a janela e sinto meu coração acelerar diante da situação incomum. Espero alguns instantes e me arrasto até a parede, onde fico de joelhos e tento bisbilhotar sem que ele me note, porém o forasteiro já não está mais lá.

Corro até a janela do corredor, acompanhando seus passos travados e cambaleantes. O pobre homem oscila um pouco para os lados, dá alguns passos para trás e olha ao redor com um semblante vazio. Parece não reconhecer o lugar onde está.

Ergo uma sobrancelha quando ele se joga no chão e coloca as mãos nos ouvidos, apertando as laterais da cabeça com tanta força que posso jurar ter visto as veias de seu braço saltarem. Concluo que ele está muito bêbado e aquela pequena atração em meus dias monótonos me diverte.

Continuo parcialmente oculta ao lado da janela, enquanto ele volta a se erguer minutos depois com algumas lágrimas que fazem caminho entre a fuligem impregnada em seu rosto.

Sou pega desprevenida e, por alguns instantes, nossos olhares se encontram.

Sinto minhas feições esquentarem ao deixar que ele me note e agarro a pedra em meu colar na tentativa de afastar o estranho nervosismo que faz meu estômago embrulhar. Seu olhar continua fixo em mim, até que ele parece escutar algo chamá-lo e volta a atenção para a floresta. Meu coração acelera quando o forasteiro retira uma pistola do bolso da calça suja e aponta em direções diferentes, parecendo tentar encontrar o que tanto o atormenta. Já descoberta por ele, tento abrir a janela e perguntar se está tudo bem, mas o homem junta seu saco de dormir e corre para dentro da floresta, sem olhar uma única vez para trás.

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