15| BEM-VINDO AO GRANDE HOTEL RIVERPLACE

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"Eu caí dentro de um círculo de fogo ardente, eu descia, descia, descia. E as chamas subiam, e queima, queima, queima. O círculo de fogo, o círculo de fogo." — Johnny Cash (Ring Of Fire)


As incontáveis horas com a família Joe não me deixam disperso e à mercê dos meus pensamentos

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As incontáveis horas com a família Joe não me deixam disperso e à mercê dos meus pensamentos. Durante o período em que estou na presença deles, consigo me afastar, mesmo que um pouco, do abismo de escuridão que se abre cada vez mais todos os dias em minha cabeça.

Dexter Joe me faz muitas perguntas das quais, ao notar meu semblante, não me obriga a respondê-las.

Os Joe costumam trabalhar como caçadores de relíquias para vender, ou então pegam algumas para colecionar. Talvez seja por isso que Pietra me deu seu endereço. Ela bateu seus olhos astutos em mim e soube que eu teria algumas coisas trazidas da guerra que valessem a pena guardar.

Após a tentativa fracassada de Dexter em fazer um almoço comestível, acabamos comendo macarrão com queijo, que não ficou tão ruim, mesmo com um gosto levemente queimado. É evidente que aquela casa não possui uma mãe, e pude notar que ela os deixou faz algum tempo. Mesmo assim, alguns traços da figura materna ainda são visíveis naquele ambiente, como se a mulher da casa a tivesse deixado às pressas, sem qualquer tipo de aviso prévio.

Ao me acomodar em uma das poltronas acinzentadas da sala de estar, meus olhos pousam em algumas fotografias de um jovem casal sorridente, ao que parece ser, no dia de um casamento na praia. A noiva está descalça e veste um vestido simples, carregando em suas mãos um buquê que parece ter sido feito na hora, enquanto o jovem noivo usa um terno folgado e está descalço. Ele a segura pela cintura, enquanto ela protege o rosto contra os cabelos longos.

— Ela nos deixou — fala Dexter, ao me notar fitando a foto. — Helen era bastante intrépida, mas não soube parar para cultivar as raízes que construímos aqui. — Ele limpa os óculos na camiseta branca e cruza as pernas, passando a observar a foto. — Éramos felizes e nos amávamos, eu ainda a amo, mas ela escolheu não abrir mão de seu espírito livre e aventureiro.

— O que aconteceu? — pergunto, querendo saber mais sobre os Joe.

Dexter olha por cima do ombro, checando se a área está livre de Pietra. Ele suspira e cruza os braços, talvez reunindo coragem para tentar me contar.

— Quando Pietra nasceu, bem, sabe... — Ele passa a mão na barba ruiva, fitando os próprios pés. — Helen não queria ter filhos, queria vagar pelo mundo e viver sem raízes para prendê-la a algum lugar. Eu também queria, amava o jeito como vivíamos, era como se cada dia fosse uma aventura diferente.

Ele pausou.

— A estrada era nosso lar, e as estrelas, nosso teto. Nós nos guiávamos todas as noites por elas, sempre carregando um mapa da qual já sabíamos de cor. Nunca parávamos em um lugar por mais de dois meses, muitas vezes dormíamos sob as estrelas por não termos dinheiro para pagar um simples hotel de estrada. Foram anos felizes, éramos jovens com sede de descobrir o mundo.

SUA TERRA É MINHAOnde histórias criam vida. Descubra agora