"Estou andando no ar, flutuando num céu iluminado pela lua. As pessoas lá embaixo, elas nos saúdam enquanto voamos. Do outro lado do mundo, as aldeias passam como árvores, os rios e as colinas, a floresta e o riacho." — Aurora (Walking In The Air)
Um conto popular inacabado sobre os espíritos da floresta...
O espírito da lua vagava sobre a superfície rarefeita, levantando poeira branca por onde passava. Seu corpo cilíndrico e translúcido tocava o solo lunar, o qual deixava um leve rastro.
A essência celeste transmutou sua substância por bastante tempo, alternando entre sua forma genuína e um aspecto humanoide, que vira havia muito tempo, quando pairou por lugares longínquos, no qual a vida era tênue e não havia nada além de chamas e ossos espalhados pelo solo. Ele subiu e aguardou por longas eras, onde olhar para baixo o fazia se sentir estranho e nostálgico, porém ele não entendia o que era aquilo. Passava incontáveis dias e anos lembrando das coisas que aprendeu quando esteve longe da lua, sua casa.
Depois que desceu pela primeira vez e depois subiu, sentiu-se solitário.
O tempo da terra passou e a lua se aproximou.
O desejo latente o fez descer novamente, e por décadas a fio pairou pela terra. Viveu entre o início e o fim das primeiras civilizações, sempre se esgueirando pelas florestas, onde ficava fora de vista da espécie humana, evitando assustá-los. O corpo celeste aprendeu a falar as diversas línguas dos homens, seus costumes e tradições. Logo passou a vagar pelas ruas periféricas e centrais durante a noite, quando ninguém olhava, sempre se admirando com o progresso daqueles seres que avançavam bastante a cada década.
Fascinado pelas feições daquela espécie, sentiu vontade de ter um rosto. Os olhos, narizes, bocas e bochechas, o deixavam cativado.
Aqueles sorrisos, expressões de raiva, tristeza e alegria, os fazia se sentir mais próximo e cada vez mais desejoso de sentir aquilo também.
Foi no festival da colheita, em uma pequena aldeia nas terras escandinavas, que o espírito teve seu primeiro contato direto com a espécie humana. Naquele dia, ele sentia-se sedento e desceu a montanha para pousar na margem do rio. Seu corpo cilíndrico desenvolveu braços frágeis e translúcidos, pegando um pouco daquela substância gelada entre as mãos e a levando até o fino orifício que desenvolveu como boca. Descobriu que a água o satisfazia, e então bebeu mais algumas vezes. Ele se assustou ao ver a correnteza trazer pequenos objetos que emanavam uma luminosidade dourada.
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SUA TERRA É MINHA
Horror🍁 Livro dedicado a Jake Bugg A estranha Folks Village é uma cidade doente, e o acontece na floresta que a cerca morre ali. Rodeados por uma misteriosa névoa, as árvores se erguem como um paredão escuro e sussurrante que nenhum machado jamais ousou...