29| AMOR, ESPERANÇA E MISÉRIA

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"Eles dizem que vem em três: amor, esperança e miséria, e os dois primeiros se foram e me diga se estou errado. Espero que eu esteja e você não me odeie, não fique louca, eu sou apenas um homem."   Jake Bugg (Love, Hope And Misery)


Agarro os exames nas mãos, como se fossem um segredo sórdido

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Agarro os exames nas mãos, como se fossem um segredo sórdido. Pensando bem, talvez sejam, mas nada do que Neo Duncan já não deva desconfiar.

As sequelas da discussão na ala hospitalar e a tensão no consultório médico inibiram os efeitos que a perda de sangue me causou. Agora sentada no banco do carro de Neo, o aguardando do lado de fora do prédio da polícia local, começo a sentir as consequências de uma noite turbulenta e dos desmazelos em meu corpo, decorrentes do estresse da madrugada virulenta.

Estico as pernas um pouco mais para frente e alongo os braços para cima, na tentativa de afastar a letargia que recaiu sobre mim como uma nuvem cinzenta e espessa.

O sol começa a tentar ganhar espaço entre as ruas e vielas, mas o céu está carregado de chuva, e pelo visto ela não vai demorar para cair. Depois de cinco bocejos seguidos, bolinhas de lágrimas brotam no canto dos meus olhos e escorrem logo em seguida. Estou tão cansada que poderia dormir aqui mesmo, mas desperto quando a porta do carro abre de repente.

— Desculpe a demora — diz Neo, colocando o cinto. — Uma caminhonete foi encontrada próximo às montanhas. Estão trabalhando para descobrir a quem pertence. Não parece ter sido um acidente, sabe?

Apenas assinto, estranhando-o me contar algo sem que peça alguma explicação. Ele dá sua habitual comprimida nos lábios e me encara, fazendo o seu diagnóstico.

— Você está bem? — pergunta.

— Vou ficar, se puder descansar um pouquinho — murmuro, colocando o cinto. — Podemos ir? Estou me sentindo muito fraca. Preciso dormir um pouco.

— É claro. — Ele me encara por mais alguns instantes. — Natalie, antes tenho que fazer uma coisa, mas prometo que não vou demorar e logo depois podemos ir para casa.

— Tudo bem. Eu espero.

Não muito tempo depois, Neo estaciona em frente à floricultura da bonitona Sra. Winnyfred. Ele não demora e volta com um pequeno buquê de rosas brancas. Logo me empertigo no banco, passando os cabelos para trás da orelha e tentando esconder o sorriso, esperando que ele me ofereça.

Se não forem para mim, para quem mais seriam?

Ele as coloca no colo e continua a dirigir, sem demonstrar nenhum sinal de que irá oferecê-las a mim.

O cemitério Saint Hill surge em nosso campo de visão e fico surpresa quando adentramos no corredor de árvores que adornam a entrada. Neo estaciona e retira o cinto, mas permanece fitando o jardim sereno e florido à nossa frente.

SUA TERRA É MINHAOnde histórias criam vida. Descubra agora