o4| ODDY-PUNHOS-FORTES

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"E há um demônio nas veias, e o seu sangue é pecado. E, no entanto, eles sabem em seus cérebros. Mas ainda é pecado." —Jake Bugg (Hearts That Strain)


O rápido reencontro com April e a sucessão de tiros nos velhos espantalhos me deixam com uma sensação menos inquietante, afastando aos poucos o sentimento sufocante que a atmosfera de Folks Village vem me causando

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O rápido reencontro com April e a sucessão de tiros nos velhos espantalhos me deixam com uma sensação menos inquietante, afastando aos poucos o sentimento sufocante que a atmosfera de Folks Village vem me causando. 

Às vezes, me sinto um forasteiro em minha própria casa. Vago durante algum tempo do lado de fora do casarão, em busca de árvores que não sejam tão grandes de cortar, ou até mesmo de alguns galhos soltos pelo caminho, mas a cada passo que dou, sou engolido pela imensidão da floresta fechada, onde a grama alta e escura é tão densa que quase caio ao emaranhar os pés entre as ervas daninhas.

Ouço o ribombar de mais um trovão ao longe e olho para cima. Não consigo ver o céu, tampouco os filetes de sol conseguem se infiltrar entre a copa daquelas árvores estranhamente curvadas para dentro, formando uma espécie de abóbada. Caminho mais adiante, já me sentindo cansado, e quanto mais ando, mais adentro o negrume de árvores. Talvez nem a chuva alcance este lugar. Mesmo assim, a grama e a terra se conservam muito úmidas e um tanto pegajosas, como se chovesse bastante por aqui.

Praguejo quando minha bota fica presa em mais um emaranhado de grama, e dessa vez não consigo me livrar apenas dando um leve puxão.

Sacudo a perna com um pouco mais de força, em vão. Não querendo usar as mãos e tocar na lama fétida alastrada por toda parte, dou outro puxão, dessa vez com mais força, e sinto um leve aperto no pé. Fico um tanto alarmado ao sacudir a perna e a pressão se tornar considerável.

Observo o leve movimento que algumas raízes e ervas daninhas fazem envolta da bota, movendo-se calmamente, como se não se importassem em serem vistas. Volto a tentar puxar a perna e grunho com a pressão esmagadora que as raízes fazem enquanto se fecham com mais velocidade. Sem pensar muito, agarro o machado e defiro um único golpe no emaranhado de raízes.

Posso jurar ouvir um frágil silvo quando a lâmina do machado as corta.

Sacudo a cabeça para afastar o zunido no ouvido, que surge sempre quando fico muito agitado.

É a maldita cacofonia que fica na cabeça quando as bombas explodem e os caças cortam o céu. Sendo meio surdo, me convenço de que o silvo foi apenas efeito dos chiados. Volto a prender o machado na fivela lateral do cinto de ferramentas, dando uma última olhada no emaranhado de raízes antes de seguir adiante. O zunido continua a me atormentar, trespassando meus ouvidos e cabeça como uma lâmina de aço frio e cortante.

Tento não pensar muito sobre a dor que estou sentindo, em uma tentativa de esquecê-la ou torná-la branda.

A escuridão predomina, me seguindo como uma aura sombria e secular. Puxo o relógio de bolso do forro da calça para verificar a hora, pois permaneço incrédulo com a escassa quantidade de luz que me adorna. Ainda é muito cedo, são apenas sete horas da manhã, quase oito, como pode estar tão escuro?

SUA TERRA É MINHAOnde histórias criam vida. Descubra agora