o6| ONDE OS SINOS DO FAROL AINDA CHORAM

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"Lá no vale, onde os sinos das igrejas choram, eu irei levá-los até seus olhos!" Jake Bugg (Broken)


Enquanto coloco os ingredientes na mesa, penso na grande quantidade de chuva que ainda tem para cair

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Enquanto coloco os ingredientes na mesa, penso na grande quantidade de chuva que ainda tem para cair.

Embora tente afastar a lembrança incômoda da noite passada, os olhos acusadores de Neo Duncan continuam rondando meus pensamentos, tão tempestuosos quanto o vento lá fora.

Faço uma mistura com ovos, tomilho, batatas e alguns pedaços fatiados de faisão, misturando na massa embebecida no leite para fazer uma torta que aprendi com mamãe. Despejo a massa em uma forma e a coloco no forno, com a lenha já crepitando com ardor.

O dia parece cinzento quando olho pela janela, avistando o vasto e pesado nevoeiro que se alastra de mansinho pelo descampado.

John e Gina saíram antes que o sol alcançasse a estrada e um bilhete pregado na geladeira avisa o breve incidente. Leio através da bela caligrafia de Gina e vejo que a velha tosse da vovó Wendy voltou a atacar, e dessa vez ela não está se sentindo muito bem. Respiro aliviada que eles tenham ido o mais depressa possível. Todos nós odiaríamos perder a matriarca da família.

Pensar na vovó Wendy me faz recordar de que faz tempo que não a vejo e talvez eu deva aproveitar meu aniversário para ir visitá-la.

O cheiro da torta logo invade a cozinha e me faz salivar. Aproveito os minutos restantes para que ela asse e espremo algumas laranjas e piso um punhado de ervas, fazendo um suco revigorante para Connor. Arrumo tudo na bandeja. Quando a torta fica pronta, coloco um pedaço fumegante no prato de porcelana chinesa.

Penso em oferecer para Oddy, mas percebo que ele também saiu muito cedo.

A irritante madeira insiste em ranger enquanto subo a escada e fico incomodada com alguns degraus que ficaram bambos quando rolei por cima deles naquela manhã. Pouso a bandeja na cabeceira da cama e decido esperar um pouco para que a torta que ainda está soltando ondas de vapor fumegante esfrie um pouco. Observo o peito de Connor subir e descer em movimentos calmos e lentos. Suas feições estão serenas e ganharam um pouco de cor, afastando o aspecto apático que estava horas atrás.

Ele parece estar dormindo um sono profundo e sem pesadelos, longe da realidade que o perturba. Sento-me ao seu lado e deposito uma bacia com água morna na mesinha próxima a cama. Umedeço a faixa de pano, passando com cuidado em seu rosto e o deixando limpo.

As marcas arroxeadas não ficaram tão fortes e apenas algumas nuances amareladas contornam seu nariz. Ele está tão calmo. Pergunto-me se ele conseguia dormir assim nas trincheiras, ou nos esconderijos que encontrava pelo caminho. Parte de mim se sente tola ao julgá-lo de forma tão cruel.

É claro que Connor possui pesadelos maiores para lidar agora, e acho que todos estão em sua cabeça.

Aproveito seu sono profundo para tentar garimpar algumas informações sobre as coisas que o fizeram ser o homem que é agora.

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