26| ATÉ QUE A MALDIÇÃO NOS SEPARE, AMÉM

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"Uma noite de sexta-feira, tomei uma pílula ou talvez duas. Lá no estacionamento, eu vi todo mundo que eu conhecia, e antes que a noite tivesse começado, nós planejamos estragar uma festa. Eu já vi de tudo, eu já vi de tudo agora. Eu juro por deus, eu já vi de tudo. Nada mais me choca depois desta noite." — Jake Bugg (Seen It All)


A voz de Ethan Sunsville ecoa como um relâmpago selvagem na noite, acompanhada de Janet que, bêbada, até que consegue alcançar algumas notas

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A voz de Ethan Sunsville ecoa como um relâmpago selvagem na noite, acompanhada de Janet que, bêbada, até que consegue alcançar algumas notas. A noite passa, nos engolindo em uma bolha de escuridão cada vez mais claustrofóbica. As luzes da feira se apagam aos poucos, assim como o som se extingue, não restando nada além do negrume pairando por todo lugar.

Somos os únicos por toda a extensão. Apesar da noite animada, não consigo relaxar como queria.

O odor da maconha e do álcool mesclado com o cheiro das chamas me deixa um pouco enjoado, então prefiro ficar apenas sentado enquanto os outros se divertem com doses exageradas de gritaria e dança.

Vejo April dançar animadamente com Jayden, como se não houvesse mais nada no mundo além deles e aquela fogueira, que nos aquece e leva para longe os ventos gelados que percorrem o milharal. Ela agita os braços para cima, enquanto as abas de seu vestido branco acompanham as batidas sensuais de seus quadris. O suor banha seu rosto e escorre pelo busto, fazendo a luminosidade do fogo a deixar com um aspecto selvagem. Jayden a faz girar e girar, lançando seus cabelos dourados ao vento.

Os dois formam uma ótima dupla de dança, então prefiro ficar sentado e apenas observá-los, contente em como ela parece feliz e radiante.

Não consigo entender como eles conseguem beber tanto e ainda permanecerem de pé, talvez a bebida seja apenas um combustível.

Para meu desânimo, a noite está apenas começando.

Abro o pacote de salgadinho ao meu lado e me contento apenas com um refrigerante de uva gelado. Janet planejou tudo e até um violão velho e enferrujado ela trouxe para que Ethan animasse à noite.

Beberico o refrigerante e o sabor gaseificado afasta um pouco a melancolia causada pela sensação de ter falhado com April, de não conseguir fazê-la se sentir amada ao meu lado. Pensar dessa forma me faz querer descer quantidades exageras de álcool goela abaixo, mas olhar para a latinha lilás em minhas mãos é o suficiente para lembrar que alguém precisa ficar sóbrio.

Ainda meio desconfiado, alterno o olhar entre os bêbados e o espantalho. A criatura se ergue no galho retorcido, com os braços abertos, talvez esperando um abraço. Abro outro refrigerante, observando o quanto a lua o deixa mais medonho agora, com sua luminosidade esbranquiçada recaindo sobre ele.

Meus olhos ficam fixos na criatura por um tempo, apenas acompanhando o movimento que a ventania faz nas abas de seu chapéu. Não percebo April se aproximar até que ela cutuque meu joelho com um graveto. Olho-a, assustado, e ela ri ao perceber o quanto fiquei nervoso por causa do espantalho asqueroso. Seu semblante suado e os olhos brilhantes demonstram que ainda nem começou a gastar a quantidade de energia que ainda tem.

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