28| O SEU IRMÃO, OU SEU AMANTE?

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"Tempos de delírio, maldição do meu esquecimento. Assista meu devaneio, caçando com uma arma relâmpago. Sepulcro aberto e dilacerado, eu caí no seu." — Soap&Skin (Thanatos)


Quando pensei que não mais submergiria da minha alcova, ao longe, escuto algo se remexer

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Quando pensei que não mais submergiria da minha alcova, ao longe, escuto algo se remexer. Minha visão está embaçada por causa da terra, mas consigo enxergar alguém me observar na superfície. Afasto os resquícios de ciscos do rosto e as estirpes enroscadas em meu pulso não me impedem de fazer qualquer movimento. Elas me envolvem como um casulo, impedindo que a terra pesada recaia de forma violenta sobre meu corpo. 

Saio da posição fetal e afasto os galhos do cabelo. Depois me encolho no canto, começando a sentir medo ao ouvir silvos baixinhos. Procuro pensar no que fazer, mas a silhueta lá em cima me deixa em polvorosa. Pisco diversas vezes para tentar enxergar melhor e aos poucos consigo distinguir o que me observa de cima.

— Connor? — Minha voz treme e posso jurar sentir o cheiro do medo.

Sei que não é o meu irmão e a prova disso são os cabelos que se agitam quando meu observador inclina a cabeça para me ver melhor.

O horror me domina, me fazendo esconder a cabeça entre os joelhos.

Como se tentassem me acalentar, algumas raízes também se encolhem comigo, algumas se aninhando ao redor das minhas pernas e outras se enroscando na cintura.

— Ela está tão faminta ultimamente. — Olho assustada para cima e distingo um rosto feminino. — Ela comeu o jovem fazendeiro, mas sempre vai ter sede do sangue familiar.

O vento faz o vestido branco dela balançar em movimentos sutis, assim como seus cabelos tão grandes quantos os meus. Ergo o olhar para encontrar o seu, com a luz esbranquiçada da lua iluminando seu rosto. Ela estende a mão e inclina o corpo para frente, me oferecendo ajuda para sair, mas é obvio que não consigo alcançá-la, então me limito a encará-la.

— Passarinha, venha comigo. — Sua voz suave me causa calafrios.

Antes que eu tenha tempo para responder, as raízes abaixo de mim se contorcem de modo grotesco e começam a me impulsionar para cima. Meu coração acelera a ponto de querer sair pela boca ao chegar próximo o suficiente da mulher que me estende a mão.

Ela sorri quando nossos rostos ficam mais próximos e consigo ver que seus olhos são tão verdes quanto os meus.

Estou quase a um passo de sair da ravina, mas sei que só sairei se colocar a mão na sua, então o faço. Seu toque é firme e me impulsiona para cima com a ajuda das raízes.

— Você é perfeita. Eu me chamo Agnes — arfa, ainda segurando minha mão.

— Preciso ir — murmuro.

SUA TERRA É MINHAOnde histórias criam vida. Descubra agora