"É tudo por nossa conta, a estrada está na poeira. Nós nascemos para ser salvadores da cidade, nós nunca fomos feitos para ver." — Jake Bugg (Saviours Of The City)
Verão de 1912,
Folks Village
Natalie não para de chorar, e meus ouvidos já se encontram doloridos por causa de seus ataques de birra. Tendo certa tendência à histeria, minha irmã faz questão de tentar atrapalhar as reuniões importantes que o nosso pai costuma fazer com tio Ben e Fritz Hermann. Como de costume, Natalie começa a chorar alto quando ele não a deixa entrar no gabinete. Gina me pediu para levá-la até onde o choro dela não pudesse ser escutado, então saí com bastante pressa, trazendo-a à força pelo pulso, mesmo ela se debatendo.
Quando estamos a uma distância considerável de nossa casa, diminuo o passo e afrouxo o aperto em seu pulso, até que ela repuxa o braço de uma vez e começa a chorar e gritar o mais alto que consegue, deixando claro que não vai facilitar para mim. Respiro fundo e apenas deixo que chore a todo vapor, até que fique vermelha e rouca.
Começo a caminhar até a estrada onde outrora funcionava um velho porto de aviação, mas que agora se encontra abandonado. Percebo que Natalie não me segue a princípio, como outro modo de fazer birra, querendo que eu a afague e faça suas vontades, mas continuo seguindo meu caminho, até que seu choro começa a ficar mais distante dos meus ouvidos, dando lugar ao som dos seus passinhos apressados em contato com a grama áspera, alta e seca que cresce desenfreada por aqui.
Ela logo me alcança e segura minha mão na sua. Dou uma olhada de soslaio para sua careta ainda chorosa e sorrio ao vê-la enxugar o rosto com o dorso da mão livre.
— Eu só queria ver quem estava lá dentro, Conny! — protesta, ainda fungando por causa das lágrimas que escorrem pelo seu nariz. — Não é justo!
— A sua birra também não é justa — rebato. — Não é da nossa conta.
— Você sempre o defende, não é justo. — Ela aperta minha mão e insiste com a birra. — Não é justo!
— Apenas não se meta — resmungo, entediado. — Se o que o nosso pai faz não é interesse meu, imagine de uma menina birrenta como você.
— Menina birrenta como você. — Ela me imita com uma voz fina e debochada, na tentativa de me fazer perder o controle. — Quero ir para casa.
— Não, e esqueça esse assunto — falo de modo enfático, deixando bem claro que a conversa está encerrada.
— Conny... — Natalie começa novamente, demonstrando a incrível habilidade que possui de não ficar calada. — A mulher-passarinho apareceu de novo.
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SUA TERRA É MINHA
Horror🍁 Livro dedicado a Jake Bugg A estranha Folks Village é uma cidade doente, e o acontece na floresta que a cerca morre ali. Rodeados por uma misteriosa névoa, as árvores se erguem como um paredão escuro e sussurrante que nenhum machado jamais ousou...