Capítulo 1

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Maite Perroni.
Os minutos passavam rapidamente enquanto eu olhava mais uma vez para o relógio e encarava o meu reflexo no espelho... Eu estava pálida, tensa, os músculos do pescoço e das costas rígidos. Um frio na barriga e como sempre as borboletas saltavam no meu estômago. Senti o gosto amargo da bile subindo do meu estômago para o meu esôfago e joguei água no meu rosto e um pouco no pescoço, tentando me acalmar sem sucesso. Eu não gostava de voar de avião. Não mesmo. Na verdade eu tinha um certo pavor... De pé ali no banheiro feminino do Aeroporto Internacional do Arizona, observando o entra e sai de gente, eu respirava fundo recordando os últimos acontecimentos...
Se arrependimento matasse...
Suspirei. Eu tinha vindo a Tucson para visitar minha mãe Marcia que morava aqui desde o seu segundo casamento... E ela praticamente me intimara a ficar noiva de Daniel Arenas, um grande amigo de nossa família.
Suspirei novamente. Os meus pais eram divorciados, mas se davam bem, e Javier, meu pai, morava em Seattle, cidade do estado de Washington, onde também morava o pai de Dan, Bob Arenas, que era viúvo há mais de dez anos.
Daniel e eu crescemos juntos e éramos amigos desde crianças, quando fazíamos tortas e bolinhos de lama. Ele era bonito, sarado, tinha um sorriso lindo capaz de derreter corações e trabalhava no ramo das artes. Alto, cabelos e olhos negros, ele era extremamente charmoso... O sonho de muitas garotas definitivamente, mas não o meu.
Ele era formado em Artes Plásticas e muito talentoso. Em pouco tempo exercendo a profissão, havia se tornado sócio de uma grande e conceituada Galeria de Artes em Washington. Assim também aproveitava para divulgar o trabalho e o artesanato dos Arenas. O artesanato deles é simplesmente estupendo. Eu nunca vi esculturas tão bem feitas e detalhadas como as que eles criam.
Eu gostava de Daniel de verdade, mas não o amava. Ele era meu amigo, meu protetor, meu confidente e só. Eu sabia que ele nutria uma paixonite por mim desde a adolescência, mas nunca poderia corresponder da mesma forma, embora soubesse o quanto a nossa união agradaria nossas famílias.

Eu acreditava com todas as forças da minha alma e dos meus vinte e quatro anos, que em algum lugar aqui fora existia um homem destinado para mim... Um homem especial que faria os meus joelhos tremerem e o meu coração bater mais forte.
Suspirei, olhando com amargura o anel em meu dedo. Era lindo, mas eu não me sentia nem um pouco feliz... Pelo contrário. Eu tinha certeza absoluta que havia cometido um enorme erro ao concordar com aquilo.
Por que fui ceder às pressões irritantes e insistentes de Marcia?! Como me deixei convencer a ficar noiva de Daniel? ''Não adianta nada querer culpar os outros agora May'', me recriminei mentalmente.
Minha mãe... Ela nunca foi uma mãezona de verdade. Era infantil, meio doidinha, até inconseqüente às vezes. Eu sempre fui mais responsável, mais madura... A famosa inversão de papéis. Era eu quem tomava conta de tudo... até que um belo dia, fui morar com meu pai. Há essa hora com toda certeza, ela já devia estar na Europa...
Nós trabalhávamos com antiguidades... Bom, pelo menos tínhamos isso em comum, gostar de coisas antigas... E ela havia viajado hoje cedo para adquirir novas peças. Iria a Londres, Milão, Bruxelas e Roterdã. Minha mãe possuía um grande antiquário em um pequeno shopping numa área nobre de Tucson e eu, uma pequena e acolhedora loja em Seattle, perto dos meus amigos e é claro, do meu pai.
Se arrependimento matasse, eu estaria mortinha agora.
Suspirei mais uma vez... Quando eu abri o meu coração e disse a Marcia que estava esperando alguém especial para minha vida, que fizesse o meu coração bater mais forte com apenas um olhar, ela rira muito e desdenhara da minha pessoa dizendo que no mundo real esse tipo de amor não existia. Que como estava no segundo casamento, ela era a prova viva disso. E que eu era uma tonta e também uma romântica inveterada, e devia dar graças a Deus por Daniel gostar de mim e querer casar comigo, afinal um homem bonito e decente que queira assumir um compromisso sério hoje em dia é realmente uma coisa rara.

Aquelas palavras... E tudo mais que ela proferiu em seu acalorado discurso, funcionou como um balde de água fria sendo despejado em minha cabeça... Foi como uma violenta tapa no meu rosto... E agora eu me encontrava ali, prestes a embarcar num avião sozinha e noiva do meu melhor amigo de infância. Esse tipo de coisa só acontece comigo mesmo...
Literalmente a minha vida estava uma grande bagunça... Tudo de pernas para o ar... Mas eu ia dar um jeito. Assim que voltasse dessa viagem eu daria um jeito em tudo, mesmo sabendo o quanto ele iria sofrer com o rompimento... Eu amava Dan sim, mas apenas como um irmão. O meu coração se apertava por saber que o quanto eu iria magoá-lo...
Há três dias tínhamos ficados noivos e ontem à noite mesmo ele viajou para o Canadá, para adquirir novas peças para a galeria. Daniel vivia viajando... E eu estava prestes a embarcar para Phoenix, cidade situada ao sul do estado do Arizona, um fim de mundo, a pedido de Marcia é lógico, para olhar umas tapeçarias de uma pequena loja de antiguidades que iria fechar. A proprietária conhecia minha mãe há anos e mandara um email para ela avisando que estava se desfazendo da loja... e como sempre sobrou para mim.
Ouvi pelos auto falantes mais um chamado para o meu vôo. Enxuguei as mãos e o rosto apressada, tirei o anel do meu dedo com um nó na garganta e aguardei-o na minha bolsa, pois realmente não pretendia mais usá-lo e me apressei saindo do banheiro. Andando de cabeça baixa não vi um homem que estava bem à minha frente e esbarrei com força nas costas dele. Sentindo um arrepio estranho percorrer todo o meu corpo com o contato, fazendo com que o desconhecido derrubasse suas coisas no chão e eu ficasse morta de vergonha.
Me desculpe! Por favor, eu estava distraída e não vi você...

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